Este trabalho tem por objetivo compreender o uso de plantas medicinais por Camponeses assentados no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim/Manaus-AM. O uso de plantas representa um fator importante no Modo de Vida dos Camponeses, ou seja, “o que produzem e a forma como produzem” (Marx;1932), e isto se intensifica a partir da ineficiência do serviço de saúde pública que funciona apenas uma vez por mês dentro do assentamento. Este fato faz com que os camponeses recorram ao etnoconhecimento do uso das plantas, no tratamento das doenças e para a comercialização.

O Projeto de Assentamento Tarumã Mirim está localizado entre as bacias hidrográficas Tarumã Mirim e Tarumã Açu, tem acesso via Ramal do Pau Rosa, BR – 174( km 21) e por via fluvial pelo Igarapé Tarumã Mirim, no município de Manaus.

Para o entendimento da inter-relação do sistema produtivo e unidade territorial de trabalho familiar (lote) onde o “camponês é o produtor direto de mercadoria e dono dos meios de produção” (Santos; 1984). Utilizamos o conceito de Modo de Vida baseado em Marx (1932)” e que envolve a reprodução das relações sociais de produção, isto é, as relações constitutivas da sociedade capitalista (Lefebvre: 1974). Foram realizadas entrevistas durante trabalhos de campo, utilizando questionário aberto, para identificarmos quais as principais plantas utilizadas pelos camponeses no assentamento. Após a sistematização dos dados, foi gerado um gráfico das plantas mais usadas tanto para o consumo no lote como para a comercialização nas feiras. 

Essas informações são de extrema relevância e podem servir de base para a criação de políticas públicas direcionadas para a gestão de espaços rurais.

O uso de plantas nativas e de plantas cultivadas no lote refletem as formas de resolução de problemas de saúde, espirituais e econômicos. A pesquisa foi pautada em identificar quais as plantas, e seus usos para entender e analisar o modo de vida camponês e as influências sobre a paisagem, onde, “se esbozan las más auténticas creaciones, los estilos y formas de vida que enlazam los gestos y palabras corrientes com la cultura” (Lefebvre;1978). Assim, o modo de vida camponês está estreitamente vinculado a sua relação de reprodução social, onde as plantas cultivadas representam um elemento essencial para a sua existência enquanto classe camponesa, pois as técnicas empregadas e os modos de uso da terra são elementos que apontam para a racionalidade camponesa de conservação da natureza enquanto fator de sua reprodução social e cultural, pois a cultura conforme Claval (2007) é a “herança transmitida de uma geração a outra” e leva em conta a diversidade humana dos grupos e dos territórios e também os processos de comunicação que os ameaçam e os constituem (Staszak: 2003).  As plantas medicinais fazem parte da realidade cultural, de consumo e da contabilidade camponesa, pois na comercialização das plantas, principalmente nas feiras da cidade de Manaus ou através de encomendas, os camponeses  sua renda, assim as plantas detém uma dupla importância na produção camponesa: como valor de uso e como valor de troca, pois a geografia também se interessa pela dimensão cultural das organizações espaciais  e pela dimensão espacial dos fenômenos da cultura (Brunet: 2005).

Portanto, o modo de vida camponês está estreitamente vinculado a sua relação de sobrevivência, onde as plantas cultivadas pelos assentados representam um elemento essencial para a sua reprodução enquanto classe camponesa, pois as técnicas empregadas e os modos de uso da terra são elementos que apontam para a racionalidade camponesa de conservação da natureza enquanto fator de sua reprodução social e cultural.