61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO: AS INFLUÊNCIAS NOS JORNAIS PAULISTAS
Renata Alves Ribeiro 1
Cicélia Pincer Batista 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (IC)
2. Profª. Mestre - Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (Orientadora)
INTRODUÇÃO:
A década de 50 foi um referencial de mudanças no Brasil. O país viveu um processo de intensa modernização, com significativas alterações sociais, políticas e culturais. Neste momento, a imprensa brasileira também se transformou, à medida que os principais veículos de comunicação sofreram reformulações tecnológicas e editoriais. No jornalismo, a influência estrangeira se deu pela adoção do modelo norte-americano, baseado na objetividade e imparcialidade. Entretanto, a maioria dos estudos relacionados à temática centra-se nos jornais cariocas. Daí a importância desta pesquisa que teve por finalidade descobrir supostas mudanças em dois jornais paulistas: Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo. A pesquisa investigou como se deu a sua reformulação técnica nos anos 50, comparando edições de um mesmo grupo empresarial em determinados momentos dessa década. Foram analisados títulos, matérias e artigos para avaliar como a adaptação das técnicas estrangeiras modificaram os textos jornalísticos conferindo-lhes um caráter mais noticioso e menos opinativo. Na questão gráfica, foram analisadas mutações na disposição dos textos e imagens, buscando verificar mudanças no projeto gráfico e uma padronização no design dos periódicos, além do espaço dado em um e outro momento à publicidade.
METODOLOGIA:
Para notar a reformulação gráfica e redacional dos jornais paulistas foram analisadas edições dos anos 51, 53, 54, 55, 56, 58 e 59. A escolha foi a partir de fatos políticos relevantes da década, já que a pesquisa dá importância ao contexto histórico. A amostragem centralizou-se nas capas (Folha) e contracapas (Estadão) que traziam no período de uma semana posterior e anterior aos relatos ao menos uma nota sobre os fatos políticos selecionados. Totalizando treze capas, sendo sete do jornal O Estado de S. Paulo e as outras seis da Folha da Manhã. Na análise gráfica foram levados em conta: manchete principal; desenho gráfico para divisão de notícias; quantidade de imagens; presença de publicidades; quantidade de matérias citadas na página; tamanho e possível padrão gráfico nas fontes utilizadas nos títulos. Para fazer uma análise qualitativa do discurso foram levados em conta: a enunciação verbal; presença de lead; a utilização de fontes e citações; termos ou procedimentos de intensificação dramatização; tipo de texto; quantidade de linhas e parágrafos; separação da matéria por intertítulos e presença de crédito/assinatura. A base teórica para as análises foi a publicação on-line Elementos de Teoria e Pesquisa de Jorge Pedro de Souza.
RESULTADOS:
O Estado de S. Paulo tinha suas contracapas recheadas de pequenas notas, estas sim, em sua maioria, eram objetivas e exatas, mas as grandes matérias contidas durante toda a década ainda seguiam um padrão mais literário de descrever os fatos. Do mesmo modo, a Folha de S. Paulo apresentou pequenas mudanças redacionais no que diz respeito aos critérios de objetividade. Ainda no final da década foram encontradas informações subjetivas como informações sem apuração ou especificidade de fontes. A presença de fontes de informação, em ambos os jornais, se restringia freqüentemente a discursos feitos em eventos, telegramas ou documentos enviados à imprensa, que eram reproduzidos sem contraposição ou apuração. Com relação ao aspecto gráfico, não havia padrão de fontes e as matérias foram, até o final da década, separadas de forma confusa graficamente, de modo que não se podia distinguir uma nota de outra e, muitas vezes, notas de diferentes assuntos ficavam visualmente mescladas. Não foi percebido maior espaço dado à publicidade do começo para o final da década. Foram encontradas nas capas muitas notícias assinadas por agências internacionais, que confirmaram a pressuposição de que havia influência norte-americana, embora talvez ela ainda não fosse no formato textual ou gráfico.
CONCLUSÃO:
O fato de não constar nas matérias os nomes dos repórteres específicos que faziam a articulação das informações pode explicar a inconstância das técnicas de objetividade e imparcialidade nas edições analisadas. Talvez, por ser ainda formato incipiente de se fazer jornalismo, apenas alguns profissionais tivessem aderido aos métodos utilizados.  Por outro lado, podemos também levar em conta que o próprio jornal não teria transformado radicalmente suas técnicas para fazer notícia, mas fossem pouco a pouco aderindo à influência norte-americana que adentrou primeiramente nos jornais cariocas. Possivelmente, na década de 50 apenas os jornais cariocas começaram o processo mais efervescente de migração do jornalismo literário para o empresarial, e São Paulo, que crescia como cidade, tenha sofrido mais grave influência redacional e gráfica a partir da década de 60. No entanto, o fato de os jornais ainda serem mais literários em seus textos noticiosos, nem sempre indicava subjetivismo ou presença de opinião.  Não diz respeito a um jornalismo tendencioso ou partidário, mas a uma despreocupação com a credibilidade das informações.
Instituição de Fomento: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Palavras-chave: processo de modernização, transição da imprensa, objetividade jornalística.