61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 5. Matemática - 6. Matemática
A GEOMETRIA E A ALDEIA DOS KOKAMAS NA BARREIRA DAS MISSÕES EM TEFE-AM: ESTUDO DE CASO
Tatiana Gaion Malosso 1
Marilza Marinho da Silva 2
1. Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Profa. Mestre, orientadora
2. Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pós-graduanda
INTRODUÇÃO:
O processo de colonização da Amazônia Ocidental brasileira pelos portugueses é marcado pelo contato direto com os indígenas que aqui habitavam. O município de Tefé é o mais importante devido a sua localização geográfica. Nesse sentido, várias etnias indígenas deslocaram-se para a região (1718) (Pessoa, 2004). Mais tarde, os kambebas, ticunas e komamas instalaram-se na região da Barreira das Missões e dividiram-se em 4 aldeias: Barreira da Missão de Cima e Barreira da Missão do Meio (etnia ticuna), Betel (kambeba) e Barreira da Missão de Baixo (kokama). Esta última, além de ter valor histórico, já que foi um dos primeiros lugares habitados de Tefé, é também o objeto de estudo. Os índios dessa etnia, ao longo dos anos, foram perdendo valores tradicionais, e acredita-se que com uma educação diferenciada, estes valores e hábitos possam ser resgatados. Sabe-se que a educação indígena é alvo de intensas discussões e que as questões dominantes são qualidade do ensino, metodologia e valores culturais, por isso o pioneirismo deste trabalho se justifica junto a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no Centro de Estudos Superiores de Tefé (CEST) e, com essa pesquisa, pretende-se identificar o sentimento dos alunos em relação à geometria como componente curricular na escolar indígena.
METODOLOGIA:
Devido às lacunas existentes sobre o tema em estudo, foram realizadas, em um primeiro momento, entrevistas informais com a liderança e moradores da Aldeia Barreira da Missão de Baixo, em Tefé-AM. Na segunda etapa, um questionário com 5 itens de múltipla escolha, referentes à visão dos alunos em relação à geometria, foi aplicado a um total de 21 alunos dos 6º e 7º anos, turno vespertino, na Escola Municipal Indígena Santa Cruz. O trabalho baseou-se em uma abordagem etnográfica, com idas periódicas a aldeia, que propiciaram vários registros fotográficos e os dados obtidos foram tratados à luz da Estatística. A recepção por parte do tuxaua foi excelente, no entanto, as dificuldades geográficas de acesso à aldeia foram os maiores desafios encontrados durante o desenvolvimento. Como a aldeia está localizada na zona rural, na margem direita do rio Solimões, foram gastos, aproximadamente, 30 minutos de lancha (“voadeira”) e, como o terreno da aldeia é em terra firme, houve a necessidade de vencer, aproximadamente, 200 degraus que formam uma subida quase vertical, durante a seca amazônica.
RESULTADOS:
A atual população da Aldeia da Barreira da Missão de Baixo é de 227 habitantes divididos em 36 casas totalizando 38 famílias, conforme informação do Tuxaua, Sr. Cristóvão Cordeiro Alves. Em relação à pesquisa pedagógica, observou-se que 86% dos alunos afirmaram gostar de estudar Matemática. Sobre as dificuldades sentidas no aprendizado de geometria, 57% informaram que sentem algum tipo de dificuldade contra 38% que responderam à questão de forma negativa. Quando questionados sobre o fato de que o professor poderia ensinar a geometria de outra maneira além da tradicional, 90% optaram de forma favorável. E como outra forma de ensino, 32% afirmam que atividades fora da sala de aula seriam o método mais interessante. A Aldeia Kokama oferece um amplo campo de pesquisa que pode proporcionar um estudo mais eficaz da geometria. Finalmente, quando questionados sobre em qual idioma eles gostariam que as aulas de geometria fossem ministradas, 67% optaram pela língua indígena, contra 23% que afirmaram que não gostariam que as aulas fossem na língua mãe e 10% dos participantes preferiram não optar.
CONCLUSÃO:
O dialeto kokama é o tupi, um dos mais conhecidos e usados por outras etnias na região amazônica. A Aldeia da Barreira da Missão de Baixo, até pela sua localização geográfica, vem sofrendo um processo a aculturação acelerado. Os índios kokama não só estão abrindo mão do dialeto, mas de outros importantes valores culturais que envolvem desde de danças típicas e o desconhecimento dos significados das pinturas feitas sobre o corpo (figuras geométricas), até o uso de ervas e plantas na sua medicina tradicional. Tais fatos mostram que esse processo silencioso de aculturação vem transformando a rotina da sociedade indígena kokama e os números comprovam que embora tenham consciência da necessidade da educação formal, os alunos não escondem a tristeza com o desaparecimentos de tradições, hábitos e costumes centenários.
Palavras-chave: Aldeia da Barreira da Missão de Baixo (Kokama), Geometria Indígema, Tefé-Amazonas.