As toxinfecções alimentares são causadas por microrganismos patogênicos ocasionalmente presentes em alimentos ou por produtos de seu metabolismo, como as enterotoxinas. Frequentemente, os alimentos são contaminados durante o processo de manipulação ou devido às condições inadequadas de conservação. A cidade de Coari/AM está a 362 Km de Manaus. A principal via de acesso é o transporte fluvial. A população urbana é de 44.926 habitantes e o IDH é considerado médio (0,703). Apesar do município ter um dos mais elevados PIB per capita (R$ 14.124,00) da Região Norte, o serviço de saúde dispõe apenas de um hospital, caracterizado como sendo de média complexidade, e 11 unidades básicas de saúde. Neste município, a Vigilância Epidemiológica e o Núcleo de Vigilância Sanitária, ambos setores da Secretaria Municipal de Saúde, são responsáveis, respectivamente, pela coleta de informações e notificações das toxinfecções alimentares e outros agravos. Tais ocorrência são registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde, através de fichas de investigação de surto. O objetivo deste trabalho foi levantar os casos de toxinfecções alimentares nos últimos 5 anos, notificados no município de Coari através do sistema SINAM.

A obtenção de informações das toxinfecções alimentares ocorridas no período de 2004 a 2009 foram acessadas diretamente do banco de dados do SINAN, o que possibilitou a impressão das fichas de investigação de surtos e a posterior análise dos dados. Nestas fichas foram registradas informações tais como: o tipo do agravo ou doença; o número total de doentes ou de casos suspeitos; o local de ocorrência do surto; o modo provável de transmissão; sinais e sintomas; período de incubação; locais de produção, preparação e ingestão; fatores causais; amostras clínicas e bromatológicas; agente etiológico e o alimento causador do surto.

Foram encontradas apenas 3 fichas de investigação de surto referentes a toxinfecções alimentares no período considerado, sendo um surto no ano de 2007 e 2 surtos em 2008. No surto de 2007 houve notificação de 3 casos suspeitos, sendo o modo provável de transmissão, a forma indireta, ou seja, através do alimento contaminado, neste caso, o queijo quali, ingerido pelos 3 pacientes cerca de 1 a 2 horas antes do aparecimento dos sintomas. As análises clínicas e bromatológicas indicaram que se tratava de Staphylococcus aureus. No primeiro surto de 2008 foram notificados 40 casos suspeitos de toxinfecção alimentar em uma embarcação fluvial de transporte de passageiros entre as cidades de Coari e Manaus. Neste surto, as 5 amostras clínicas coletadas deram resultados positivos para Staphylococcus sp. coagulase positiva. Já nas análises bromatológicas, apenas uma foi positiva para este mesmo agente etiológico, sendo o queijo quali, também, o alimento causador da toxinfecção. No segundo surto de 2008, 18 casos foram notificados como suspeitos, destes foram coletadas 15 amostras clínicas, sendo 1 positiva para Salmonella sp. Não foram coletadas amostras bromatológicas.

Foram encontrados apenas 3 notificações de surtos de toxinfecções alimentares registrados nos últimos 5 anos no banco de dados do SINAN. Provavelmente, um número muito baixo, considerando as precárias condições higiênico-sanitárias desta região. Além disso, são comuns na cidade, relatos de pessoas que apresentaram sinais e sintomas de toxinfecções alimentares. Vale salientar, ainda, que uma grande parcela da população utiliza poços artesianos, onde a água não é tratada. Uma possível justificativa para o baixo número de notificações encontrado neste trabalho seria o fato da população não ter o hábito de recorrer aos serviços de saúde quando apresenta sintomas de uma toxinfecção alimentar. Outra suposição para este fato poderia ser a ausência de investigações clínicas dos casos isolados, uma vez que o Hospital Regional de Coari é o único do município e, portanto, não haveria disponibilidade de pessoal para atender a este tipo de investigação, exceto em situações de surtos. Mesmo os casos notificados apresentam vários campos nas fichas de notificação de surto, sem preenchimento. Neste cenário, é necessário que os serviços de saúde, promovam ações de atenção primária como campanhas educativas e de conscientização da população, com o objetivo de prevenir as toxinfecções alimentares.