61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 7. Fisiologia - 2. Fisiologia Comparada
TOXICIDADE DO COBRE EM ALTAS CONCENTRAÇÕES DE CARBONO ORGÂNICO DISSOLVIDO EM Paracheirodon axelrodi (SCHULTZ, 1956).
Gisele Cortez Custódio Vilarinho 1, 2
Karen Yuri Suguiyama da Silva 1, 2
Rafael Mendonça Duarte 1, 2
Adalberto Luis Val 1, 2, 3
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
2. Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM)
3. Prof.Dr./ Orientador
INTRODUÇÃO:

O crescimento da atividade industrial levou a diversas modificações ambientais em vários lugares, incluindo o Estado do Amazonas, onde são produzidos cerca de 10% de todos os produtos de cobre no Brasil. Apesar do cobre ser essencial para o funcionamento adequado dos organismos, quando em altas concentrações apresenta efeitos tóxicos diversos, podendo levar à morte. Dessa forma, a contaminação dos ambientes aquáticos pela diluição de cátions metálicos tem gerado preocupações a respeito das alterações que altas concentrações desses metais podem causar nas diferentes espécies de peixes da região amazônica. As águas do Rio Negro são pobres em sais dissolvidos, ácidas e tem grande quantidade de carbono orgânico dissolvido (COD) que é proveniente da decomposição da matéria orgânica produzida pela floresta. Estudos mostram que a presença de COD influencia a disponibilidade dos metais e o mecanismo de transporte de íons em peixes. Por isso, no presente trabalho estudou-se o efeito do cobre em associação a altos níveis de carbono orgânico dissolvido sobre a espécie de peixe do Rio Negro, Paracheirodon axelrodi (cardinal).

METODOLOGIA:

Exemplares de cardinal foram aclimatados durante sete dias em quatro condições: água do poço e água do poço mais COD nas concentrações de 10, 20 e 30 mg C/L. Após esse período foram realizados experimentos de CL50-96h e exposição aguda-3h. Para CL50-96h os animais foram expostos ao cobre em água do poço (<0,9 mg C/L) e água do poço mais COD nas concentrações de 10, 20 e 30 mg C/L. Cada situação experimental foi composta por dez câmaras plásticas com dez exemplares cada, aeração constante e renovação continua da solução teste, obtida a partir da solução um molar de cloreto de cobre. As mortalidades foram observadas nos períodos de 24, 48, 72 e 96 horas e a CL50 foi determinada para cada período por meio do programa computacional trimmed Spearman-Karber, em função das concentrações de cobre dissolvido na água. Na exposição aguda, foram analisadas três situações: 1) pré-aclimatados a água do poço; 2) pré-aclimatação a 10 mg C/L; 3) pré-aclimatação a 30 mg C/L, cada um com três tratamentos: água do poço  sem cobre (controle) e com cobre em 200 e 400 mgCu/L, compostos por duas câmaras plásticas com dez exemplares cada e sem renovação da solução teste. No final da exposição as brânquias dos animais foram coletadas para a determinação na concentração de cobre no tecido.

RESULTADOS:

Os resultados de CL50-96h nas condições de água do poço, 10, 20 e 30 mg C/L (concentração real: >0,9; 13,35; 21,44 e 38,21 mg C/L) foram de 43,8±5,4; 765,9±116,1; 1649,9±260,3 e 3231,90±762,54 mg Cu/L respectivamente. Esses valores demonstram que o aumento da concentração de COD na água reduz a sensibilidade do cardinal aos efeitos tóxicos do cobre, porque o COD diminui a quantidade de cobre livre, formando complexo com o mesmo, reduzindo sua biodisponbilidade para as brânquias. As análises das brânquias de P. axelrodi submetidos à exposição aguda por 3 horas demonstraram que a pré-aclimatação a altas concentrações de COD na água reduz o acúmulo de cobre nas brânquias desses animais mesmo após exposição aguda a altas concentrações deste metal na ausência de COD. Estudos realizados com tambaqui (Colossoma macropomum) demonstraram que a exposição ao cobre na presença de baixos níveis de matéria orgânica dissolvida facilita a ação desse metal sobre esses peixes, porque a capacidade da matéria orgânica em formar complexos com o cobre é excedida permitindo que esse metal interfira diretamente no mecanismo homeostático desses animais (Matsuo et al., 2005).

CONCLUSÃO:

Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que o carbono orgânico dissolvido em altas concentrações reduz a sensibilidade do cardinal, isto é, quanto maior a concentração de COD maior o valor da CL50-96hs. Da mesma forma, a aclimatação de P. axelrodi em altas concentrações de COD previne o acúmulo de cobre nas brânquias.

Instituição de Fomento: INPA/CNPq e ICA
Palavras-chave: Cobre, Carbono Orgânico Dissolvido, Peixes.