61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Karen Santos Amorim 1
Litza Pereira Santos 1
Flávia Roberta dos Santos Pereira 1
Lílian Miranda Bastos Pacheco 1
1. Universidade Estadual de Feira de Santana
INTRODUÇÃO:

A sexualidade possui grande relevância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois para além da potencialidade reprodutiva relaciona-se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, a sexualidade pode ser compreendida como algo inerente ao homem, que está presente desde o momento do nascimento, manifestando-se de formas distintas segundo as diversas fases da vida.

É de fundamental importância encarar a sexualidade para além de seus condicionamentos sociais. A educação na medida em que trabalha com a criança em desenvolvimento, deveria oferecer uma educação sexual baseada na perspectiva das relações de gênero, desprovida de repressões estereotipadas e preconceituosas, partindo do pressuposto de que é no campo social onde se constroem ou se reproduzem às relações de gênero e não no plano biológico.

Situada a relevância da referida temática, o propósito desta pesquisa foi o de mapear e analisar como o aspecto relação de gênero tem sido abordado nas produções acadêmicas na área da Educação Infantil, no período de 1990-2003.

METODOLOGIA:

Com o objetivo de realizar uma análise panorâmica do estado da arte das produções acadêmicas sobre gênero, na área da Educação Infantil, no período de 1990-2003, buscou-se determinar uma metodologia. Para tanto, utilizou-se como fonte de análise os artigos dos periódicos classificados pelo QUALIS-CAPES da área de Educação, ano base 2003, com conceito A e de circulação nacional, são eles: Avaliação (RAIES) – UNICAMP; Caderno Brasileiro de Ensino de Física – UFSC; Cadernos de Educação – UFPel; Educação PUC-RS; Educar em Revista – UFPR; Ensaio- Avaliação e Políticas Públicas em Educação – Fund. Cesgranrio; Perspectiva– UFSC; Pro-posições – UNICAMP; Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEP.

Os artigos foram selecionados segundo o critério de apresentação no título, resumo ou palavras-chave os seguintes descritores: creche, pré-escola, educação infantil, 0 a 6 anos, criança, infância, além de gênero. Foram analisados considerando os seguintes aspectos: data da publicação por ano e por periódico, autoria e filiação institucional, objeto de estudo, enfoques teórico e metodológico, e as conclusões dos autores acerca dos seus respectivos estudos.

 

 

RESULTADOS:

Das 183 produções acadêmicas no campo da Educação Infantil, no período de 1990 a 2003, apenas 14 abordam a temática gênero, representando assim 7,65 % das publicações. Observou-se que dos nove periódicos consultados, apenas três apresentam à temática abordada (onze no Pro-Posições; duas no Educação; uma no Caderno de Educação). Revelando assim, que esta ainda é pouco explorada, havendo, portanto, uma necessidade de se intensificar os estudos em torno deste determinado campo do conhecimento, no âmbito da Educação Infantil.

Outro aspecto a ser considerado, diz respeito à freqüência da publicação por periódico por ano. Concernente a isto, percebe-se que a referida temática só aparece a partir de 1995, tendo sua maior concentração em 2003, totalizando oito produções (57,14%). Vale ressaltar que neste último ano a revista Pro-Posições lançou uma edição especial sobre Educação Infantil e Gênero, justificando assim, a presença dos 11 artigos só neste periódico.

No que se refere à autoria, percebeu-se que esta área do conhecimento da Educação Infantil é hegemonicamente feminina, sendo 15 mulheres e 01 homem, num total de 16 autores.

Os estudos enfocam temas como: concepções, formação de professores, relações interpessoais, identidade de gênero e proposta ou prática educacional. Eles caracterizam-se metodologicamente por serem pesquisas bibliográficas ou pesquisas empíricas, se fundamentam em: abordagens sócio-histórico-culturais, nos estudos de gênero, da família das camadas populares e culturas infantis, nos estudos feministas, na Psicanálise e na abordagem pós-estruturalistas de análise. É unânime entre os autores a defesa da criança como um sujeito social, que possui e precisa vivenciar sua sexualidade, para além dos condicionamentos sociais, através de uma educação desprovida de orientações estereotipadas, preconceituosas e sexistas.

CONCLUSÃO:

Diante do exposto, observa-se à necessidade cada vez mais imperiosa dos centros de formação de professores, as universidades, estarem contemplando em seus currículos a temática “sexualidade infantil” e “relações de gênero”, de maneira que possibilite a estes profissionais, refletirem e construírem uma formação teórica sobre esta temática. Pode-se assim, desenvolver uma consciência a respeito da mesma, viabilizando uma prática pedagógica onde momentos de contatos físicos, reflexões e convivências desprovidas de repressões estereotipadas e preconceituosas, sejam constantes nas instituições de Educação Infantil.

Outro ponto de significativa relevância que os artigos aqui analisados não contemplam, diz respeito à necessidade de uma “re-educação” dos pais e responsáveis pela criança pequena, no que diz respeito à sexualidade infantil. Pois, como o próprio Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC/SEF, 1998, v. 2) aponta, mesmo quando o ambiente educacional é flexível e os professores possuem uma consistente formação para lidar com variadas manifestações sexuais da criança, os estereótipos carregados de preconceitos, promiscuidade ou até mesmo, conotando uma manifestação de algo “anormal”, podem surgir entre as próprias crianças, fruto do meio em que vivem. Sendo assim cabe ao professor criar oportunidades para que as crianças elaborem suas concepções sobre os papéis femininos e masculinos nas mais diversas situações.

Estudos como o de Gundersen, Melas, Skar (1984) e o de Stoll e Beranardes (1999) apontam algumas interferências que os adultos fazem sobre as manifestações sexuais da criança. Sinalizam que a falta de informação por parte dos familiares dessas crianças quanto à sexualidade infantil, acabam por contribuir para o estabelecimento de ambigüidades relacionadas aos papéis de gênero, comprometendo assim, o desenvolvimento sexual da criança.

Dessa maneira, faz-se necessário que tanto professores quanto pais ou responsáveis pelas crianças pequenas, possam através de uma educação consciente e crítica a respeito da sexualidade infantil, permitir a esses pequenos sujeitos o direito de viverem a sua própria sexualidade, encarando com menos preconceito esse aspecto inerente ao desenvolvimento infantil. Referente a isto, o RCNEI (MEC/SEF, 1998, v. 2) afirma que quanto mais tranqüila for à experiência do adulto no plano de sua própria sexualidade, mais natural será sua reação às explorações espontâneas infantis, evitando atitudes restritivas e “podadoras” no que se refere às manifestações sexuais das crianças, contribuindo para amenizar os sentimentos de ansiedade, vergonha e culpa que as crianças acabam desenvolvendo em relação a sua sexualidade por conta dessas atitudes discriminatórias dos adultos. Em suma, o presente estudo sugere o estabelecimento de um trabalho coletivo, integrado e participativo entre escola- aluna/o -família, sobre a sexualidade infantil na perspectiva das relações de gênero, possibilitando uma construção não hierárquica, mas de respeito na relação entre meninas e meninos. E, para além disso, quem sabe num futuro bem próximo, a construção de uma sociedade onde o respeito mútuo às diferenças, a desconstrução de formas hierárquicas de dominação e de diferenciação entre mulheres/homens, meninas/meninos seja superada, tornando a igualdade de gênero uma realidade.

Instituição de Fomento: CNPq, FAPESB e UEFS
Palavras-chave: Produção Acadêmica, Educação Infantil, Relações de Gênero.