61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
TOLERÂNCIA DE Mycobacterium massiliense, ISOLADAS DE SURTO DO RIO DE JANEIRO, AO GLUTARALDEÍDO A 2%
Aline da Silva Soares Souto 1
Rafael da Silva Duarte 2
Bruna Peres Sabagh 1
Maria Cristina Lourenço 3
Neide Hiromi Tokumaru Miyazaki 1
1. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde-INCQS/ Fiocruz
2. Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ/Lab. Micobactérias
3. Instituto de Pesquisa Evandro Chagas-IPEC/ Fiocruz
INTRODUÇÃO:
Entre as principais espécies de micobactérias de crescimento rápido (MCR) relacionadas às doenças no homem encontram-se Mycobacterium abscessus, Mycobacterium chelonae and Mycobacterium fortuitum. Em 2006 Mycobacterium massiliense foi reconhecida como uma nova espécie, separada assim do grupo M. chelonae - M.abscessus até então pertencentes. O crescente número de publicações científicas abordando desde infecções localizadas até doenças mais graves sugere que esses microrganismos podem ser considerados como patógenos emergentes, sendo responsáveis por surtos de doenças em todo o mundo. A não evidência de transmissão de MCR de pessoa a pessoa tem levado a proposição de que a infecção ocorre a partir de fontes ambientais como no caso de artigos médicos, podendo sobreviver em equipamentos desinfetados de forma inadequada, que ao serem utilizados constituiriam etiologias de subseqüentes infecções nosocomiais. O objetivo deste estudo foi avaliar a suscetibilidade de MCR frente a três desinfetante a base de glutaraldeído a 2% através do método preconizado pela Association of Official Analytical Chemists (AOAC), e que encontra-se descrito no POP INCQS nº 65.3210.004 (Método Confirmatório para avaliação da atividade micobactericida de desinfetantes).
METODOLOGIA:
M. massiliense (CRM-0001, CRM-0002, CRM-0018, CRM-0019 e CRM-0020), M. chelonae ATCC 35752, M. fortuitum ATCC 6841, M. abscessus ATCC 19977 e M. bovis BCG Moreau foram utilizados frente a três produtos, sendo dois desinfetantes comerciais à base de glutaraldeído a 2% do mesmo fabricante, de lotes de fabricação diferentes (A e A1) ativados imediatamente antes do uso, e um glutaraldeído a 2% pronto para uso (B). Na avaliação da qualidade do desinfetante, cilindros foram contaminados com M. bovis, colocados em contato com o desinfetante e transferidos para meios de cultura, os quais foram inicialmente incubados durante 60 dias a 37ºC e, caso não tivesse sido observado qualquer crescimento ou, crescimento tênue tivesse sido observado, foram incubados por 30 dias adicionais. O ensaio para verificar a suscetibilidade de MCR aos desinfetantes foi realizado conforme descrito acima empregando as cepas ATCC de referência e os 5 isolados clínicos de M. massiliense.
RESULTADOS:

Na avaliação da qualidade do desinfetante nenhum dos três produtos foi capaz de destruir a M. bovis cepa BCG Moreau, verificando-se heterogeneidade no número de tubos que apresentaram crescimento e, se fosse uma análise oficial a amostra do produto teria sido considerada insatisfatória já que os resultados microbiológicos não estão de acordo com os critérios estabelecidos pelo método. Na avaliação da suscetibilidade de MCR ao desinfetante verificou-se que o produto A foi capaz de destruir M. chelonae ATCC 35752. Os produtos A1 e B foram capazes de destruir tanto M. fortuitum ATCC 6841 quanto M. chelonae ATCC 35752. Nenhum dos 3 desinfetantes foi eficaz contra os 5 isolados clínicos de M. massiliense. De acordo com os resultados, observou-se que M. fortuitum não teve um perfil homogêneo de comportamento em relação aos biocidas, o que pode ser notado quando apresentou ser tolerante ao produto A e sensível tanto ao A1 quanto ao B, lembrando que A e A1 são fabricados pela mesma empresa, diferindo no número do lote. 

CONCLUSÃO:
A homogeneidade nos resultados do comportamento de M. massiliense frente aos três desinfetantes indica uma maior tolerância desse microrganismo ao glutaraldeído a 2% quando comparada às cepas de referência de MCR e à M. bovis, esta última, até o momento, utilizada como o microrganismo de referência na metodologia oficial para a avaliação da eficácia desse tipo de produto. A emergência de vários surtos por M. massiliense em diferentes regiões do Brasil leva-nos a chamar a atenção ao potencial comportamento de desenvolvimento de tolerância ao biocida por essas bactérias, já que pertencem a um mesmo clone. O fato dos surtos por M. massiliense poderem estar relacionados a alta tolerância ao glutaraldeído a 2% indica que M. massiliense deveria ser incluída no método oficial para avaliação da atividade micobactericida, recomendação já discutida com a ANVISA. Além da comprovação da qualidade do desinfetante, outro fator importante refere-se aos procedimentos de limpeza e desinfecção adequados evitando a formação de biofilmes em artigos médicos o qual acarretaria em desinfecção inapropriada, já que os biofilmes podem proteger os organismos do biocida impossibilitando a penetração e ação dos mesmos.
Instituição de Fomento: Organização Panamericana de Saúde/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária (OPAS/ANVISA)
Palavras-chave: Mycobacterium massiliense, Glutaraldeído, Tolerância.