61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
CADEIA PÚBLICA FEMININA DE BOA VISTA/RR: MECANISMO CONCRETO DE EXCLUSÕES
Suellen Level da Costa 1
1. Universidade Federal de Roraima
INTRODUÇÃO:
Este trabalho baseia-se numa pesquisa realizada na Cadeia Pública Feminina de Boa Vista – Roraima -, o qual foi apresentado na disciplina Sociologia Rural, sob orientação da professora Joani Lyra, no semestre 2008.2, na UFRR. O objetivo geral dessa pesquisa foi fazer um levantamento sobre a origem das presidiárias, se estas nasceram no campo ou na cidade, e, a partir disso, discutir aspectos socioeconômicos relacionados com o crescente número de presidiárias, uma vez que mais de 90% dessas foram presas devido ao envolvimento com o tráfico de drogas. Há muito, a marginalização do homem do campo, e isso inclui mulheres, vem sendo discutida, inclusive no meio acadêmico. O processo de expulsão desses atores sociais se iniciou na década de 50, com o processo de modernização do meio rural (SILVA, 2004), ou seja, o êxodo rural se deu na medida em que o sistema capitalista se expandiu para o campo. Analogamente, como reflexo destas exclusões – sociais, culturais, econômicas, políticas, entre outras - surgem mecanismos que legitimam uma segregação socioeconômica, às vezes simbólica, às vezes concreta, como é o caso das Cadeias e Penitenciárias, pois, pesquisas confirmam que a população carcerária corresponde, em sua maioria, a pobres.
METODOLOGIA:
A pesquisa teve três etapas: 1. aula presencial, na qual foram abordados alguns teóricos da questão agrária, principalmente no Brasil; 2. Pesquisa de campo, onde foi aplicado questionário misto com 21 questões a 45 presidiárias que o responderam de forma aleatória e voluntária. A pergunta principal era saber se as presidiárias: a) nasceram na cidade, sendo que seus pais também nasceram na cidade; b) nasceram no campo ou c) nasceram na cidade, mas seus pais nasceram no campo. E, a partir desse levantamento, 3. diálogo com os teóricos abordados em sala de aula, através de um artigo, o qual foi apresentado no final do semestre.
RESULTADOS:
Em relação ao número de presidiárias, em julho de 2008, segundo uma pesquisa anterior, o total era de 120 mulheres. Em dezembro, do mesmo ano, a média correspondeu a 140 detentas. Desta forma, em apenas 5 meses, o percentual de mulheres presas aumentou mais de 16% e, quase 100% desse acréscimo corresponde ao envolvimento com o tráfico de drogas. De acordo com os resultados dos questionários referentes à questão sobre a origem das presidiárias, verificou-se que, 21 delas nasceram na cidade, sendo que 8 nasceram em Boa Vista-RR; 12 nasceram no interior e 12 nasceram na cidade, mas os pais nasceram no interior (entenda-se meio rural). Como podemos observar, a cidade é o lugar de origem de mais de 73% das detentas, das quais 46% dos pais são originários do meio urbano.
CONCLUSÃO:
Através desta pesquisa, pode-se concluir que é necessário se pensar uma nova forma de abordagem que não a oposição “naturalizada” entre campo X cidade. No entanto, tal oposição deve ser compreendida dentro de um processo histórico no qual a marginalização do campo é um efeito de um sistema excludente e não causa da exclusão. Portanto, a cidade cria seus próprios mecanismos de exclusões sociais, culturais, políticas, econômicas, entre outras. Ou seja, o processo de marginalização é dinâmico e está embutido nas relações sociais que se estabelecem dentro da lógica capitalista. Nessa perspectiva, a cidade não representa uma vantagem automática em relação ao campo, aquela, por sua vez, tem formas próprias de estratificação, exclusão social. É fato que o êxodo rural trouxe uma grande massa de pessoas pobres para as cidades, entretanto, isso é característico de um processo histórico, no qual a modernização no campo excluiu trabalhadores rurais e camponeses pobres do processo de desenvolvimento. No entanto, atualmente “a cidade”, pautada na mesma lógica marginal, produz suas próprias misérias e violências, e a Cadeia Pública Feminina de Boa Vista é um, dentre outros, mecanismo concreto de exclusões.
Palavras-chave: Cadeia Pública Feminina de Boa Vista/RR, Campo X Cidade, Mecanismo concreto de exclusões.