61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 2. Artes Plásticas
FUGA PARA A CONSTRUÇÃO DE TOPOS DIVERGENTE
Vicente Martos 1
Naira Ciotti 1, 2
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2. Prof. Dra.
INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem como base o conceito de Topos Cênico, istaurado por Renato Cohen em sua pesquisa de Performance Arte, nos livros Performance como Linguagem e Work in Progress na Cena Contemporânea. Segundo Cohen, a cena acontece em lugares físicos, mas esses lugares possuem seus próprios desdobramentos, que se caracterizam por lugares filosóficos, psicológicos etc. Os lugares que constituem o espaço urbano são estudados de maneira que busca entender a forma pela qual as pessoas se relacionam com ele e entre si, estabelecendo assim novas possibilidades para o Topos urbano das metrópoles atuais. A prática do diálogo caracteriza não só o território como extensão física e geográfica de um país, mas principalmente a territorialidade, que compreende as características subjetivas sociais e históricas formadoras do pertencimento e das identidades individuais e coletivas. O bem comum é sempre apontado como motivo para a construção de lugares públicos como praças e cidades, pois são neles em que as pessoas se encontram para dialogar. A ação performática é a força do corpo absorvendo o Topos, que compreende as características locais, as informações que a região carrega em si e que atingem os seres humanos de forma direta, subjetiva e superficial.

METODOLOGIA:

A tentativa de estabelecer uma metodologia para uma pesquisa de Performance Arte foi a de transformar o livro Performance Como Linguagem (Renato Cohen) em uma metodologia de trabalho. A Performance é arte de fronteira, é a quebra de convenções, uma estratégia para contestar padrões pré-estabelecidos. Partimos do pressuposto de que uma pesquisa em arte não poderia ser feita de outra maneira que não fosse fazendo arte. Assumimos o caráter teórico-prático, e então para cada encontro em que o quadro teórico fosse discutido, fazíamos um novo encontro onde os conteúdos fossem colocados em prática. Algumas performances foram desenvolvidas ao longo do ano, e entraram no relatório final como registros do processo (além da apresentação das mesmas como resultados parciais, dentro da universidade). Nesta pesquisa a arte não se classifica só como objeto pesquisado, mas também como forma de conhecimento, como metodologia de trabalho.   

RESULTADOS:

A pesquisa se encaminhou para a relação do corpo no ambiente urbano, dentro das metrópoles contemporâneas. Vivemos um incessante processo de globalização e modernização das cidades. As características específicas para cada lugar vão deixando de existir para dar espaço a imensas construções mundialmente padronizadas de concreto e vidro, de forma que o mapa das cidades vá progressivamente ganhando fronteiras mais específicas: na "malha urbana", não existem mais portas de acesso, mas sim costuras, à medida que os grandes edifícios não fazem parte da cidade, mas são uma tentativa de substituí-la, oferecendo aos que adentram o seu território todos os serviços vendidos como necessidades básicas para a vida contemporânea. Os cidadãos, em contrapartida, perdem o caráter de moradores pertencentes à cidade, e ganham as características de turista, uma vez que não participam mais da cidade e assumem um olhar contemplativo para aquilo que o cerca. Dentro da realidade atual, de que maneira os cidadãos se comunicam e se relacionam? Para quê tantas próteses acopladas ao corpo para se relacionar com o outro? E mais: de que forma a Performance entra nesta realidade e que relações ela promove?

CONCLUSÃO:

Os processos contemporâneos das cidades enfatizam uma progressiva modernização e padronização das cidades. As redes de comunicação mundiais e os grandes avanços tecnológicos no sentido da comunicação representam aqui um fator antagônico: o diálogo, a unidade fundamental e iniciática para a formação das cidades, está se perdendo gradativamente. É por causa do diálogo que os seres humanos passaram a se concentrar perto uns dos outros (ainda na pré-história, falamos aqui dos embriões das cidades, as aldeias primitivas). O convívio social surge como conseqüência do diálogo. Sendo assim, por que estamos parando de dialogar?

A Performance Arte é uma tentativa de estabelecer diálogo dentro desta realidade. Por isso o Topos Divergente: dentro de um ambiente não favorável, o cotidiano das metrópoles, ela abre uma porta, talvez uma dobra, um Topos que diverge do que está ao seu redor e propõe diálogo. A Performance, a medida que sai de dentro das salas de teatro e galerias de arte para ocupar espaços pertencentes as esferas públicas, leva o pensamento para onde ele não está: para o cotidiano.

Instituição de Fomento: PIBIC-CEPE
Palavras-chave: Topos-Cênico, Subjetividades, Cidades.