As endemias tropicais constituem-se num grande problema de saúde na Amazônia. No caso da malária, anualmente são registrados cerca de 500 a 600 mil casos, existindo áreas em que a intensidade de transmissão da doença é muito maior. Este fato está relacionado às condições ambientais da Amazônia que, pelo fato de ser uma região tropical, favorecem o desenvolvimento dos mosquitos vetores em alta densidade. Soma-se a isto ainda, as grandes alterações ambientais da região decorrentes dos pulsos das enchentes e da vazante. Estas alterações são cíclicas e desencadeiam processos que se repetem anualmente. Em contrapartida, trata-se de um sistema muito frágil e que as alterações decorrentes de mudanças ambientais atingem o sistema biológico, tendo consequência na transmissão da malária.Dentre as mudanças ambientais causadas por ações antrópicas ressalta-se empreendimentos como exploração de  petróleo. Áreas próximas onde se instalam comunidades foram alvo dos estudos neste trabalho da dinâmica de transmissão da malária para avaliação dos pontos vulneráveis na cadeia do ciclo de transmissão, servindo de base para as indicações das ações de controle desses vetores.  Desta forma, uma grande contribuição foi o monitoramento da densidade de anofelinos e as correlações destes com as mudanças ambientais–climáticas, quanto às oscilações dos casos dessa doença veiculada, nas áreas de monitoramento. Este monitoramento foi a base para as contribuições dos conhecimentos científicos nas diferentes linhas de processos adaptativos na região amazônica e que tem importância na qualidade de vida das populações humanas desta região.

Os dados de freqüências dos mosquitos foram analisados comparando-se os resultados encontrados no início da série histórica (2004) e os obtidos  em 2008. Observa-se sobre o principal vetor da malária, o Anopheles darlingi, no início do projeto que essa espécie ocorreu em baixa densidade (27 exemplares) e em 2008 os valores aumentaram para 162, ambos ocorrendo na fase de vazante (jun/jul) do rio. Considerando-se o período de grande seca, no ano de 2005, a incidência dessa espécie aumentou (204 exemplares) na época de vazante, oscilando no ano seguinte com 113 exemplares coletados. Mas, a maior incidência de A. darlingi nessa série histórica ocorreu em 2007, quando as águas aumentaram seus níveis antecipadamente aos registrados anteriores,  com 359 exemplares coletados na vazante, fato este também foi observado para outras espécies colecionadas no mesmo ano.  

Anopheles darlingi ao longo da série histórica oscilou de forma crescente quanto a sua presença na área das comunidades estudadas mas, predominou no ano de 2007 no período da vazante. Esta modificação na densidade do Anopheles darlingi foi correlacionada com alterações do ambiente decorrente de mudanças climáticas globais. Entender a dinâmica de transmissão da malária nestas áreas constitui a base para a aplicação das medidas de controle, considerando a necessidade de uma melhor qualidade de vida nestas comunidades.