61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
ENSINO DE FÍSICA NO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL - DISCUTINDO AS ATIVIDADES DIDÁTICAS DA FÍSICA DO VÔO
Evelyn Marcia de Andrade 1
Eugenio Maria de França Ramos 2, 3
1. Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro – CEFET/RJ
2. Universidade Estadual Paulista – UNESP
3. Prof. Dr. - Orientandor
INTRODUÇÃO:

Relatamos neste trabalho a experiência didática realizada junto a uma classe de ensino fundamental, 4º ano, na qual se procurou introduzir e aprofundar alguns conceitos de física. Em geral, a disciplina de ciências ministrada no ensino fundamental possui maior enfoque na área de biologia, discutindo conceitos físicos superficialmente, embora o tema proposto – a física do vôo – conste no livro didático da classe em questão.

Tal atividade didática iniciou-se no âmbito da disciplina Prática de Ensino de Física e Estágio Supervisionado, da Licenciatura em Física do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), da UNESP, Campus de Rio Claro, SP. Um dos desafios didáticos da disciplina mencionada foi o de acompanhar as atividades didáticas de diferentes níveis escolares, tratando o ensino de Física até mesmo em faixas etárias onde os alunos não dominam ferramentas matemáticas e, em alguns casos, nem mesmo o código da língua portuguesa. O ensino de conhecimentos de Física nessas faixas etárias embora pareça inviável mostram-se desafiadores ao docente, uma vez que a falta de domínio da matemática e da língua portuguesa não impedem que os alunos sejam interessados, observadores e curiosos, qualidades que às vezes os levam à frente dos alunos do Nível Médio na interação didática.

 

METODOLOGIA:

Essa experiência didática foi realizada em uma escola municipal da cidade de Rio Claro no interior do estado de São Paulo, mais especificamente, em uma classe do 4º ano do ensino fundamental. Esta escola atende a um público diversificado, desde alunos provenientes de instituições de assistência social até alunos de classe média alta. Antes da realização das intervenções, houve um período de observação do ambiente da sala de aula, acompanhando atividades na Escola em questão. Posteriormente foi escolhido um tema de comum acordo com a docente responsável pela sala de aula, focando os princípios físicos do vôo. Um dos desafios do trabalho foi tornar temas naturalmente complexos e de difícil apreensão – relacionados ao princípio do vôo (pressão, hidrodinâmica) – em conhecimentos acessíveis a este nível escolar. Para enfrentar esta dificuldade didática, as intervenções utilizaram uma metodologia que estimulasse a curiosidade dos alunos, induzindo-os a se perguntar: “como o avião voa?”. Além disso, era necessário confeccionar objetos e brinquedos que proporcionassem maior interação das crianças com a temática proposta, ou seja, brinquedos que literalmente voassem, permitindo assim um contato visual e mais próximo com o fenômeno.

RESULTADOS:

De um lado consideramos no trabalho a transposição didática dos conhecimentos de física para esse nível escolar, uma tarefa que no início parecia inexeqüível e que, posteriormente, se mostrou viável e pedagogicamente desafiadora, seja no aprimoramento das atividades experimentais, seja no acompanhamento de eventuais questionamentos por parte dos estudantes dessa faixa etária.

As atividades abrangeram cerca de cinco aulas, tendo ocorrido uma por semana, com duração de cerca de uma hora cada. Foram organizadas sempre de maneira a envolver um material experimental de baixo custo, que fosse de fácil reprodução e permitisse com isso o acesso ao manuseio por parte de todos os alunos da turma. Além do manuseio de protótipos, foram organizadas discussões teóricas, sucedidas de explicações sobre os princípios físicos do vôo e do funcionamento dos materiais manuseados.

As aulas despertaram o interesse dos alunos, tendo aumentado visivelmente sua participação, seja na interação com os experimentos, seja nas discussões teóricas. Foi particularmente notável que alunos tidos inicialmente pela docente da sala como problemáticos, participaram ativamente junto aos demais e, inclusive, fizeram os deveres e tarefas de casa, pedidos durante as aulas.

CONCLUSÃO:

A convivência didática permitiu verificar que as crianças não são alheias ao tema proposto, uma vez que lembraram e comentaram que o conteúdo pressão atmosférica já havia sido apresentado em sala e era contemplado pelo livro didático.

Quanto ao conteúdo desenvolvido, não é possível afirmar com exatidão o grau de aprendizagem dos alunos em relação a estes conceitos que lhes foram apresentados, assim como o quanto este contato prévio lhes serão úteis futuramente. Consideramos que tais contatos possam auxiliar aprendizados futuros tomando por base para isso as idéias de Ausubel sobre aprendizagem significativa. No âmbito dos conceitos dessa teoria, consideramos que tais conhecimentos oferecidos aos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental possam servir de subsunçores, de forma consciente ou não, no contato com esses conhecimentos nos posteriores anos do Ensino Médio (EM).

Por outro lado, deve-se lembrar que muitos adolescentes, ao entrarem no EM já temem a disciplina Física mesmo sem conhecê-la adequadamente. O contato com atividades de física experimentais e qualitativas, tal como as implementadas, talvez possam colaborar na superação dessa visão e dessas barreiras, o que já se constituiria em avanço para o Ensino de Física.

 

Palavras-chave: Ensino Fundamental - séries iniciais, física do vôo, instrumentação para o Ensino de Física.