61ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa |
AS ENTIDADES DA FLORESTA: o imaginário do seringueiro acreano |
Márcia Verônica Ramos de Macêdo 1 Meyrelene Ramos de Macêdo 2 |
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC 2. SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO |
INTRODUÇÃO: |
O estudo AS ENTIDADES DA FLORESTA: o imaginário do seringueiro acreano propõe uma descrição física e psicológica dos seres lendários da floresta amazônica visando contribuir com o folclore da região. Além disso, propõe a classificação morfológica e lexical de 135 palavras encontradas nos textos tomando por base a classificação e a definição de alguns dicionários da Língua Portuguesa e um dicionário etimológico. Tem por objetivo efetuar um resgate à pesquisa dialectológica do Norte do Brasil, especificamente no Estado do Acre, cujo trabalho pioneiro deu-se na Universidade Federal do Acre no início da década de 1990, junto ao Centro de Estudos Dialectológicos do Acre – CEDAC. Esta pesquisa tem uma relevância enorme, haja vista os parcos trabalhos escritos sobre o tema, merecendo destaque as estórias registradas pelo saudoso escritor Hélio Melo em seus modestos livros. Nesse sentido, é necessário o registro das estórias orais e lendárias para que, no futuro, demonstrem as crenças dos “heróis da borracha” e espelhe o modo de vida desses homens no interior da floresta amazônica. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa de campo foi realizada entre os anos de |
RESULTADOS: |
No ano de 2007 as autoras apresentaram o projeto As lendas da floresta contadas por seringueiros acreano à lei de Incentivo à Cultura no Estado do Acre e conseguiram a publicação de um livro que, das 300 estórias revistas, conseguiu reunir cinquenta e oito estórias das entidades da floresta amazônica, entre as quais citam-se: Caboclinho da Mata, Caipora, Mãe d’Água, Mãe da Mata, Mãe da Seringueira e Mapinguari. O objetivo desta proposta era o de disponibilizar aos professores das redes estadual e municipal de ensino e à clientela estudantil, em geral, estórias próprias da região amazônica contadas in locu por homens e mulheres acreanas que nunca saíram do seringal, que viveram ou ouviram contar as fabulosas narrações. Com a feitura dos textos e a publicação do livro, partiu-se para o estudo desta comunicação AS ENTIDADES DA FLORESTA: o imaginário do seringueiro acreano acerca das descrições física e psicológica das seis entidades lendárias da Amazônia retratadas no livro citado. O Caboclinho da Mata, por exemplo, é uma entidade da floresta, protetora dos animais, que assusta os caçadores quando estes estão caçando e/ou maltratando os animais. Para eles, o Caipora é o mesmo “Caboclim”. Ele é pequeno, de cabelos compridos até o chão, um “meninozinho”, sapeca e danado. A Mãe-da-Seringueira, por sua vez, é uma figura muito temida pelos seringueiros. Ela é alta, de cabelos compridos, e protege as árvores da seringa e pune os que a maltratam. O Mapinguari, de todos, é o mais assustador. Ele é bastante alto e feio, não tem as juntas e costuma comer as pessoas. “É um bicho, uma fera”. Mas, tem-se a suavidade da Mãe-d’ Água, que é uma entidade bonita, de cabelos longos, vive nos rios e protege as águas. E a Mãe-da-Mata que protege a caça assim como o Caboclinho. Com a coleta dos dados pode-se obter um total de 135 lexias significativas sobre o tema estudado entre verbos, substantivos, adjetivos e advérbios e algumas expressões nas quais se fez o levantamento do significado de acordo com a descrição do informante e num contexto específico. Os resultados demonstram que das seis entidades estudadas a do Caboclinho da Mata é a mais representativa com 23 ocorrências, sendo 10 na faixa 1 ( |
CONCLUSÃO: |
Diante do exposto, percebeu-se que as estórias lendárias são um resgate à memória do povo acreano que tanto sofreu e sofre as peculiaridades dos seringais, das colocações, dos longínquos lugares que habitam, muitas vezes sem lazer, educação e condições de saúde adequadas. A experiência é única pelo fato de os informantes acreditam em seres imaginários que lhes dão o dom da oralidade, e um presente aos leitores por poderem compartilhar de suas vivências e resgatar as lendas próprias da Amazônia. Para as professoras valeu o esforço deste resgate histórico, quando de suas viagens às Zonas demarcadas para a pesquisa, junto aos seringais, aos portos das localidades, nas colocações, estradas, andando a pé, de barco, de canoa, passando apuros, fome, sede, frio e com as inúmeras picada dos carapanãs. Além da dificuldade de encontrar os informantes da faixa 1, sobretudo os do sexo feminino para realizarem as entrevistas. Para se chegar a essas conclusões, além dos referencias citados, imprescindível foi o referencial teórico de Câmara Cascudo, um dos maiores folcloristas e historiadores do Brasil. No entanto, nos ficou devendo uma pesquisa mais detalhada sobre as figuras lendárias que descrevemos neste estudo e específica da região norte. Pesquisa essa cujo corpus faz parte do acerco do projeto CEDAC, desenvolvido na Universidade Federal do Acre há 20 anos, aproximadamente. É certo que há, ainda muito por se pesquisar. |
Palavras-chave: DIALETOLOGIA, LEXICOLOGIA, FOLCLORE. |