O presente trabalho busca compreender como está sendo feita a introdução de novas tecnologias e meios de comunicação nas aldeias indígenas, bairros e comunidades em que atua o Centro de Mídia Independente de Tefé (CMI-Tefé) e quais as transformações que estão ocorrendo no decorrer desse processo. O CMI-Tefé é um coletivo horizontal e autônomo ligado a uma rede internacional conhecida como Indymedia, que se dedica à democratização da produção de notícias e da comunicação. O coletivo foi criado em 2006 por estudantes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e desde então tem atuado com uma rádio livre, um site de publicação aberta (http://xibe.radiolivre.org), software livre, jornalismo popular e produção áudio-visual. Este estudo abarca uma série de análises sobre a experiência dos voluntários do coletivo e dos grupos com os quais ele vem se envolvendo através de oficinas e outras atividades. Estes resultados são frutos de dois anos de atividades de pesquisa através da iniciação cientifica.

Para se atingir o objetivo traçado por esse trabalho foi feito o uso dos métodos de observação participante elaborado por Howrd S. Becker (1994), que trabalha com a inserção do pesquisador na vida cotidiana do grupo pesquisado, e a história oral de Paul Thompson (1992), que a define como um instrumento de democratização do passado, já que a mesma possibilita o registro das memórias de setores mais vastos da população. Entre as observações realizadas destacaremos aqui as realizadas em algumas oficinas, assembléias do movimento indígena e num curso de jornalismo popular. Foram também analisadas cinco histórias de vida colhidas entre os integrantes mais ativos no coletivo.

Ao analisar a trajetória dos voluntários do CMI-Tefé, verificamos que a participação no coletivo gerou mudanças em suas vidas ligadas ao aumento da participação política, do acesso a tecnologias, da sociabilidade (redução da timidez) e das oportunidades profissionais. Após analisarmos as transformações ocorridas com os membros do CMI, redirecionamos nossos olhares para os participantes dos cursos e oficinas realizadas pelo coletivo. Nas Assembléias do movimento indígena, a participação do CMI contribuiu para a maior difusão do movimento indígena e sua legitimidade através da Rádio Xibé, para o registro de suas atividades através de maquinas fotográficas e filmadoras que puderam ser compradas para o movimento através de projeto da UEA executado pelo CMI e, sobretudo, para o fortalecimento da organização do movimento através do uso destas tecnologias. No curso levado pelo CMI-Tefé ao município de Cantá (RR), através do Projeto Rondon, identificamos como processos desencadeados entre os participantes um interesse maior pelos estudos, por cursos e carreiras ligadas à mídia enquanto opção profissional, o estímulo ao associativismo (os moradores decidiram fundar uma associação para iniciar uma rádio comunitária) e a valorização dos conhecimentos e tecnologias já dominados localmente através, por exemplo, da construção de um mini-transmissor.

Comparando as dimensões abordadas nas várias etapas desta pesquisa, notamos que alguns processos são comuns a todas elas: os ganhos educativos, o acesso a tecnologias (ou valorização de tecnologias já existentes, como em Cantá) e, sobretudo, a maior participação política ou o fortalecimento organizativo. Enzensberger (1979) destaca que toda produção midiática que tenha por objetivo os interesses dos produtores pressupõe um método coletivo de produção, sendo assim uma forma de organização frente às necessidades sociais. Assim, verificamos que o trabalho desenvolvido pelo CMI-Tefé desencadeia processos virtuosos em que ganhos similares ocorrem para seus voluntários e para as populações envolvidas em suas ações. Estes ganhos, por sua vez, estão associados ao fortalecimento da organização local e da solidariedade entre os grupos.