61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
Taxonomia molecular de Microsternarchini (Pisces: Gymnotiformes): A Validade do uso de DNA barcode e marcadores moleculares mitocondriais e nucleares como ferramenta
Carolina Rabelo Maia 1
Renata Schmitt 1
José Antônio Alves Gomes 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA
INTRODUÇÃO:

Os peixes elétricos Neotropicais (Gymnotiformes) apresentam como principal característica a capacidade de gerar correntes elétricas alternadas pela ação de um órgão elétrico. O órgão elétrico trabalhando em conjunto com os eletroreceptores permite que esses animais explorem o ambiente em que vivem e se comuniquem. A tribo Microsternarchini é composta por dois gêneros monotípicos (Microsternarchus e Racenisia), sendo as suas únicas espécies descritas denominadas de Microsternarchus bilineatus e Racenisia fimbriipinna. Ainda que Microsternarchus seja descrito como um gênero monotípico, variações em sua morfologia externa e em características da Descarga do Órgão Elétrico (DOE), caráter espécie-específico, têm sido observadas. Além disso, variações nas seqüências nucleotídicas da região controle do DNAmt mostram a separação de Microsternarchus em quatro linhagens distintas (B, C, D e E) com valores elevados de divergência genética, sugerindo a existência de espécies ainda não descritas. Com base nisso, o objetivo deste trabalho foi determinar se os marcadores moleculares RAG-1 (nuclear), D-Loop e COI (mitocondriais) são capazes de identificar as diferentes linhagens de Microsternarchus, corroborando os dados morfológicos e de DOE.

METODOLOGIA:

Foram selecionados cinco indivíduos de cada uma das quatro linhagens de Microsternarchus e também de uma quinta linhagem até então identificada somente pela morfologia e características da DOE (linhagem A), assim como cinco indivíduos de R. fimbriipinna. A extração de DNA foi realizada seguindo o protocolo de fenol-clorofórmio a partir de uma amostra de tecido muscular de cada indivíduo.  As amplificações dos fragmentos de DNA foram realizadas pela técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction), utilizando os primers FTTF e 12SR1 para D-Loop de Microsternarchus, FTTF e DLOOPREV1 para D-Loop de Racenisia, BOL-COIfishF1 e BOL-COIfishR1 para COI (Citocromo c Oxidase Subunidade I), e 2533F e 4078R para RAG-1 (Recombination of Activating Gene). Após a amplificação os fragmentos foram purificados e submetidos à uma reação de seqüenciamento. A eletroforese dos fragmentos seqüenciados foi realizada no seqüenciador automático de DNA MegaBACE 1000 (GE-Healthcare). Depois de editadas e compiladas com o auxílio do programa BIOEDIT 6.0.7, as seqüências foram alinhadas manualmente e submetidas a análises filogenéticas e de distância genética com o auxílio dos programas PAUP 4.0b10 e MEGA 4.

RESULTADOS:

Foram seqüenciados representantes das cinco linhagens de Microsternarchus e também de R. fimbriipinna para todos os genes, com exceção do gene nuclear RAG-1, para o qual obteve-se seqüências apenas das linhagens B, C, D e E. Foram obtidas 61 seqüências nucleotídicas de D-Loop, 55 do gene mitocondrial COI e 15 do gene nuclear RAG-1. As topologias obtidas pelo método de agrupamento de vizinhos através da distância p não corrigida para os três marcadores mostram a separação de Microsternarchus em linhagens distintas (A, B, C, D e E), sendo a única diferença encontrada no relacionamento entre a linhagem A e R. fimbriipinna para com as demais linhagens nas topologias de D-Loop e COI. A análise de Máxima Parcimônia também mostrou a separação de Microsternarchus em diferentes linhagens, no entanto, o monofiletismo das linhagens C e D não foi recuperado nas topologias de D-Loop e RAG-1. Da mesma forma, a análise de Máxima Verossimilhança não recuperou a linhagem D para D-Loop e as linhagens C e D para RAG-1. Com relação a divergência genética, foram observados valores baixos de distância dentro das linhagens e valores elevados entre as linhagens.

CONCLUSÃO:

Todos os marcadores foram eficientes em recuperar as linhagens de Microsternarchus, com exceção das linhagens C e D para a região controle e para RAG-1 em algumas das análises realizadas. Com base nos resultados obtidos faz-se necessário um estudo mais profundo com a linhagem A de Microsternarchus, utilizando dados morfológicos, análises da Descarga do Órgão Elétrico, assim como estudos com outros marcadores moleculares, a fim de estabelecer o relacionamento desta linhagem com as demais linhagens de Microsternarchus. Além disto, estes resultados também indicam a necessidade de se realizar uma revisão taxonômica e sistemática do grupo com a descrição de novas espécies, demonstram a subestimativa da diversidade alfa da região amazônica e a importância de estudos consistentes de diversidade para a aplicação de políticas públicas de conservação e manejo das espécies.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: D-Loop, COI, RAG-1.