61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
HISTÓRINHAS MAL CONTADAS SOBRE GALILEU E O USO DA HISTORIA DA CIÊNCIA NA SALA DE AULA
Julio Cesar Neves Campagnolo 1
Bruno Lopes LAstorina de Andrade 2
1. Departamento de Física - Universidade Estadual de Maringá
2. Instituto de Matemática - Universidade Federal do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO:
Cada vez mais o uso da história da ciência como recurso pedagógico no ensino vem sendo explorado em diversos trabalhos. Porém, muitas vezes, os professores não possuem uma formação sólida na área, absorvendo e utilizando os conhecimentos que chegam a ele através de outras pessoas e de diversos meios de comunicação (revistas, livros, documentários, reportagens, etc.). No entanto esses meios de comunicação podem transmitir alguma informação errônea sobre o tema que é transmitida indiretamente aos alunos, provocando a construção de conceitos equivocados sobre a ciência e a forma como ela se constrói. Em informações de caráter científico-técnico, esses erros são facilmente encontrados e corrigidos; porém, quando se trata da história da ciência, esses erros são mais sutis, mais dificilmente identificados e corrigidos. Isso facilita a formação de preconceitos nos alunos sobre a natureza da ciência – preconceitos que, via de regra, acompanham o aluno pela vida inteira.
METODOLOGIA:
Para a realização do trabalho foram consultadas obras traduzidas de Galileu Galilei, assim como trabalhos publicados a cerca deste cientista. Após esta faze passou-se para a identificação dos conteúdos envolvidos com este cientista que são abordados na grade curricular dos ensinos fundamental e médio. Identificando estes conteúdos foi elaborado um questionário relativo a episódios históricos relacionados a Galileu, que foi aplicado à estudantes de graduação em física na Universidade Estadual de Maringá, professores de ensino fundamental, médio e superior da cidade de Maringá e região, com o objetivo de identificar quais são esses conceitos errôneos citados. Também se buscou em diversos meios de comunicação (internet, revistas, livros, séries de documentários e reportagens de jornais) informações passadas que trazem conceitos históricos errados e/ou informações que induzem a interpretações erradas sobre diferentes episódios envolvendo o cientista citado. Ao final, formulou-se uma discussão sobre o como essas informações errôneas, quando passadas aos alunos produzem interpretações equivocadas sobre o desenvolvimento da ciência, o que, ao contrario do objetivo de melhorar o entendimento do aluno sobre a evolução da ciência, acaba por provocar e fixar conceitos errados na interpretação do aluno.
RESULTADOS:
Após a análise dos questionários, constatamos que erros comuns e teoricamente pontuais em mecanismos de divulgação científica, tal como a célebre frase “Galileu inventou o telescópio” acabam gerando um efeito dominó de conceitos errados sobre a história e a natureza da ciência, que, pela grande influencia ideológica que os professores exercem sobre seus alunos acabam sendo retransmitidos aos alunos, produzindo uma cadeia de transmissão de concepções erradas, “mitificando” muito da ciência conhecida por esta pessoa. A frase citada acima, por exemplo, acaba por gerar um mito sobre Galileu: ela o coloca em um nível acima dos homens normais, como um grande gênio, ignorando aspectos importantes que tornam seu personagem muito mais humano e falível, como o fato de sua defesa do telescópio não ter embasamento teórico, uma vez que não havia uma teoria adequada de ótica geométrica para embasar suas alegações. Em vez disso, gera-se a impressão de que a ciência foi construída por gênios isolados, com trabalhos isolados que, surgindo do nada, criaram modelos de universo para explicar a totalidade das coisas.
CONCLUSÃO:
Com tudo isso se conseguiu mostrar que às vezes a divulgação científica, quando feita sem um rigor nos dados expostos (aqui fala-se especificamente dos dados históricos) pode cumprir um papel inverso ao seu, no lugar de desmitificar aquilo que se expõe, acaba gerando conceitos errôneos que mitificam ainda mais, podendo abranger uma esfera bem maior, sobre as interpretações da construção de conhecimento como um todo. Em especial, quando essas concepções são criadas no processo educacional da criança, elas podem ser carregadas para a vida toda.
Palavras-chave: Galileu Galilei, Historia da física como recurso didático, Natureza da Ciência.