Para as plantas, a atividade legítima dos agentes polinizadores é um recurso de importância crítica em espécies que não são autogâmicas, apomíticas ou capazes de reprodução vegetativa. Assim, diante do risco de visitantes utilizarem os recursos de maneira oportunista, algumas flores possuem características para disponibilizar esses recursos principalmente aos visitantes que atuam como polinizadores. Sophora tomentosa e Crotalaria vitellina são duas leguminosas sincronopátricas, arbustivas, autocompatíveis, mas não autogâmicas e dependem de abelhas para sua reprodução. O objetivo deste trabalho foi verificar quais abelhas apresentam morfologia e comportamento adequados para atuar como polinizadores destas espécies, bem como verificar se a morfologia das flores restringe o acesso ao néctar somente aos polinizadores. Para isto, foi comparado o comprimento do androceu e do gineceu com as dimensões do corpo das abelhas, bem como o comprimento das câmaras nectaríferas com o das glossas das abelhas. Além disso, foi analisado o comportamento das abelhas durante as visitas.

O estudo foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra do Mar no Núcleo de Desenvolvimento Picinguaba (NDP), município de Ubatuba (23o22’ S e 44o48’ W), litoral norte do estado de São Paulo. As abelhas foram coletadas com rede entomológica, durante as visitas às flores, e posteriormente fixadas em frasco mortífero. Após, foram devidamente montadas, etiquetadas e identificadas até nível de espécie ou morfoespécie. As dimensões do corpo destas abelhas e o comprimento de suas glossas (n=1 a 7), assim como as dimensões florais (comprimento do gineceu e androceu e da câmara nectarífera; n=15) foram tomados com auxílio de paquímetro. Foram considerados polinizadores os visitantes cujo tamanho do corpo corresponde ao comprimento das estruturas reprodutivas das flores e que durante as visitas contataram essas estruturas. Ainda, os polinizadores foram definidos através de observações focais e análises de fotografias. Os visitantes florais coletados foram depositados no Museu de Zoologia (ZUEC) e as exsicatas das espécies estudadas depositadas no herbário (UEC), na Universidade Estadual de Campinas.

Sophora tomentosa e C. vitellina possuem flores dispostas em racemos, são amarelas e papilionadas e fornecem néctar como principal recurso. O comprimento do androceu é de 19,4mm e 7,9mm e o do gineceu de 17,5mm e 10,0mm em S. tomentosa e C. vitellina, respectivamente. Nas duas espécies a fusão dos estames até o seu terço superior forma uma câmara nectarífera que mede 3,3mm e 3,2mm de comprimento em S. tomentosa e C. vitellina, respectivamente. Esta estrutura impede o livre acesso ao néctar, que é depositado na base do gineceu. O acesso ao néctar é feito através de um pequeno orifício localizado na base dos estames superiores, mas que é coberto pela unguícula do estandarte.