61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 7. Fonoaudiologia - 1. Fonoaudiologia
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA POR CRIANÇAS SURDAS
Leticia Theodoro de Arruda Ribeiro 1
Ana Claudia Balieiro Lodi 1
1. Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP
INTRODUÇÃO:
A política educacional vigente indica a inclusão de toda a criança na escola regular, respeitando suas necessidades e particularidades. No caso da inclusão de crianças surdas, este respeito se dá pelo reconhecimento e utilização da língua brasileira de sinais (Libras), considerando que, por sua dificuldade de acesso à língua portuguesa oral, elas têm dificuldades de acompanhar os processos educacionais. Desde 2003, a inclusão de crianças surdas foi contemplada no Município de Piracicaba a partir da implantação de uma proposta educacional inclusiva e bilíngüe, em duas escolas - uma de educação infantil e outra de ensino fundamental - projeto decorrente de uma parceria da Unimep com a Prefeitura Municipal. A partir desta proposta e considerando os poucos estudos existentes em nosso país que discutem o ensino-aprendizagem da língua portuguesa escrita como segunda língua para surdos, esta pesquisa teve como objetivo acompanhar o processo educacional de três crianças, buscando compreender como os conhecimentos construídos em Libras nas diferentes práticas sociais interferiram no desenvolvimento da língua portuguesa, quais os processos lingüísticos foram desenvolvidos inicialmente por elas e quais atividades mostraram-se mais apropriadas para a aprendizagem da língua portuguesa.
METODOLOGIA:
Foram acompanhadas três crianças surdas que freqüentavam a escola municipal de ensino fundamental que implantou a proposta inclusiva bilíngue. No segundo semestre de 2007, as crianças foram acompanhadas em oficinas de português, espaço criado com o objetivo de propiciar a apropriação da língua portuguesa escrita como segunda língua pelas crianças. No primeiro semestre de 2008, o programa educacional sofreu uma transformação e foram implantadas, nas escolas, classes Libras língua de instrução. As crianças passaram, a ser observadas neste novo espaço. Todo o processo foi filmado, os dados recortados em episódios e constituíram o material para as análises e reflexões sobre as práticas realizadas e sobre o desenvolvimento das crianças. O estudo longitudinal mostrou-se o mais adequado, uma vez que possibilitou ver a realidade se apresentando “em processo”, revelando as interações e o uso da linguagem nas diversas situações escolares, possibilitando ao pesquisador uma visão ampla dos processos e dos produtos sociais em jogo nestes espaços. Para a análise dos dados, adotou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa que, derivada da matriz antropológica cultural, buscou descrever ou reconstruir o cenário/processo da metodologia empregada para o desenvolvimento de linguagem das crianças.
RESULTADOS:

Observou-se que as atividades nas oficinas privilegiaram a leitura. Esta era realizada de forma individualizada, impossibilitando que as crianças partilhassem conhecimentos; teve como foco a palavra, tratada de forma desvinculada do contexto. Deste modo, os sentidos do texto não puderam ser construídos no próprio movimento de significação da língua. Destaca-se que esta prática foi realizada por uma educadora surda, cuja função era propiciar o desenvolvimento da Libras e de utilizá-la como base para a aprendizagem da língua portuguesa. Entendeu-se que sua história educacional sobrepôs-se às orientações recebidas e, assim, a Libras ao ser posta em contato/confronto com a língua portuguesa, foi submetida a esta última. As atividades desenvolvidas na sala Libras língua de instrução também privilegiaram a leitura, porém foram abordadas de maneira diferenciada das realizadas nas oficinas. Desenvolvidas por um intérprete de Libras, as atividades foram realizadas coletivamente, possibilitando que as crianças se ajudassem na leitura do texto; além disso, o profissional valeu-se de recursos visuais, o que auxiliou as crianças na resolução de conflitos na construção de sentidos dos textos. A única atividade de escrita observada nos dois espaços foi a cópia dos textos escritos na lousa.

CONCLUSÃO:
Observou-se que a Libras esteve em circulação em ambos os espaços, sendo utilizada como base para as discussões desenvolvidas e, portanto, como fundamento lingüístico para o ensino-aprendizagem da língua portuguesa escrita. As observações realizadas nas oficinas demonstraram que a metodologia utilizada impossibilitou que os contatos/confrontos lingüísticos decorrentes da leitura em segunda língua fossem postos em jogo, pois o reconhecimento de palavras como se tivessem um sentido único, levaram as crianças a se relacionarem com a língua portuguesa como se esta fosse pronta, acabada e estática. Porém, as observações realizadas na sala Libras língua de instrução, diferenciaram-se daquelas observadas no segundo semestre de 2007 no que diz respeito ao uso de materiais visuais e na permissão de uma prática de leitura conjunta/partilhada entre as crianças. Com isso, tais atividades propiciaram, mesmo que parcialmente, a compreensão e construção de sentido dos textos pelas crianças, que apresentaram um desenvolvimento significativo no que diz respeito a apropriação da leitura em língua portuguesa, mostrando-se interessadas e participativas nas atividades, bem como aos diálogos e as discussões realizadas antes e durante as atividades.
Instituição de Fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC-CNPq/UNIMEP.
Palavras-chave: Surdez, Ensino-aprendizagem, Linguagem Escrita.