61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 7. Fisiologia - 5. Fisiologia
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CONTAMINAÇÃO DE ÓLEO DIESEL NO COMPORTAMENTO E GENOTOXIDADE DE Pterophyllum scalare (Lichtenstein ,1823) (OSTEICHTHYES:CICHLIDAE)
NÍVIA PIRES LOPES 1
CAMILA DE SOUZA PAULA 1
1. CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE/UNINORTE
INTRODUÇÃO:
  Os rios da Amazônia são constantemente navegados por embarcações, inclusive barcos de transporte de petróleo e seus derivados, mas esses trajetos podem ocorrer muitos acidentes ambientais de derramamento de petróleo e seus derivados, ocorrendo assim, a contaminação de quilômetros de extensão pelo contaminante. Essas contaminações podem trazer muitos problemas para os ecossistemas aquáticos e causar um grande desequilíbrio ambiental para milhares de comunidades de peixes, macrófitas e microorganismos presentes nos rios. O óleo quando derramado fica retido na superfície da coluna d’água, limitando a penetração de luz, tendo assim, um efeito direto na disponibilidade de oxigênio existente no meio aquático.

Muitos desses animais apresentam características de adaptação a esses acidentes ambientais, pois a exposição ao contaminante os peixes apresentam ajustes típicos de animais expostos à hipóxia, onde ajustam diversos parâmetros fisiológicos no sentido de uma melhor tranferência de oxigênio para os tecidos, como por exemplo, o tambaqui (Colossoma macropomum), quando presente em ambiente hipoxico expande o lábio inferior, usado para usufruir do oxigênio presente na camada superficial da coluna d’água, com mais oxigênio, e repassa esse oxigênio para as brânquias.

Neste contexto, o presente trabalho avaliou os efeitos do contaminante óleo diesel no comportamento, em alguns parâmetros fisiológicos e a presença ou não de danos genotóxicos nas células sanguíneas dos peixes; esse tipo de estudo contribui para futuras avaliações da alteração do meio ambiente frente ao aumento do uso dos derivados do petróleo, sendo possível avaliar os possíveis danos ecotoxicologicos. Mesmo que o ambiente amazônico ainda não apresente níveis alarmantes de poluição, a formação de um banco de dados que auxiliem aos dirigentes e tomadores de decisões no intuito de utilizar o meio ambiente de forma racional sem causar danos a sua fauna entre outros, podendo dessa forma preservar um dos maiores ecossistemas amazônico.

METODOLOGIA:
 

Antes de cada exposição os peixes foram aclimatados por um período de 48 horas, em aquários de 80 L com aeração constante. Os peixes foram alimentados diariamente com ração comercial da ALCON Basic (50g) com 8% de proteína bruta. Foram usados seis indivíduos de P. scalare com peso médio de 14,9±2,4g e 6,7±0,9cm de comprimento para cada exposição e condicionados em um aquário de 80L com quadriculados de 10X10 cm na parte frontal do mesmo. A concentração utilizada para todas as análises foi determinada pelo cálculo da área composta de água do aquário.

As analises de comportamento foram feitas por meio de filmagens de vídeo com câmera mini DV, com duração de 15 minutos cada sessão. Os períodos de filmagem de comportamento foram determinados em intervalos de 24, 48, 17 e 96 horas. Os comportamentos observados foram locomoção, agressividade e fuga.


Danos ao material genético

Anormalidades Nucleares Eritrocíticas (ANE),

Para o teste das anormalidades nucleares eritrocíticas (micronúcleo, núcleo lobado, núcleo segmentado e núcleo em forma de rim), foi preparado esfregaços sanguíneos em lâminas de vidro e fixados em metanol 100% por 10 minutos. As lâminas foram secas a uma temperatura ambiente e coradas, posteriormente foram lidas em microscópio ótico.


Ensaio cometa

Para a detecção de alterações genotóxicas o Ensaio Cometa (EC) (“Single Cell Gel electrophoresis”) foi utilizada técnica descrita em Silva e Erdtmann (2004).


Analise dos dados

Os resultados obtidos foram expressos como média e erro padrão da média (SEM). Os resultados dos parâmetros analisados sob exposição foram submetidos a uma análise de variância (ANOVA, two way). Havendo indicação de existência de diferença significativa em nível de 5%, foi aplicado o teste de Tukey para discriminação das diferenças.

RESULTADOS:
  O comportamento agressivo característico de P.scalare foi quantificado com a diminuição do número de “bicadas” na boca, na lateral do corpo e na calda, onde foram identificadas alterações comportamentais significativas a partir de 6 horas da exposição ao óleo diesel, onde os peixes permaneceram sem a manifestação do comportamento agressivo

Comportamento de fuga


O comportamento de fuga do agente estressor até a superfície do aquário foi realizado para verificar a dinâmica do comportamento respiratório usado por alguns peixes quando se encontram em ambientes de contaminação aguda ou hipóxia, onde os mesmos procuram a coluna d’água para uma tentativa de fuga. No presente estudo observamos alterações no tempo controle e no tempo 0, já no tempo 3 houve um grande aumento de subidas, o que veio a diminuir em 6, 24 e 48 horas, onde os peixes passaram por um processo de ajustes comportamentais ao novo ambiente,uma vez que não havia como fugir do óleo.


Para observar o comportamento de locomoção, foi usada a quantificação por quadrantes, onde foi contado o número de quadrantes ocupados por cada indivíduo contido no aquário. Em comparação com o grupo controle os animais expostos diminuíram da locomoção no decorrer dos tempos observados, chegando a diminuir já no tempo 0 e diminuir bruscamente nos tempos 24 e 48 horas

Nos estudos de danos genéticos feitos por meio das Anormalidades Nucleares Eritrocíticas (ANE) e do Ensaio Cometa, verificamos em ambos os casos aumento no número de danos ao material genético nos animais expostos ao óleo diesel.

 

CONCLUSÃO:
 
  • O comportamento de agressividade é reduzido nas primeiras três horas com a presença do agente estressor, pode ter como consequência pode ocorrer a redução de reposição da espécie na natureza;

  • Com a presença do óleo diesel há uma diminuição da locomoção da espécie da alimentação e um aumento do comportamento de fuga, o que na natureza pode vir a trazer muitos problemas para a espécie com um possível acidente por petróleo ou seus derivados;

  • A exposição ao contaminate pode causar anormalidades às células eritrocíticas, assim como, lesões na estrutura do DNA.


Palavras-chave: óleo diesel, toxicologia, Pterophyllum scalare.