61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
ARQUIVOS ESCOLARES, MEMÓRIA E HISTÓRIA
Jacqueline de Fatima dos Santos Morais 1, 2
Camila Albuquerque da Cruz Mira 1
1. Faculdade de Formação de Professores da UERJ
2. CAp-UERJ
INTRODUÇÃO:

O trabalho ARQUIVOS ESCOLARES, MEMÓRIA E HISTÓRIA é resultado de uma pesquisa que envolve dois grupos de pesquisa e duas unidades da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: A Faculdade de Formação de Professores e o Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. Nossas ações possuem como objetivo o resgate da história do Instituto de Aplicação da UERJ, a partir das narrativas docentes e discentes, e o fortalecimento de um espaço onde as memórias destes sujeitos possam ser conservadas - um centro de memória escolar. O resgate das memórias, e portanto das histórias dos sujeitos da escola, cria um movimento de reconhecimento destes como principais narradores da própria história. A busca pela rememoração do vivido pelos sujeitos através da narrativa, tem permitido a reflexão sobre a própria história e sobre a importância e necessidade de registrar e organizar os registros da história vivida e narrada. Temos buscado a articulação desta pesquisa também com a docência e ações de extensão nas unidades envolvidas na pesquisa. A sistematização dos registros da memória escolar e das práticas dos sujeitos nos parece de fundamental importância, constituindo uma relevante justificativa neste projeto, pois que contribui não só para a história da educação mas em especial para a dimensão pesquisadora da formação docente. O desenvolvimento de espaços de memória institucional traz a necessidade de problematizarmos nossa história, sistematizando reflexões, organizando registros, materiais diversos, com intuito de dar certa organicidade à memória e, portanto, a história, sem esquecer também que os dados gerados durante a investigação precisam ser de acesso a todos os interessados, ficando disponível em lugar adequado. Assim organizado em Centro de Memória, o acesso de outros sujeitos à história do CAp-UERJ - pesquisadores, professores, alunos, familiares - pode representar um avanço na construção e socialização de um material que não se perpetua como privado mas que amplia seus usos e funções para outros sujeitos. Em um tempo onde o pouco valor das experiências vividas, onde a rapidez, o imediatismo e a alienação parecem imperar, querer partilhar histórias, experiências, acontecimentos, parece significar agir a contrapelo: buscar um outro tempo e um outro lugar. Um tempo que permite a lentidão das palavras, da respiração entre as frases ditas, tempo que possibilita durante os diálogos o fiar ou o tecer (Benjamin, 1985: 205), tempo de compartilhar – de partilhar com o outro. Vivemos um momento contraditório: se por um lado o tempo acelerado parece convidar ao esquecimento pelo novo que nasce, ao sepultamento das micro-narrativas em favor das macro-narrativas, ao silenciamento das experiências e apagamento das pequenas ações cotidianas dos sujeitos, por outro parecemos viver a intensa necessidade de salvarmos do esquecimento aquilo que nos passa. A idéia de nosso projeto de pesquisa busca contribuir para a construção de um núcleo de memória do CAp, a partir das idéias desenvolvidas pelo Projeto Vozes da Educação: Memória e História das Escolas e São Gonçalo, projeto do qual fazemos parte como integrantes e pesquisadoras. O Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp/UERJ – historicamente vem se destacando por sua atuação na educação básica, servindo de referência a práticas docentes e políticas públicas em todo o estado do Rio de Janeiro, especialmente no que se refere a alfabetização, entendida esta como de natureza contra-hegemônica. As professoras do CAp-UERJ têm, ao longo do tempo, afirmado que a natureza de seu trabalho pedagógico é pautado no respeito aos saberes discentes, nos usos e funções sociais dos objetos de conhecimento tratados na escola, na diversidade cultural, na interação e dialogicidade. Um conjunto de materiais pedagógicos tem sido produzido ao longo do tempo mas a inexistência até o momento de um lugar onde possam ser guardados e disponibilizados, tem gerado dispersão e destruição dos materiais.

