61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
Mapeamento integrado de saúde ambiental em comunidades ribeirinhas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Estado do Amazonas, Brasil.
Leandro Luiz Giatti 1
Michele Silva de Jesus 1
Sônia de Oliveira 1
Edila Moura 2
José Camilo Hurtado Guerrero 3
Carolliny Silva de Melo 3
1. Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz / Amazônia
2. UFPA Universidade Federal do Pará
3. UEA – Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
As dificuldades para obtenção de água de qualidade aceitável para abastecimento de comunidades ribeirinhas em áreas de várzea na Amazônia são notórias, sobretudo, em épocas de estiagem. Neste estudo apresentamos os resultados do uso de uma metodologia de mapeamento integrado com o objetivo de identificar as variações da sazonalidade da várzea nas condições de saúde ambiental das populações locais. O estudo foi realizado em comunidades ribeirinhas de várzea localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- RDSM, na região do Médio Solimões, no estado do Amazonas. No estudo foram abordados de forma integrada, temas relativos à saúde ambiental com ênfase em condições sanitárias, percepção de saúde/doença e ambiente e identificação de patógenos dentre a população e no ambiente. O estudo foi realizado no ano de 2007.
METODOLOGIA:
Foram selecionadas quatro comunidades localizadas na RDSM, dentre as 45 localidades dessa unidade de conservação, com base em critérios amostrais que contemplam diferentes aspectos da multiplicidade de fatores socioambientais presentes nas ocupações humanas locais. A população total estimada das comunidades envolvidas no estudo é de 350 pessoas. Duas campanhas de coleta foram executadas, a primeira em período de cheia e a segunda em seca, com realização de entrevistas sobre aspectos socioambientais, práticas sociais dos habitantes; coleta de água de fontes naturais e de domicílios; e coleta de amostras de fezes de moradores. As amostras coletadas possibilitaram o estudo sobre a prevalência de parasitos intestinais e de bactérias potencialmente patogênicas, este último aspecto só foi analisado até o momento nas amostras de período de cheia. Os domicílios incluídos em cada comunidade e os moradores que cederam amostras de fezes foram selecionados por amostragem aleatória estratificada.
RESULTADOS:
Foram aplicados formulários de entrevistas semi-estruturadas em 31 domicílios, obtiveram-se 55 amostras de água em período de cheia e 49 em período de seca. Do mesmo modo, 175 amostras de fezes foram obtidas na campanha em período de cheia e 106 na seca, de um total da população local, o que revela as dificuldades de adesão e deslocamento sazonal da população para outras localidades. Os moradores entrevistados declararam tratamentos domiciliares rudimentares para remoção de turbidez e uso bastante disseminado de hipoclorito para água de consumo (67,7% dos domicílios), porém, indicadores microbiológicos mostram contaminação dessas amostras, sobretudo em período de cheia. Entre as amostras de fezes coletadas em período de cheia há pequena proporção de flora mista bacteriana em meios de cultura (23,6%), havendo predominância de determinadas enterobactérias, como E. coli (41,4%), e de bactérias ambientais, como Pseudomonas aeruginosa (10,0%) e Chryseomonas luteola (2,9%). O estudo de parasitoses intestinais mostra elevadas prevalências dentre as comunidades estudadas (de 57,9 a 90,3%) tanto em período de cheia como de seca, todavia parasitos em amostras de água para consumo humano só foram encontrados em 15,5% das amostras coletadas em período de cheia.
CONCLUSÃO:
Embora a população estudada tenha declarado uma boa adesão ao uso de hipoclorito, enquanto método para desinfecção de água de consumo, os resultados das análises microbiológicas demonstram contaminações que oferecem elevado risco de veiculação de patógenos, mesmo na água tratada e armazenada nos domicílios. Além disso, apesar das declarações de doenças diarréicas não apresentarem índices elevados, os indicadores de saúde intestinal da população são bastante críticos. Essa constatação é feita com referência às elevadas taxas de prevalência de parasitoses intestinais e também na significativa predominância tanto de enterobactérias como de bactérias ambientais em meios de cultura realizados com amostras de fezes obtidas na primeira campanha, em período de cheia. A possibilidade de variação sazonal da saúde intestinal dos moradores permanece em estudo quanto a identificação de bactérias prevalentes, pois quanto a prevalência de parasitos intestinais essa diferenciação não foi observada entre as campanhas, apenas amostras de água obtidas de domicílios mostraram situação mais crítica em período de cheia.
Instituição de Fomento: DECIT/MS/CNPq, FAPEAM e FIOCRUZ
Palavras-chave: Saúde Ambiental, populações de várzea amazônica, percepção de doenças.