61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
PROPOSTA DE UM NOVO MÉTODO PARA ANÁLISE DO CONTEÚDO ESTOMACAL DE MICROCRUSTÁCEOS PLANCTÔNICOS DE ÁGUA DOCE
Andréia Machado SANTA-RITA 1
Bruna Patrícia CARLOS-FERREIRA 1
Edinaldo Nelson SANTOS-SILVA 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
INTRODUÇÃO:
Estudos da alimentação de Cladocera e de Copepoda, necessitam de uma boa técnica para investigar os detalhes da sua dieta. Embora alguns copepodologistas já tenham examinado anteriormente a dieta desses organismos, têm-se observado o conteúdo estomacal de microcrustáceos através da porcentagem de clorofila ingerida (Lemke et al., 2007), análise de pelotas fecais por microscopia eletrônica de varredura (Turner, 2004), análise dos intestinos dos cladóceros após serem dissecados (Moore, 1980) e visualização direta do tubo digestivo ao microscópio óptico e por microscopia eletrônica de varredura (Wu et al., 2004). Mesmo conhecendo essas técnicas de análise, ainda são escassas as metodologias adequadas para analisar conteúdo estomacal de microcrustáceos. Dos estudos até agora realizados com o fitoplâncton ou com o zooplâncton do lago Tupé, nenhum abordou o relacionamento existente entre esses grupos. Para estudar essa relação, foi proposto analisar o conteúdo estomacal do cladócero Bosminopsis deitersi Richard, 1985 e do copépode Aspinus acicularis Brandorff, 1973, espécies comumente encontradas no lago Tupé e responsáveis pelas maiores abundâncias entre os membros do zooplâncton dessa região.
METODOLOGIA:
Foram utilizadas amostras qualitativas de zooplâncton coletadas no Lago Tupé, Amazônia Central, entre Março/03 e Fevereiro/04, fixadas com formol, concentração final 6% e amostras coletadas em dezembro/07, janeiro e fevereiro/08, fixadas com formol (concentração final 3%), lugol e transeau. Organismos coletados entre Mar/03 e Fev/04, foram analisados pelo método utilizado por Infante (1978), através do qual se observa o conteúdo estomacal sem a necessidade de dissecar o espécime. Este método consiste em colocar uma gota de hipoclorito de sódio diretamente na lâmina, na qual está o espécime a ser analisado. O hipoclorito clareia o espécime, possibilitando a análise do seu conteúdo estomacal. Com este método não foi possível visualizar a presença de algas no conteúdo estomacal. Carr (1986) testou dois métodos, um deles utilizando hipoclorito, para analisar as algas e concluiu que a aplicação de hipoclorito de sódio em algas leva a perda de algumas características estruturais, dificultando a identificação, o que foi comprovado em nossas análises. Os organismos coletados em 2007 e 2008, foram observados diretamente ao microscópio óptico, entre lâmina e lamínula. As algas foram identificadas com auxílio de especialistas e através de consulta à literatura especializada, relacionadas por Melo et al., 2005 a e b.
RESULTADOS:
Após a análise de cerca de 50 espécimes de cada espécie, utilizando o método proposto por Infante (1978), constatamos não ser possível identificar nenhum grupo de alga. O transeau foi, dentre os fixadores utilizados, o que possibilitou a identificação das algas do conteúdo estomacal de Aspinus acicularis e de Bosminopsis deitersi, diretamente ao microscópio óptico. Foram encontrados quatro grupos de algas, Euglenophyta, Cianobacteria (Cyanophyta), Chrisophyta e Chlorophyta. O grupo Euglenophyta esteve presente tanto nos estômagos de A. acicularis como de B. deitrsi e os grupos Cianobacteria (Cyanophyta), Chrisophyta, Chlorophyta foram observados apenas na dieta de B. deitersi. Esta diferença pode estar relacionada com os diferentes hábitos alimentares destas espécies. A. aciularis é um copépodo especialista em se alimentar de algas, tais como Euglenófitas, enquanto que B. deitersi é considerada uma espécie generalista capaz de se adaptar a uma grande variabilidade de condições ambientais (Paggi & José de Paggi, 1990). No entanto são necessários estudos mais detalhados para análise de conteúdo estomacal que possam evidenciar melhor as relações entre estes grupos.
CONCLUSÃO:
A procura por um método mais adequado para este tipo de estudo foi muito promissora. O transeau parece ser um fixador mais apropriado para analisar conteúdo estomacal de microcrustáceos planctônicos. Portanto, este resultado é de grande importância para a continuidade de outros estudos sobre o zooplâncton de água doce, além de proporcionar a outros pesquisadores desta área uma ferramenta promissora para suas pesquisas sobre a dieta desses organismos.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
Palavras-chave: Alimentação do zooplâncton, Fitoplâncton, conteúdo estomacal.