61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
ASPECTOS FENOLÓGICOS DE Himatanthus sucuuba (APOCYNACEAE) ESPÉCIE ARBÓREA DA VÁRZEA DA AMAZÔNIA CENTRAL
Maristela L. Farias 1
Lucilene Nascimento 2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
2. Centro de Ensino Federal Tecnológico do Estado do Amazonas -CEFET
INTRODUÇÃO:

           Os ambientes de várzea são nutricionalmente ricos, por receberem sazonalmente sedimentos dos rios de águas brancas, que drenam regiões geologicamente recentes (Irion et al. 1997). Esse enriquecimento é assegurado pelo pulso hidrológico que define uma fase aquática e uma fase terrestre anual (Piedade et al. 2001), a cuja alternância a biota deve se adaptar (Kozlowski 1997, Drew 1997), particularmente as espécies arbóreas sob impacto da inundação.

Dada a maior riqueza nutricional das várzeas, estes ambientes têm sido historicamente utilizados para diferentes atividades, como a bovino e bubalino culturas e agricultura, suprindo também a maioria da madeira utilizada no mercado madeireiro regional (Klenke & Ohly 1993). Diante desse quadro, estudos que elucidem os mecanismos adaptativos de árvores a diferentes níveis de inundação são fundamentais, para subsidiar planos de manejo e recolonização.

Um parâmetro eficaz para se conhecer o estado atual da vegetação e o potencial das espécies, é o monitoramento dos aspectos fenológicos das espécies arbóreas, o qual indica o estado  fisiológico da vegetação sob condições de estresse hídrico sazonal.

METODOLOGIA:

O trabalho de campo foi realizado de dezembro de 2000 a março de 2002, em uma área inundável de água branca na Ilha da Marchantaria, distante cerca de 20 km da cidade de Manaus (03° 15’ S e 60° 00’ W). A ilha encontra-se a aproximadamente 1.500 km da foz do rio Amazonas.

Foi selecionada a espécie Himatanthus sucuuba, por ser uma espécie utilizada na medicina popular, sendo observados com binóculo um número de dez indivíduos, cobrindo toda a área amostral. As categorias de folhas observadas foram: folhas novas (FN), maduras (FM) e velhas (FV).

RESULTADOS:

A fenologia de uma maneira geral, indicou que as fenofases vegetativa e reprodutiva relacionaram-se às flutuações no nível do rio na várzea (Parolin 2001, Worbes 1989). Quando em comparação com ambientes de terra firme, a várzea mostra-se mais responsiva aos reclamos de maior riqueza nutricional, advinda da região andina (Furch & Klinge 1989), por outro lado, as atividades antrópicas na várzea também contribuem para o aumento da temperatura média do planeta e da concentração de gases de efeito estufa como dióxido de carbono, ozônio, metano e óxido nitroso, os quais vêm aumentando devido a intensificação da atividade agrícola, industrial e de transporte, principalmente pelo uso de combustíveis fósseis (Kreibich et al. 2006).

Alguns resultados relevantes desse estudo mostram que, no final da cheia (jun/jul) na várzea, as plantas renovam a área foliar, com o lançamento de folhas novas que substituem as folhas maduras que tornam-se velhas e geralmente são atacadas por fungos e lagartas nesse período de águas altas. Quando nesse período H. suuuba apresentou 50% FN e 20% FM com cerca de 25% de perda foliar e 5% de FV, enquanto as espécies perenefólias como Calophyllum brasiliense mostram um padrão inverso com maior percentagem em FM com 50% e 20% FN (atacadas por herbivoria) e 25% de perda foliar e cerca de 5% de FV, no mesmo período observado.

A maioria das espécies arbóreas, no final da fase aquática, renova sua copa descartando as folhas velhas que anteriormente foram maduras. Nesse período as plantas sempre verdes apresentam metade da copa composta de folhas maduras, no entanto, estas são colonizadas por fungos com os quais mantêm associação simbiótica.

Na fase terrestre da várzea (set/nov), Himatanthus sucuuba apresentou copa esparsa com poucos ramos iniciando o lançamento de novas folhas, enquanto as perenifólias como a espécie C. brasiliense apresentou, no mesmo período, maior percentagem de folhas novas com 60% e de folhas maduras 40% da área foliar total.

O padrão encontrado corrobora com a grande adaptação da espécie ao pulso de inundação, conforme já observado por meio de outros parâmetros, como medidas de crescimento, analisados em estudos correlatos.

CONCLUSÃO:

Estes ambientes vêm sendo alterados, pela retirada da floresta inundável que estão sendo substituídas por pastagens, onde são introduzidas espécies exóticas não adaptadas ao regime de inundação (Piedade et al. 2001). Diante de alteração do bioma de várzea se faz necessário o conhecimento de espécies chave para subsidiar planos de manejo e preservação, particularmente das espécies arbóreas.

 

1. As fenofases vegetativa e reprodutiva relacionaram-se às flutuações no nível do rio na várzea. É reconhecido que a várzea é responsiva aos reclamos de maior riqueza nutricional, advinda da região andina, por outro lado, as atividades antrópicas praticadas na várzea, contribuem também com o aumento da temperatura média do planeta e da concentração de gases de efeito estufa como: dióxido de carbono, ozônio, metano e óxido nitroso, os quais vêm aumentando devido a intensificação da atividade agrícola, industrial e de transporte, principalmente pelo uso de combustíveis fósseis.

 

2. Na várzea, H. sucuuba apresenta emissão de novas folhas na vazante adentrando na fase terrestre, quando essa espécie mostra o pico de amadurecimento das folhas, pela produção de folhas maduras durante a fase terrestre da várzea;

 

3. A adaptabilidade das espécies arbóreas do ambiente de várzea, indicam que estas podem ser utilizadas para subsidiar planos de manejo e recolonização, inclusive podem ser testadas em ambientes não inundáveis, haja visto a habilidade em mudar as vias metabólicas para atender a demanda energética em condições de estresse.

 

Instituição de Fomento: CNPq, Convênio INPA/Max-Planck
Palavras-chave: áreas inundáveis, fenologia, alternativa para manejo. .