61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
DA RACIONALIDADE TÉCNICA A UMA PERSPECTIVA CUBISTA: O CURRÍCULO DE CIÊNCIAS E SEUS DEVANEIOS PEDAGÓGICOS FRENTE AS ESCOLAS MUNICIPAIS DA ZONA LESTE DE MANAUS
Saulo Vieira Cavalcante da Silva 1, 2, 3
Maria Lúcia Elena de Oliveira 3, 4
Gabriel Rodrigues do Nascimento 1, 2
José Pedro Cordeiro 1
1. Universidade Federal do Amazonas
2. Universidade do Estado do Amazonas
3. Secretaria Municipal de Educação de Manaus
4. Casa Mamãe Margarida / Inspetoria Laura Vicunã
INTRODUÇÃO:
Este trabalho surge no anseio de expor ao leitor-educador um repensar crítico acerca da ciência, do currículo e de suas relações com a situação pessoal e social de risco das crianças da zona leste de Manaus, a fim de divulgar a comunidade acadêmica e aos demais interessados o resultado de uma pesquisa efetuada, refletida e questionada a partir de uma parceria entre a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas e a Obra Social Casa Mamãe Margarida, contribuindo para o desenvolvimento do Grupo de Pesquisa Estação Ciência, na linha de História e Ensino de Ciências, mas especificamente, estabelecendo um debate reflexivo, complexo e sério diante as preocupações, concepções e problemáticas surgidas neste campo. Portanto, alinhavamos como objetivo, compreender a relação existente entre o currículo de ciências e a realidade exposta nas escolas municipais da zona leste da cidade de Manaus, de forma a entender a historicidade desta relação e construir devaneios pedagógicos que possam se tornar objetos palpáveis diante o resultado da ação educativa.
METODOLOGIA:
O trabalho se constituiu em um único momento de análise e compreensão dos dados, integrando a pesquisa bibliográfica com a pesquisa de campo, pois acreditamos que para haver sistematização do conhecimento não é necessário dividi-lo em “caixas” de informação, mas entrelaçar relações num trafego contínuo e plural. Utilizamos a abordagem etnográfica por meio de uma perspectiva dialética, considerando o contexto sócio-econômico dos sujeitos e suas histórias de vida. Os procedimentos arquitetados surgiram na tentativa de efetivar uma análise quantiqualitativa, no intuito de visualizar estatísticas quanto a realidade social observada e de provocar uma avaliação dos dados a partir da vivencia dos sujeitos, ações registradas por meio de fichamentos, resumos, questionários, entrevistas e observações intensas de toda comunidade educativa, entre professores, familiares, crianças e demais compostos de toda ação que as rodeiam, obtendo como base uma escola pública municipal e uma obra social salesiana que possui convênio educacional com a Prefeitura Municipal, juntas atendem mais de onze bairros da região e uma média de 1.000 alunos, sendo que nossa pesquisa restringiu-se aqueles pertencentes ao 4º e 5º ano do Ensino Fundamental, ou seja, 95 alunos numa faixa etária entre 9 a 12 anos.
RESULTADOS:
Diante a investigação pôde-se verificar que 95% dos sujeitos pesquisados pertencem há uma situação pessoal e social de risco o que confirma as hipóteses estabelecidas e que nos fundamenta para a necessidade de um olhar diferenciado quanto ao ensino de ciências e seu currículo. Através da pesquisa comprovamos o quanto o Ensino de Ciências ainda possui um “abismo” entre o real e o ideal, de acordo com Delizoicov (2002) este ensino ainda ocorre pela mera transmissão mecânica de informações que só reforçam o distanciamento das teorias para a compreensão dos fenômenos. Segundo a aluna X “[...] a gente estuda é pra passar, o professor fala e a gente anota pra colocar igual na prova [...]”, infelizmente este é o cenário que ainda sobrevive apesar da luta compromissada de alguns educadores, para Zanon [et al] in: Galiazzi (org). (2007) o nosso estudante não se interessa pelo currículo escolar devido a sua linearidade, sua fragmentação e descontextualização, o que o impede de envolver-se ativamente nas aprendizagens, nem sempre significativas e socialmente relevantes. Sendo assim, procuramos considerar e lutar por práticas que trazem em sua essência uma perspectiva “cubista”, que ofereça um olhar em diferentes perspectivas, e que de forma “reconstrutiva” (GALIAZZI, 2007) contribua para a formação de verdadeiros cientistas.
CONCLUSÃO:
Utilizando-se de uma reflexão acerca do processo vivenciado, estabelecemos um arcabouço de conhecimento que propicia convergências valorosas com os autores da área, contribuindo ainda, para um caminho de transformação do ensino, pelo menos inicialmente, nas duas instituições onde se constituiu a pesquisa. Nossas considerações caminham para uma concordância com o pensamento de Menengola (1998) ao afirmar que o currículo é constituído por todos os atos da vida de uma pessoa, sem restrição as paredes da escola e muito menos sua neutralidade neste processo, simplesmente perpassa por uma dinâmica maior e complexa. Consideramos como necessário para uma prática educativa de qualidade as palavras de Delizoicov (2002) quando o mesmo afirma que o aprendizado em Ensino de Ciências só ocorre verdadeiramente quando considera-se o universo simbólico que o aluno está inserido, qual sua tradição cultural, étnica e religiosa, a que meios de comunicação tem acesso e a que grupos pertence, este pensamento nos faz acreditar que por meio da construção de um currículo contextual, multifacetado e extremamente dinâmico, é possível adentrarmos no universo desta infância a fim de compreender e edificar a situação de vida a qual se encontram, pois acreditamos sim, que ciência é sinônimo de transformação social.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Amazonas
Palavras-chave: Ensino de ciências, Situação pessoal e social de risco, Currículo numa perspectiva cubista.