61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
Considerações sobre a Circulação de Romances em Pernambuco (1795-1807)
Breno Gontijo Andrade 1, 2
1. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas / FAFICH
2. Departamento de História / UFMG
INTRODUÇÃO:
Por meio de fontes dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, foram estudadas várias petições que solicitavam a Real Mesa Censória o envio de livros para Pernambuco via Portugal. Dessas petições figuram-se grande quantidade de livros de diversos gêneros, o que me obrigou a fazer um recorte na documentação para que a análise dos mesmos fosse mais apurada. Assim, os romances foram escolhidos, buscando principalmente responder a pergunta: quais os tipos de romances mais lidos em Pernambuco entre 1795-1807? Haveria algum impacto desses romances no imaginário pernambucano para a mesma época? Quais as influências dos mesmos para a Conspiração dos Suassunas em 1801? Haveria ecos de suas leituras na revolução de 1817? Seria importante responder essas perguntas, porque na passagem do século XVIII para o XIX, Pernambuco se encontrava constantemente convulsionada. Será que os romances e os livros de um modo geral contribuíam para seu constante questionamento insidioso contra a monarquia portuguesa? É o que esse estudo tenta entender.
METODOLOGIA:
Para o estudo desse período de tempo, utilizou-se como fontes principais os documentos oriundos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal, mais especificamente os livros enviados para Pernambuco requeridos a Real Mesa Censória, caixa 161. Ao mesmo tempo em que se estudava essa documentação, ainda pouco explorada, também foram estudados os Documentos Históricos publicados pela Biblioteca Nacional entre 1953-55, volumes 100 ao 110, porque continham os Autos da Devassa da Conspiração dos Suassunas de 1801 e da Revolução Pernambucana de 1817. Esses autos foram escolhidos justamente, porque demonstravam importante momento de insatisfação pernambucana com a Coroa Portuguesa. Para entender a circulação de livros e ideias que provavelmente influenciaram os dois movimentos de contestação do Antigo Regime português, utilizou-se da leitura dos autores Robert Darnton e Roger Chartier, pois eles são os maiores expoentes no estudo de livros e leitura da atualidade. Dos autores que escreveram sobre a circulação de livros na América Portuguesa, utilizei-me dos estudos feitos por Luiz Carlos Villalta e Márcia Abreu.
RESULTADOS:
Depois de transcritos os documentos, ordenados seus dados e quantificados, foram feitos gráficos que nos revelassem melhor a realidade da circulação de romances por Pernambuco. Enfatizou-se primeiro os livros mais enviados em quantidade, demonstrando quais eram os livros que atendiam melhor a uma possível demanda do mercado, vislumbrada principalmente pelos comerciantes. Nem sempre, os livros mais enviados são aqueles que o público mais apreciava, geralmente, como foi dito, atendem a uma expectativa de oferta dos comerciantes. Depois foi feito um gráfico dos livros mais requisitados em distintas petições independente da quantidade requerida, estes sim poderiam revelar melhor o que o público de Pernambuco ansiava por ler. Por último um gráfico foi feito para constatar o aspecto sócio-econômico daqueles que remetiam os livros para Pernambuco, buscando entender a origem dos envios para Pernambuco.
CONCLUSÃO:
Concluiu-se que os livros mais enviados, certamente, atendiam a uma expectativa de vendagem no mercado Pernambucano, mas que alguns dos mais enviados eram romances de cunho político, isto é, romances que problematizavam questões políticas da época, o que poderia ser perigoso para a monarquia portuguesa. Questões de como deveria ser um bom governo, ou um bom rei eram levantadas nesses romances, e isso nos leva a entender, que os pernambucanos leitores tinham acesso a essas ideias. Dos romances mais requisitados, independente da quantidade de livros, os que figuravam entre os primeiros, eram também os romances de cunho político, o que nos demonstra que havia um interesse nesse tipo de leitura, seja pelo sucesso dos romances solicitados, seja pelo conteúdo político que eles traziam. Os leitores em posse dessas leituras não encontrariam dificuldades de entender o que se passava na insidiciosa Pernambuco do início do XIX. Por falta de dados mais concretos não é possível afirmar que os leitores participaram efetivamente dos movimentos de insurreição em Pernambuco, mas também não é possível afirmar que eles ficaram totalmente isentos e apáticos frente as ebulições que aconteciam naquela província.
Instituição de Fomento: FAPEMIG
Palavras-chave: Romances, Revolução Pernambucana, Conspiração dos Suassunas.