METODOLOGIA:

Quando compartilhamos memórias e experiências que são pessoais porque vividas por nós mas que são, ao mesmo tempo, coletivas, além de mobilizarmos conteúdos que são individuais, acordamos sentidos construídos na vida coletiva, sentidos que são nossos mas são, ao mesmo tempo, de nosso tempo e lugar. Sentidos rebeldes, sentidos moventes, sentidos de vida e do trabalho. A questão que atravessa a proposta desta pesquisa, portanto, leva à busca de caminhos que possibilitem a compreensão dos percursos de constituição da história do CAp. Benjamin nos ajuda neste processo de reflexão pois para ele a centralidade da narrativa e da linguagem se sobrepõe na medida em que é na linguagem e pela linguagem que podemos romper com o homem coisificado. Na medida em que, narrando, não resumimos nossa vida a vivências - algo imediato e momentâneo, onde o “homem de hoje não cultiva o que pode ser abreviado” (p.206). Ao narrar tornamos nossas experiências comunicáveis, rompendo com a instantaneidade e ressignificando-a. Assim, vamos buscar na história oral nossa metodologia. A narrativa desencadeia um processo de rememoração que torna a troca de experiência possível. Não se trata de reviver o passado mas de ressignifica-lo. Buscamos em fontes documentais (oficiais e não oficiais) e fontes orais o material para o resgate das histórias e memórias do CAp. Estamos realizando várias entrevistas com os professores selecionados e gravamos em vídeo e áudio os depoimentos. O foco metodológico centra-se na micro-história, no cotidiano, nas dinâmicas do local, mas sem esquecer das relações com a macro-história. Nas pesquisas na área da Educação a História Oral tem tido uma importância crescente. No decorrer das últimas décadas têm sido desenvolvidos estudos que colocam em cheque os documentos como indicadores da verdadeira versão da história. As narrativas têm figurado como um importante instrumento de pesquisa no campo da educação.

RESULTADOS:

Todo o movimento desencadeado pela rememoração da história do CAp-UERJ se constitui como um momento não só de compreensão do passado mas de redimensionar o passado a partir do presente também ressignificado. É neste sentido que o Centro de Memória do CAp-UERJ está sendo criado: como lugar de memória. Não apenas como espaço de reconstrução da historia da instituição, mas sobretudo de busca da identidade da escola. Assim sendo, a memória é por nós entendida como um fenômeno construído coletivamente, isto é, um fenômeno coletivo e social. Pierre Nora ao problematizar a diferença entre história e memória, elabora a noção de lugares de memória — museus, arquivos, bibliotecas - como espaço onde subsiste a consciência comemorativa de uma história acelerada que muda incessantemente sob a ameaça do esquecimento. Portanto, lugar de memória é o espaço de presenciar o momento histórico em que vivemos na fronteira entre o que éramos e o que somos. Assim, o trabalho a partir da narrativa de professores abre-se não só como possibilidade de compreensão dos percursos formativos mas torna-se em si uma experiência formadora. O projeto de pesquisa que desenvolvo no CAp-UERJ tem por objetivo propor o resgate da história do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, através das narrativas de diferentes sujeitos que a ajudaram a escrever. Um resgate que tem nos possibilitado ir ao encontro de um percurso histórico permeado por tensões, conflitos, encontros, desencontros, avanços, recuos e que tem nos revelado a luta desta unidade pela construção de uma escola pública de qualidade. A história precisa ser narrada para não ser esquecida, como diria Walter Benjamin. A centralidade nas vozes dos sujeitos que construíram a história, professores, pais e alunos, a problematização da história passada e presente, a prospecção desta para o futuro são dimensões que a proposta de um projeto de pesquisa como este sobre a historia do CAp tenta contemplar. Assim, temos conseguido: resgatar a história do CAp-UERJ através das narrativas dos sujeitos que a construíram, professores, pais e alunos, em diálogo com as fontes documentais, disponibilizando esse acervo para os interessados. Temos também conseguido envolver os sujeitos no resgate de sua própria história. Já fizemos um levantamento de materiais documentais e de diferentes tipos a respeito da história do CAp. Estamos fortalecendo o Centro de Memória no CAp-UERJ, já instalado na escola, a partir dos materiais recolhidos.

CONCLUSÃO:
A criação de um espaço de investigação desta natureza potencializa e fortalece a criação de ambientes mais favoráveis à produção de práticas docentes emancipatórias, pois permite a elaboração coletiva do conhecimento e a proposição também coletiva de alternativas para a própria realidade pois que a investigação proposta estará se dando no interior da unidade de ensino mas em diálogo com dois grupos de pesquisa e portanto, duas unidades da UERJ - CAp e FFP – o que indicia nosso desejo por aproximações e parcerias. Resgatar a história do CAp-UERJ através das narrativas dos sujeitos que a construíram, professores, pais e alunos, em diálogo com as fontes documentais, disponibilizando esse acervo para os interessados. É preciso, portanto, apostar na possibilidade da escola se entender como lugar de memória e portanto de história.

Instituição de Fomento: FAPERJ
Palavras-chave: Arquivo escolar, educação básica, memória escolar.