61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
Ribeirinhos do Purus: uma população tradicional em foco
Thales Maximiliano Ravena Cañete 1
Voyner Ravena Cañete 2
Nirvia Ravena 1
Romulo de Sousa 1
Uriens Ravena Cañete 2
1. Universidada Federal do Pará, Nucleao de Altos Estudos da Amazonia/UFPA, NAEA
2. Universidade da Amazonia/ UNAMA
INTRODUÇÃO:

Este trabalho faz parte do projeto “Gestão das águas na Amazônia: peculiaridades e desafios no contexto sócio-político regional da bacia do rio Purus” que compõe a sub-rede “Os efeitos das intervenções antrópicas na Bacia do Purus: análise das relações entre as funções ambientais, atores sociais e gestão das águas na Amazônia Legal”(CNPq/PPG7). Apresentando os resultados parciais da pesquisa, seu objetivo central está relacionado à descrição das relações na interação social entre as populações tradicionais do médio Purus, situado na Amazônia Brasileira, e sua interface com os recursos hídricos da área.

Constituindo 85% do total do território amazônico, a Amazônia brasileira é integrada pelos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, além de parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Sua área é de 5,2 milhões de km² , correspondente a 61% do território nacional, com 16, 5 milhões de habitantes, configurando 12% da população do país e apresentando uma densidade demográfica de 3,2 habitantes/km² apenas (SIVAM, 2006).

O rio Purus configura-se como um dos afluentes do rio Amazonas e está localizado ao sudoeste da região amazônica. A área percorrida por este rio ainda é bastante despovoada apresentando poucas cidades, sendo estas de pequeno porte. Como exemplo é possível citar Lábrea e Canutãma, duas cidades limites no lócus deste trabalho.
METODOLOGIA:

2. METODOLOGIA

A estratégia metodológica adotada optou pela abordagem qualitativa e quantitativa junto à população tradicional, agregada a uma a análise da capacidade institucional dos municípios.

Foram realizadas três viagens a campo, com a duração média de 10 a 15 dias para cada uma. A primeira e a segunda viagem tiveram um caráter de “survey”. Na primeira foi pesquisada a realidade da população tradicional, enquanto que a segunda encarregou-se das instituições, em especial os municípios. Na terceira a atenção foi voltada para a Unidade de Conservação Abufari, uma das maiores do Brasil.

A coleta de dados se deu através de entrevistas feitas com atores sociais representantes da gestão municipal, além de pessoas de importância local. Foi realizada a aplicação de questionários junto à população ribeirinha, a observação direta de algumas atividades diárias da população ademais das informações detalhadas no caderno de campo.

RESULTADOS:
É possível verificar diversos atores sociais interagindo no Médio Purus. Entre tais atores as populações tradicionais[1], especificamente suas práticas de reprodução socioeconômica e cultural, constituem-se como foco deste trabalho. Durante a pesquisa averiguou-se que o perfil da população local está diretamente relacionado ao ciclo das águas na região. O calendário anual das atividades produtivas dessas populações encontra-se diretamente relacionado ao ambiente. As atividades de subsistência refletem a dinâmica do rio, já que as escolhas para o período dessas atividades estão relacionadas aos movimentos de enchente (outubro a fevereiro), cheia (março a maio), vazante (junho a julho), e seca (agosto a setembro).

Diante dos dados é possível inferir que a realidade da população está permeada de abundância, sendo esta também no sentido de atores e perfis sociais existentes. Conseqüentemente as estratégias de reprodução social também serão em grande número e diversificadas.



[1] A definição de populações tradicionais demanda uma discussão a parte. No momento é suficiente usar (LIMA ; ALENCAR 2000) como referência.

CONCLUSÃO:

Resulta, então, que a população tradicional do rio Purus não apresenta uma homogeneidade no seu processo de reprodução social, pois não se pode dizer que essa população apenas pesca, ou que pesca e planta, ou que apenas planta. Tais atividades dependem da localização da comunidade, o que definirá onde a mesma irá plantar, pescar, extrair matéria-prima da floresta, ora para consumo, ora para o comércio, migrar para a cidade em função da cheia, etc. Enfim, são inúmeras as estratégias de sobrevivência empregadas pela população tradicional pesquisada. Este grande número de estratégias se dá em função da dinâmica que o rio Purus apresenta. Explica-se: os períodos de enchente, cheia, vazante e seca do rio influenciam nas escolhas da população local. É possível verificar este fato também nas diferenças existentes entre as comunidades, visto que algumas são construídas em cima de palafitas, outras se apresentam em forma de flutuantes, outras encontram-se em terra firme ou na várzea, etc.

Percebe-se, então, as inúmeras estratégias de sobrevivência utilizadas pela população tradicional para driblar as dificuldades às quais estão submetidas, sendo que o rio tem um importante papel dentro deste cenário, ora como protagonista ajudando essa população com o peixe ou transformando-se no seu local de morada; ora como antagonista sendo o responsável por cheias devastadoras ou secas violentas.

Instituição de Fomento: CNPq/PPG7
Palavras-chave: Ribeirinhos, Populações Tradicionais, Rio Purus.