61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
    INFLUÊNCIA E IMPORTÂNCIA DA TRADIÇÃO ORAL NO MEIO EDUCATIVO  
Maríllia Pereira Gonçalves 1
1. Departamento de Planejamento e Administração da Faculdade de Educação da UnB
INTRODUÇÃO:

Nos últimos dez anos a sociedade civil brasileira se organizou para discutir, propor e realizar políticas públicas de educação voltadas para as questões étnico-raciais, o que resultou na elaboração e implementação da Lei 10.639/2003, que traz como obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em todas as escolas públicas e privadas do país. Esta lei, assim como a LDB (9394/96), apresenta um indicativo de reconhecimento sobre a diversidade de identidades étnico-raciais e culturais existentes no Brasil, baseadas na afirmação da igualdade dos direitos humanos. Porém, esse reconhecimento não basta apenas na lei é preciso que estas leis sejam verdadeiramente cumpridas por todos (as). E, com o objetivo de possibilitar o cumprimento efetivo destas leis é que  proponho um estudo mais aprofundado e real da inclusão desses conteúdos em uma escola pública da Ceilândia, onde pessoas envolvidas com a tradição e cultura popular levam para o ambiente educativo suas histórias de vida e experiências, de forma a valorizar cada educando em suas especificidades.

Não basta apenas estar na escola é preciso fazer parte da vida das crianças, da vida da escola. A valorização das crianças é de extrema importância para seu desenvolvimento. É necessário que elas se sintam incluídas e parte do amor, do respeito e do comprometimento com a educação esta inclusão.

Durante o período escolar, é a fase em que crianças e jovens estão se descobrindo, construindo suas identidades e para isso eles precisam de modelos. Como uma criança negra conseguirá construir uma auto-estima alta, se não percebe em seu ambiente ninguém igual ou parecido consigo? Os modelos que temos, são sempre de homens e mulheres brancos, esbeltos, em sua maioria loiros (as) e bem sucedidos. Como uma criança negra pode chegar a sonhar em ser algo diferente se o que se apresenta a ela são apenas homes e mulheres negros (as) em posições de subalternidade, de inferioridade? Quando crianças, o exemplo que recebemos é o que fica em nossa memória e é o que ajuda a moldar nossa personalidade. Existem exceções é claro. Mas é importante ter em mente que para construirmos uma educação em que todos sejam incluídos, é preciso repensar nossas ações e respeitar o outro sem lançar estereótipos já definidos.

Perceber e mudar a realidade existente sobre a forma como as relações étnico-raciais se estabelecem na educação a partir das Leis Federais citadas anteriormente e da Resolução CNE nº01/2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana; e que diferença a execução das mesmas faz na vida dos estudantes brasileiros é um desafio não apenas dos profissionais da educação, mas de toda a sociedade civil.

METODOLOGIA:

      Optei por realizar uma pesquisa de cunho qualitativa que demonstrasse que é possível trabalhar os conteúdos citados na lei Federal 10.639/2003, já citada anteriormente.  A referente pesquisa foi realizada no Centro de Ensino Fundamental 11 da Ceilândia no Distrito Federal, onde foi implantado um projeto do Ministério da Cultura (MINC) Ação Griô em parceria entre o grupo de capoeira Sol Nascente e a ONG e ponto de cultura Atitude Jovem. Em um primeiro momento busquei observar o comportamento dos adolescentes em relação ao projeto implantado na escola. Em um segundo momento, perceber as dificuldades e facilidades de se trabalhar com esses conteúdos em um ambiente institucional. No terceiro momento busquei saber a opinião das pessoas envolvidas no projeto (professores, alunos, profissionais da educação, oficineiros e o idealizador do projeto). Tomei conhecimento das opiniões dos participantes através de entrevistas. Por fim fiz uma análise dos dados coletados e dos resultados da implantação desse projeto na vida escolar desses estudantes.

RESULTADOS:

Ao final da pesquisa percebi como são necessárias outras intervenções dessa maneira que possam trabalhar a valorização dos (as) estudantes, inclusive no processo de construção de sua identidade. Percebi também como é possível trabalhar de formas diferentes e de maneira que todos e todas sejam realmente incluídos. Com os depoimentos dos alunos sobre o projeto e sobre a forma como foi trabalhado ficou evidente que essas questões não são discutidas no ambiente escolar e que o silêncio reforça cada vez mais situações de discriminação racial.

CONCLUSÃO:

Reconhecer a tradição oral é considerar que o patrimônio cultural brasileiro não se restringe ao que está escrito nos livros didáticos, ao que nossas crianças apreendem sobre elas mesmas nas escolas, é preciso ir além, a cultura não é propriedade apenas de pessoas letradas. Existe um universo cultural mais rico e vivencial que transpassa as barreiras da alfabetização e que permanece vivo e é transmitido de geração em geração  e  que abrange diversas áreas do conhecimento.

É preciso desenvolver um trabalho que valorize cada uma dessas crianças e jovens com suas particularidades, sua realidade, sua diversidade, para alcançar talvez algo perto de um processo de conhecimento e valorização que parta primeiramente delas, que sejam capazes de olhar no espelho e afirmarem sem medo ou desapontamento quem realmente são, que possam construir aos poucos como em um desenho feito com carinho para a mãe sua identidade, mas que essa construção seja individual e para si  e só então depois de saber quem é  construir uma nova realidade coletiva.

Instituição de Fomento: Universidade de Brasilia
Palavras-chave: Relações raciais, Educação, Processo de identidade.