61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 8. Química
IDENTIFICANDO E ANALISANDO ABORDAGEM DE ASPECTOS SOCIOCIENTIFICOS EM AULAS DE QUÍMICA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA
Diego de Sousa Alves 1
Wildson Luiz Pereira dos Santos 2
Patrícia Fernandes Lootens Machado 3
Zara Faria Sobrinha Guimarães 4
Maria Helena da Silva Carneiro 5
1. Aluno de Licenciatura em Química / Instituto de Química/ UnB
2. Prof. Instituto de Química/Prog. de Pós-Graduação em Educação/UnB /Orientador
3. Profa. Instituto de Química / UnB
4. Profa. Instituto de Ciências Biológicas / UnB
5. Profa. Faculdade de Educação / UnB
INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem como objetivo analisar e identificar a metodologia adotada por um professor para trabalhar aspectos sociocientíficos, ASC, em aulas de Química. Tratamos ASC como questões políticas, econômicas, sociais, culturais, éticas e ambientais relacionadas à ciência e tecnologia. A abordagem desses aspectos é fundamental para que o ensino de ensino de ciências possa contribuir para a formação para a cidadania, desenvolvendo uma compreensão mais global das inter-relações ciência-tecnologia-sociedade. Assim, toda análise visou a identificação de contribuições da abordagem de ASC no que diz respeito a formação de um cidadão. O estudo é parte de um projeto mais amplo – Abordagem de Aspectos Sociocientíficos em Aulas de Ciências que foi realizado em uma escola pública militar do Distrito Federal com uma turma de Química do 2º ano do ensino médio, na qual foi adotado o livro Química e Sociedade elaborado pelos participantes do Projeto de Ensino de Química e Sociedade. Este livro se caracteriza por uma abordagem de temas sociocientíficos.

 

METODOLOGIA:

A coleta de dados que feita por um aluno bolsista de iniciação científica teve início em maio de 2007, com a observação das aulas de uma das turmas do professor escolhido em uma fase de ambientação, quando foram feitos registros em diário de campo. Após a ambientação, as aulas foram gravadas em câmera de vídeo e logo depois capturadas por meio do software Pinnacle Studio®. Em seguida, elas foram analisadas sistematicamente com o propósito de identificar episódios que foram introduzidos ASC, ou seja, seqüências de turno de fala de alunos e professor, nos quais ASC foram mencionados. Os ASC foram categorizados em tabelas analíticas. Os episódios foram editados e na sua categorização foram feitos recortes analíticos em que se buscou identificar a natureza, a relação com o conteúdo, a intensidade da interação professor-aluno, o tempo de discussão e se estava ou não no planejamento feito pelo professor daquela turma. Todos os dados foram tabelados, revisados e triangulados para as devidas discussões.

RESULTADOS:

Um total de 27 aulas foram assistidas, sendo 17 registradas em vídeo e as dez restantes registradas em diário de campo. Das aulas gravadas, foram identificadas nove com a introdução de algum ASC. Dos 20 ASC identificados, oito foram temáticos e todos tiveram participação dos alunos nas discussões. Dos 12 ASC pontuais apenas quatro tiveram envolvimento da turma. Destaca-se que a maioria dos ASC estavam inseridos no planejamento da aula. Oito ASC foram relativos a valores e atitudes, cinco de natureza ambiental, dez de conhecimentos científicos e culturais, oito de questões do cotidiano, três de interações ciência-tecnologia-sociedade e quatro de questões econômicas, políticas e sociais. Observou-se que 15% dos ASC surgiram da leitura de texto extra levado pelo professor e apenas 5% surgiram da leitura do livro didático. A maioria dos ASC (60%) foi introduzida pelo professor. A análise qualitativa dos dados apresentou evidências de que a qualidade das interações e das discussões parece ter aumentado quando a abordagem foi temática e não pontual. Uma outra constatação é que o professor não explorou os temas sociocientíficos muito presentes no livro.

 

CONCLUSÃO:

A análise dos dados caracterizou que este professor incorporou à sua prática pedagógica a abordagem de ASC de forma pontual. Verificou-se que se por um lado ele desenvolveu autonomia no planejamento didático, por outro lado, não demonstrou fazer uso regular do livro didático em suas aulas, bem como não explorou as potencialidades do mesmo no que diz respeito à abordagem de ASC. O professor demonstrou como a abordagem de ASC pode ser rotineira nas aulas de Química, ao contrário do que ocorre com muitos professores que muito ocasionalmente incluem em suas aulas ASC. Por outro lado, verificou-se que a abordagem pontual parece ter tido um menor efeito no envolvimento dos alunos e na exploração dos diversos ASC, do que quando a abordagem foi mais sistemática. De certa forma, ratificou-se, como vem sendo discutido por diversos autores, o papel do planejamento sistemático da abordagem de ASC para aprofundar as suas discussões, de modo a incluir valores, atitudes e embasamento químico. Corrobora-se assim a tese de que professores da área de ciências possuem dificuldades em desenvolver discussões políticas com seus alunos, restringindo a compreensão do que realmente vem a ser a atividade científica e suas abrangências, de maneira eventual, pontual e não sistemática.

 

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: aspectos sociocientíficos, ensino de Química, formação para cidadania.