61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
IDENTIDADE ÉTNICA E CONSCIÊNCIA SOCIAL: OS MUNDURUKU ONTEM E HOJE
Janiacley Reis Mendonça 1
1. Universidade Federal do Amazonas/UFAM- PPGSCA
INTRODUÇÃO:
Os índios Munduruku sofreram ao longo de sua história uma série de transformações em sua organização social e em sua cultura. Mas, para entendermos melhor essas mudanças faz-se necessário relacioná-las ao processo histórico. A organização social e política tal como existe atualmente entre os Munduruku do Rio Madeira (Estado do Amazonas), região que destacamos neste estudo, é o resultado de um longo processo histórico de interação com a sociedade nacional e com outros povos indígenas. O estudo teve como objetivo trazer uma reflexão sobre o processo de identidade étnica e consciência social constituída historicamente pelos Munduruku desta região, a partir de estudos antropológicos e também baseados em relatos orais e observações obtidas durante trabalho de campo. O trabalho tenta traçar um diálogo entre o passado e o presente, os processos de mudança que ocorreram no decorrer do tempo e também como os Munduruku de hoje conseguiram usar o conhecimento trazido nas relações de contato com a sociedade nacional, para se organizar social e politicamente transformando sua história e mantendo sua autonomia.
METODOLOGIA:
O tipo de pesquisa desenvolvido teve um caráter exploratório, realizada com enfoque na abordagem de análise qualitativa. Os procedimentos para obtenção dos dados sobre a história do povo indígena Munduruku e seus aspectos socioculturais incluem: levantamento documental e bibliográfico (dados secundários) e pesquisa de campo, onde se coletaram dados primários, através das técnicas de observação direta e participante, entrevistas semi-estruturadas, discussões com grupos focais e histórias de vida. A pesquisa de campo realizou-se na Terra Indígena Coatá-Laranjal (Região do Rio Madeira), localizada no Município de Borba, Estado do Amazonas. Os agentes da pesquisa foram os índios Munduruku habitantes do Rio Canumã e Mari-Mari. Na pesquisa empírica levantou-se informações sobre a organização social e política dos Munduruku, aspectos culturais, modos de vida, sistema de subsistência, condições sanitárias e relações sociais. O estudo tentou fazer uma análise da história dos Munduruku desde os primeiros contatos (Séc XVIII) e os processos de resistência e construção de identidade étnica até os dias atuais, mostrando os processos de mudanças e permanências ocorridos.
RESULTADOS:
O que percebemos ao estudar a história e as relações de contato dos Munduruku com a sociedade nacional é que estes conseguiram garantir sua identidade social, ética e cultural, demonstrando sua capacidade de incorporar e agregar aspectos da sociedade envolvente para manutenção da sua autonomia e sustentabilidade. O que observamos hoje durante o trabalho de campo é que os Munduruku do Rio Madeira, apesar do intenso contato resistiram, continuaram aumentando sua população, conseguiram demarcar seus territórios e possuem uma forte autonomia política e organização social e certamente isso não se deu sem resistência e passivamente. Percebemos que os Munduruku têm consciência de sua situação e das mudanças socioculturais que ocorreram em sua sociedade como consequência do intenso contato, mas apesar disso, lutam para se auto-afirmar enquanto etnia de forma coletiva. A ação política e coletiva entre os Munduruku do rio Madeira, através de sua organização e participação social os levou a serem protagonistas de sua história.
CONCLUSÃO:
Os Munduruku historicamente tiveram a capacidade de aprender práticas políticas e culturais e manusear novas tecnologias com a sociedade nacional e manejá-las na luta pela manutenção de seu povo e sua autonomia. Foram vistos por muitos historiadores como aliados dos colonizadores na perseguição de outros povos indígenas no Século XIX. A aliança com os brancos pode ter sido uma estratégia de sobrevivência tribal. Os Munduruku do Rio Madeira contemporâneos não perderam sua cultura e nem foram assimilados pela sociedade nacional como previam alguns historiadores e antropólogos, houve transformações culturais sim, mas hoje este povo está mais consciente de sua ação social e política, possuem uma forte organização indígena, participam das instâncias de controle social na área da educação e da saúde, desenvolvem projetos de sustentabilidade nas aldeias, enfim são sujeitos de sua história, lutando hoje junto com outros povos da Amazônia para se afirmar e defender seus direitos. A partir das idéias de Fredrik Barth (2000) concluímos que as fronteiras étnicas permaneceram entre os Munduruku apesar do fluxo de pessoas que as atravessam, as diferenças culturais persistem apesar do contato interétnico, agregando novos significados e novas práticas.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Amazonas/UFAM- PPGSCA
Palavras-chave: Identidade étnica, Mudanças culturais, Organização social.