61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 4. Educação Artística
ARTE CONTEMPORÂNEA E IDOSO: RESSIGNIFICANDO MODOS DE VIDA
Danilo Bezerra de Souza 1
Gisele Dozono Asanuma 2
Elizabeth Araújo Lima 3
Sylvio da Cunha Coutinho 4
1. USP Universidade de São Paulo/Escola de Comunicação e Artes/Dept.Artes Plásticas
2. USP/Faculdade de Medicina/Lab. de Pesquisa Arte e Corpo em Terapia Ocupacional
3. USP/Faculdade de Medicina/Dept Fisioterapia Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional
4. USP/Museu de Arte Contemporânea /Divisão Técnico-Científica de Educação e Arte
INTRODUÇÃO:
O programa Lazer com Arte para Terceira Idade, realizado pela Divisão Técnico-Científica de Educação e Arte do Museu de Arte Contemporânea da USP e coordenado pelo educador Sylvio da Cunha Coutinho desde 1989, pretende aproximar o público idoso à arte contemporânea através de uma programação focada na experimentação plástico-conceitual, valendo-se tanto da tradição técnica clássica e moderna quanto das novas mídias e novos procedimentos, numa concepção pós-moderna; entremeada de visitas a exposições, elaboração de seminários e grupos de estudos sobre obras e artistas, encontro com artistas, espetáculos, debates e uma exposição ao final do ano. O programa é estruturado em aulas semanais num período de um ano, atualmente constituído por três turmas distribuídas nas terças, quartas e quintas-feiras. A presente pesquisa configura-se de uma análise sistemática interdisciplinar a partir do acompanhamento constante especificamente das turmas de terças-feiras do referido programa nos anos de 2004 a 2009.
METODOLOGIA:
A partir de uma análise qualitativa do objeto de estudo, produzimos e coletamos dados constituídos por relatórios descritivos, diários de campo, registros fotográficos, trabalhos plásticos dos participantes e conversas avaliativas. O caráter crítico-colaborativo da pesquisa valeu-se da “metodologia qualitativa”, da “observação participativa” e da “pesquisa ação”, associada a conceitos da saúde, pedagogia e ciências sociais, inerentes a arte-educação e terapia ocupacional. “A pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.” (Michel Jean-Marie Thiollent)
RESULTADOS:
A partir das premissas teóricas adotadas a pesquisa produziu: (1) relatórios avaliativos e avaliação continuada, diretamente relacionada com (2) a proposição de atividades plástico-sensório-terapêuticas a partir de referências artísticas relacionadas ao corpo, coletividade e expressão individual de idéias, possibilitando a abertura de canais criativos e da disponibilidade dos participantes. Podemos destacar como resultado da “pesquisa ação” a desconstrução do “grupo identitário” do idoso frente ao objetivo artístico-poético, fazendo com que fosse (3) criado um grupo heterogêneo, chamado Poéticas Visuais em Interação, nos dias de quartas-feiras, cuja proposta não está pautada no critério etário, mas sim na disposição e interesse em arte. Cabe esclarecer que mesmo nas terças e quintas-feiras, onde todos os participantes têm mais que 60 anos de idade, as propostas de aula e as atividades não se firmam sobre problemas do que se convencionou chamar de “terceira idade” e sim nas problemáticas da contemporaneidade entre elas, inclusive, a idealização e as expectativas sobre o idoso. O perfil do grupo nestes últimos anos foi se modificando, já que os idosos (do grupo observado) se restringem cada vez menos a grupos socialmente determinados, como os aposentados que buscam um ofício para a ocupação do tempo ocioso ou donas de casa viúvas que cuidam dos “netinhos”. Constatamos que a busca por esse curso de arte está mais relacionada com o interesse de ampliar conhecimento e participação na sociedade, nos circuitos culturais e qualificar os processos de vida.
CONCLUSÃO:
(1) A tentativa de “atualização” expressiva e intelectual dos participantes nem sempre é bem sucedida, uma vez que a criação em arte é muitas vezes permeada por angústias, incertezas e, consideráveis vezes, por falta de sentido, quando não se cria vínculo entre a vida dos participantes (idosos) e a elaboração de expressões plásticas. (2) O idoso, no entanto, é tratado como ser capaz e potencialmente produtivo, numa tentativa de superar a discriminação do idoso na sociedade, combatendo indiretamente o imaginário social sobre a velhice que relega a eles espaços simbólicos de atuação socialmente desvalorizados ou associados à morte, descanso e estagnação. Os fatores de desmotivação constatados (apontados no primeiro tópico da conclusão) poderão ser repensados para a prática de ensino a partir da reflexão crítica sobre a relação complexa e, às vezes, conflituosa entre da arte e sociedade, sobretudo na especificidade polêmica da chamada arte contemporânea, culturalmente localizada nos processos de legitimação, institucionalização (ou tentativa de institucionalização) e historicamente dissociada do público leigo. A vinculação da arte ao cotidiano e as histórias de vida podem vir a ser uma importante premissas para o desenvolvimento do programa Lazer com Arte para Terceira Idade. Essa pesquisa auxiliará no aprimoramento das estratégias do referido programa, ao qual, no presente momento colaboramos, no sentido de aumentar a relação entre a bagagem cultural e experiência de vida dos idosos com as experimentações e elaborações de propostas artísticas (Jonw Dewey, Ana Mae Barbosa, Fernando Hernández). A partir da compreensão da invenção social da velhice e da ampliação do conceito de arte e saúde, analisamos a formação desse grupo, que se constituiu bastante fortalecido, sobretudo na descoberta de potências adormecidas por modos de vida pré-estabelecidos por padrões sociais.
Instituição de Fomento: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da USP / MAC USP/ Laboratório de Estudos e Pesquisas Arte e Corpo em Terapia Ocupacional PACTO - FMUSP
Palavras-chave: idoso, arte, experiência contemporânea.