A AFASIA É A “PERDA OU PERTURBAÇÃO DA LINGUAGEM CAUSADA POR LESÃO CEREBRAL” (BENSON & ARDILA, 1996: 3). ESSA DEFINIÇÃO, REPETIDA SISTEMATICAMENTE NA AFASIA MÉDICA E FONOAUDIOLÓGICA, DEIXA VER QUE TAL QUADRO PATOLÓGICO CARACTERIZA-SE POR UMA DUPLA PERTURBAÇÃO: ORGÂNICA (LESÃO CEREBRAL) E LINGÜÍSTICA (SINTOMA NA FALA/ESCUTA). TENDO EM VISTA QUE A TERAPÊUTICA DO AFÁSICO INCLUI ATENDIMENTO FONOAUDIOLÓGICO, MEU OBJETIVO NESTE TRABALHO É IDENTIFICAR PERSPECTIVAS TEÓRICAS E CLÍNICAS QUE, NO BRASIL, TEM SUSTENTADO A FORMAÇÃO DE CLÍNICOS ESPECIALIZADOS NESTE ATENDIMENTO. ESCLAREÇO QUE O FOCO DA INVESTIGAÇÃO ESTEVE VOLTADO PARA O MODO COMO INDAGAÇÕES SOBRE O FAZER CLÍNICO ESTARIAM (OU NÃO) CONTEMPLADOS NAS REFLEXÕES ENCAMINHADAS. NOTE-SE QUE PRETENDI EXPLORAR A RELAÇÃO TEORIA X PRÁTICA NO CAMPO DE UMA POSSÍVEL “AFASIOLOGIA FONOAUDIOLÓGICA BRASILEIRA”.

DUAS PERSPECTIVAS MOVIMENTAM OS ESTUDOS AFASIOLÓGICOS BRASILEIROS: (1) PERSPECTIVA NEUROLINGÜÍSTICA. CONFIGURADA PELA APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA NEUROLOGIA, LINGÜÍSTICA E/OU PSICOLOGIA, ABRIGA TRÊS DIFERENTES ABORDAGENS: (A) “ABORDAGEM ENUNCIATIVO DISCURSIVA”, REPRESENTADA PELO TRABALHO DA PROFª. DRª. MARIA IRMA HADLER COUDRY, NA UNICAMP; (B) “ABORDAGEM DO LABORATÓRIO DE NEUROLINGUÍSICA DA USP”, DISCUTIDA A PARTIR DO TRABALHO IMPLEMENTADO PELA PROFª. DRª. LETÍCIA LESSA MANSUR; (C) “ABORDAGEM DA NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA”, MOVIMENTADA NA REFLEXÃO DA PROFª. DRª. KARIN ZAZO ORTIZ, NA UNIFESP. EM (A) E (B) HÁ INFLUÊNCIA EXPLÍCITA DE VERTENTES AMERICANAS E EUROPÉIAS, COM ATRIBUIÇÃO DE GRANDE IMPORTÂNCIA AOS TESTES COMO INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO. JÁ (C) ROMPE COM OS DISPOSITIVOS AVALIATIVOS DA NEUROLINGÜÍSTICA CLÁSSICA, COLOCANDO EM RELEVO O DIÁLOGO COMO INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO; (2) PERSPECTIVA LINGÜÍSTICA. REPRESENTADA PELOS ESTUDOS AFASIOLÓGICOS ENCAMINHADOS NO PROJETO CNPQ Nº 522002/97-8 “AQUISIÇÃO, PATOLOGIAS E CLÍNICA DE LINGUAGEM”, COORDENADO PELA PROFA. DRA. MARIA FRANCISCA LIER-DEVITTO, NO LAEL/PUCSP, RECUSA A PRÁTICA DE APLICAÇÃO EM FAVOR DE UM DIÁLOGO TEÓRICO ENTRE DISCIPLINAS (LINGÜÍSTICA, FONOAUDIOLOGIA E PSICANÁLISE) E INTRODUZ A NOÇÃO DE “ESCUTA” COMO MOTOR PARA O “DIÁLOGO CLÍNICO”.

FOI POSSÍVEL VERIFICAR QUE NAS UNIVERSIDADES ONDE SE REALIZAM INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE A AFASIA E A CLÍNICA COM AFÁSICOS (UNICAMP, USP, UNIFESP, PUCSP), HÁ UM COMPROMISSO COM O TRIPÉ ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO. NELAS, A FORMAÇÃO DE TERAPEUTAS ESPECIALIZADOS SE FAZ EM CONSONÂNCIA COM A PESQUISA REALIZADA E EM FUNÇÃO DO ATENDIMENTO CLÍNICO OFERECIDO À COMUNIDADE. ENTRE AS PERSPECTIVAS TEÓRICO-CLÍNICAS IDENTIFICADAS, A QUE SE APRESENTA MAIS PROJETADA NACIONALMENTE É A “ABORDAGEM ENUNCIATIVO-DISCURSIVA” (BASE DA FORMAÇÃO NAS FACULDADES DE FONOAUDIOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO E DA UNIVERSIDADE TUIUTI, NO PARANÁ). NOTE-SE, ENTRETANTO, QUE A TENDÊNCIA DOMINANTE É A NÃO ADOÇÃO DE UMA PERSPECTIVA ÚNICA OU ESPECÍFICA NA FORMAÇÃO DE TERAPEUTAS BRASILEIROS, ESPECIALIZADOS NO ATENDIMENTO DE AFÁSICOS. NÃO POSSO DEIXAR DE COLOCAR EM RELEVO, TAMBÉM, O FATO DE QUE HÁ UM GAP ENTRE DEMANDA PARA ATENDIMENTO E NÚMERO DE PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS PARA REALIZÁ-LO. ISSO QUER DIZER QUE MEU TRABALHO ME LEVOU A IDENTIFICAR, DE UM LADO, A EXISTÊNCIA DE UMA AFASIOLOGIA FONOAUDIOLÓGICA BRASILEIRA, MAS, DE OUTRO, A PERMANÊNCIA DE UMA CARÊNCIA DE PROFISSIONAIS FORMADOS SOB INFLUÊNCIA DAS VERTENTES QUE A CONFIGURAM.