61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
MULTIFUNCIONALIDADE E OCUPAÇÃO URBANA – ESTUDO DE CASO DO CONJUNTO NACIONAL E PARQUE CIDADE JARDIM
Melina Cesar Gama Pereira 1
Denise Antonucci Capelo 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - FAU (IC)
2. Profª. Drª. - Universidade Presbiteriana Mackenzie - FAU (Orientadora)
INTRODUÇÃO:
O conceito de multifuncionalidade e a adoção de um tecido urbano assumidamente fragmentado pontuam as considerações do urbanismo contemporâneo e estão amplamente assimilados, sendo encarados como conseqüência da necessidade de diversidade urbana pautada pelo convívio e conflito positivo de funções distintas desempenhadas simultaneamente. Neste âmbito, o interesse pela edificação multifuncional com seu programa flexível e integrador, sua pesquisa, estudo e análise apresentam-se como contribuições necessárias para entendimento e posicionamento crítico da condição urbana atual. Pretende-se, além de contextualizar a evolução urbana na cidade de São Paulo, compreender as transformações urbanas que modificam continuamente o tecido urbano acirrando as disputas e tensões por meio da segregação do território. Não há pretensão de se praticar uma defesa imparcial da multifuncionalidade, mas sim, aprofundar os conhecimentos sobre este modelo e conseqüentemente possibilitar a discussão crítica de sua adoção em regiões da cidade, usando como referências, duas obras emblemáticas: o Conjunto Nacional e o Parque Cidade Jardim que, construídos em épocas distintas, guardam similaridades e disparidades significativas.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi o levantamento de dados secundários disponíveis em documentos, publicações e sítios eletrônicos e de dados primários, na forma de levantamentos in loco dos casos estudados e entrevistas com usuários, agentes produtores e responsáveis por políticas municipais incentivadoras do uso misto, posteriormente foi feita a sistematização dos dados já mencionados, análise e discussão das informações obtidas, em contraponto com as obras selecionadas para servirem de comparação entre os dois modelos e períodos da produção multifuncional paulista. As informações disponíveis sobre as obras contemplam, quando possível, autor do projeto, características da implantação do edifício, tipologia, documentação técnica e iconográfica, memoriais, croquis, além de se fazer uma análise teórica dos edifícios em termos históricos, urbanísticos e conceituais, relacionando as mesmas com os processos de inserção urbana observando a escala da cidade e a integração entre público e privado, a escala do usuário, as transformações formais, modificações e propostas diferenciadas de usos adequadas às demandas atuais.
RESULTADOS:
Percebeu-se que ambos empreendimentos foram projetados para servirem de endereço a uma parcela da elite paulistana e estão dispostos em centralidades fabricadas –  Avenida Paulista e Marginal Pinheiros, pela pressão das rápidas transformações dos padrões produtivos, atendem às novas relações de produção, no sentido de renovar o potencial de investimento imobiliário e de negócios na cidade – e são vendidos, propagados e anunciados com argumentos (guardadas as diferenças contextuais e culturais devido ao tempo que separa as duas edificações) de certa forma similares pelos empreendedores imobiliários e grande mídia. Por outro lado é perceptível que as diferenças de trato na integração do edifício ao meio urbano e na apropriação do espaço térreo da quadra multifuncional, dá-se de forma diferenciada, bem como no estilo arquitetônico adotado totalmente distinto de uma obra para outra. O trato com o espaço privado de uso coletivo, não podia ser mais dispare, um projeto é a antítese do outro. Enquanto no Conjunto Nacional há busca pela manifestação da vida urbana pelo uso coletivo e inovação estética, o Cidade Jardim deturpa essa manifestação convertendo, a mesma, em mero produto imobiliário e não apresenta qualquer comprometimento formal além da adoção de um padrão estético aprovado.
CONCLUSÃO:
A análise dos dois empreendimentos leva a algumas considerações que refletem as questões previamente levantadas no embasamento teórico da pesquisa. O fato de ambos poderem ser caracterizados enquanto edifícios multifuncionais (já que abrigam diferentes usos e funções) e similaridades de contexto sócio econômico (mesmo sendo produções de épocas distintas – 50 anos separam os dois projetos) são seus únicos aspectos comuns. As disparidades ficam claras em diversos momentos, nos quais a arquitetura, a apropriação do espaço e dinâmica urbana refletem o posicionamento dos agentes urbanos perante a cidade. As oportunidades de produção de centralidades integradoras e polivalentes, constituídas por tecidos urbanos heterogêneos, social e funcionalmente, podem garantir um território articulado e democrático, palco da diversidade e vivacidade urbana, características observadas no Conjunto Nacional, porém ausentes e suprimidas no Parque Cidade Jardim.
Instituição de Fomento: PIBIC Mackenzie
Palavras-chave: multifuncionalidade, ocupação urbana, espaço público.