61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
AQUISIÇÃO DA ESCRITA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E POSSÍVEIS CAUSAS DE VARIAÇÕES ORTOGRÁFICAS
Rosiane Amorim de Castro 1
Mauricio Neubson Medeiros Gonçalves 1
1. Universidade Federal do Pará / UFPA
INTRODUÇÃO:

muitos anos observam-se os esforços dos estudiosos da linguagem, tanto no sentido de entender quanto de explicar as variações e desvios na fala ou escrita da forma considerada pela tradição gramatical normativa, culta. Geralmente nota-se a não comunhão de idéias entre linguístas e gramáticos e suas teorias de esclarecimento desses fenômenos observados em indivíduos letrados e essencialmente não letrados.

Na visão da gramática tradicional os desvios da norma padrão, escrita ou falada, são erros. Para os estudiosos em Linguística, podem ser variações aceitáveis, vistos que uma língua está constantemente submetida a mudanças, pois esta é algo vivo,é o que confirma Cagliare (1997), “A vida de uma língua está na fala”, por mais que tradicionalmente tenha-se a idéia de fazer a fala um reflexo da escrita normativa, esta por ser individual e por critérios fonológicos, psicológicos, sociais, entre outros, se transforma e evolui sem que possamos controlar.

Um dos objetivos desta pesquisa é analisar a escrita do aluno de acordo com sua vivencia e debater se o processo de letramento visa às condições de comunicação e interação entre indivíduos ou a apenas aquisição das normas e regras expostas na gramática da língua portuguesa.

METODOLOGIA:

Através da analise de uma redação feita por um aluno de 5ª série da rede municipal de ensino de Altamira, situada a oeste do Pará, na segunda disciplina de Lingüística da grade curricular do curso Licenciatura Plena em Letras da UFPA, na turma de 2007, texto este elaborado para um concurso de redação que se realiza nesta cidade, nota-se desde o titulo equívocos na ortografia de algumas palavras, o texto é intitulado “A renovacão do bosci”, uma variação de “A renovação do bosque” possivelmente pelo fato de no português brasileiro haver 33 fonemas diante de 23 representações gráficas destes fonemas, as quais chamamos letras. Para Bechara “Essa falta de identidade entre os fonemas e as formas de representá-los na escrita, leva a inúmeras imperfeições”. Com a observação do texto já referido (A renovação do bosci) fica claro, além da confusão na utilização de determinados fonemas, certa despreocupação com a ortografia, pois se percebe o esquecimento da cedilha no C de renovação, além de outros aspectos que demonstram a aparente não reelaboração textual.

RESULTADOS:

No momento da escrita da palavra BOSQUE, o aluno grafa BOSCI, esta variação lingüística pode ter ocorrido por vários aspectos:

  1. O fato do E no átono no fim de palavras tornar-se, geralmente I na pronuncia de grande parte dos brasileiros. Podendo assim refletir na escrita;
  2. A utilização de C em lugar de QU em BOSCI deve-se pelo fato provável da pronuncia da “família” do C : CA, CE, CI, CO, CU – foneticamente /KA/,/SE/,/SI/,/KO/,/KU/- esta mudança fonologica pode causar confusão em indivíduos com tempo razoável de letramento e essencialmente nos que ainda iniciam sua interação com a leitura e escrita;
  3. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é a utilização fonética do K, nas transcrições, em muitos casos para designar tanto QU quanto C, pois estes por vezes se equivalem em vários enunciados, exemplos disto são as palavras QUANDO /KWÃDU/ e CASA /KAZA/. O mesmo ocorre quando ao invés de QUISER o aluno grafa CISER, em outro momento do texto.

A palavra JOGUE se apresenta sem a semivogal U, decorrente hipoteticamente do uso do G no português tanto como Jê(Geladeira) quanto como Guê(Gato)assemelhando-se assim com o segundo fonema da palavra acima, que além disso em transcrição fonética pode apresentar-se /joge/.

CONCLUSÃO:

Um aspecto que fica claro mediante os questionamentos, analise e pesquisa é que: para um individuo que se inicia no processo de aquisição da escrita as regras gramaticais e ortográficas são postas em segundo plano, visto que neste período a fala é o maior influente, tendo um papel de base. Entretanto todos os “erros” notados se revelam sentenças ou contextos totalmente possíveis do ponto de vista fonológico, é como vem corroborar Cagliari(1997) quando diz “A forma escrita pelo aluno pode chocar a quem só sabe ver através da ortografia, mas para um foneticista apresenta algo preciso e correto”.

As variações ortográficas se assemelhando em alguns aspectos, distinguem-se de acordo com o contexto sócio-cultural em que aluno está inserido, pois a escrita também reflete a maneira de falar de um povo. Toma-se a hipótese de um aluno do sul do Brasil escrever palavra BOSQUE no mesmo contexto, provavelmente seria com E no fim, pois é característica desta região marcar o E em enunciados que estes se apresentam finais (bosce).

Por fim vários aspectos se interligam durante o processo de letramento, muitas variações são aceitáveis e podem refletir acertos, não se pode deixar de considerar a fala durante este processo sendo que esta será o espelho do alfabetizando.

Palavras-chave: Ortografia, Fonética, Norma Padrão Culta. .