61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
DOR E PRAZER: AS ORIGENS DO SADISMO
Ranny Cabrera 1
Paulo Roberto Monteiro Araujo 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCH (IC)
2. Prof. Dr. - Universidade Presbiterina Mackenzie - CCL (Orientador)
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa teve por objetivo mostrar que o sadismo, termo usado para designar o prazer que se obtêm diante da dor alheia; pode ser resultado de construções culturais que se apresentam em um horizonte considerado decadente em relação ao projeto Iluminista de amadurecimento da racionalidade humana. Deste modo, abordamos conceitos tais como memória e esquecimento, na perspectiva de Nietzsche, pulsões de vida e de morte a partir da psicanálise freudiana e, por fim, analisamos o conto “A causa secreta”, de Machado de Assis, à luz de tais conceitos, tornando assim possível uma interdisciplinaridade teórica entre a Filosofia, a Psicanálise e a Literatura.

METODOLOGIA:

O método utilizado é a análise bibliográfica, pela qual delineamos as principais obras nas quais nossas hipóteses se embasaram. Deste modo, como se trata de uma pesquisa qualitativa, buscamos na leitura e interpretação das obras: Genealogia da Moral, de Friedrich Nietzsche, O Mal-estar na Civilização, de Sigmund Freud, entre outras, reconhecer os conceitos e fundamentos que deram subsídios para a nossa investigação. Posteriormente, relacionamos as idéias a fim de sintetizá-las e fazer uma leitura analítica do conto "A Causa Secreta", de Machado de Assis.

RESULTADOS:

Segundo a crítica nietzschiana, a cultura moderna é uma cultura da decadência, visto que estabelece valores que resultam em uma forma de hostilidade diante da vida ao invés de afirmá-la. Por outro lado, em uma outra vertente teórica, Freud nos mostra que o conceito de pulsão (Eros e Thanatos) nos possibilita visualizar duas instâncias conflituosas no indivíduo, a saber: o conflito interno e o conflito com o mundo exterior. Em outros termos, ao destacarmos as exigências impostas pela cultura e a necessidade de restrição instintiva para que houvesse a civilização, pudemos verificar que existe uma luta ambivalente no âmbito subjetivo que é intensificada pelas imposições da vida comunal, uma vez que o homem ao sentir-se mais seguro em sociedade teve de instituir, simultaneamente, valores artificiais que cerceassem seus impulsos naturais. Todavia, cabe ressaltar, que tais valores à medida que se baseiam em ideais de perfeição inatingíveis, como propunha o ideal iluminista, os conflitos que por si só são inerentes à condição humana encontram um horizonte propício para desumanização, visto que não se apóiam em construções culturais, verdadeiramente, significativas.

CONCLUSÃO:

O conflito verificado nas pulsões de vida e de morte nos levou à conexão em relação à crítica nietzschiana dos valores decadentes, no sentido de o indivíduo expressá-los por meio do sadismo como fenômeno ao mesmo tempo individual e social. Nesse sentido, nossa pesquisa procurou evidenciar que as origens do sadismo ou de quaisquer manifestações violentas, cuja crueldade aparenta uma desumanização do homem estariam na não observância do antagonismo existente entre Dor e Prazer, isto é, na indiferença diante da dinâmica contraditória que subsidia os fenômenos essencialmente humanos. Assim, acreditamos ter obtido o resultado almejado, ou seja, abrimos a possibilidade para esclarecer conceitualmente o quê é em sua determinação mesma é desumano, pois ao investigarmos as formas de violência culturais, ampliamos a reflexão acerca das causas por trás das quais residem os efeitos destrutivos. Por conseguinte, mostramos a importância de analisar a problemática referente ao sadismo, tendo em vista que verificamos na relação entre dor e prazer não apenas as origens do sadismo, mas, sobretudo, as origens de todo conflito humano.

Instituição de Fomento: PIBIC CNPq
Palavras-chave: pulsão freudiana, crítica cultural, sadismo em Machado de Assis.