61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
ETHOS E A POLÊMICA COMO INTERINCOMPREENSÃO NO CAMPO DOS DISCURSOS POLÍTICOS
Luis Cláudio Aguiar Gonçalves 1, 2
Edvania Gomes da Silva 1, 2, 3, 4
Maria da Conceição Fonseca-Silva 1, 2, 3, 4
Vinícius Fonseca-Nunes 1, 2
1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários / Uesb
2. Laboratório de Análise de Discurso / LADis
3. PPG Memória: Linguagem e Sociedade
4. Profa. Dra./Orientadora.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho está inserido no âmbito do subprojeto “A relação entre ethos e cenografia na constituição do discurso tucano”, vinculado ao projeto de pesquisa “A materialização da polêmica discursiva entre PT e PSDB”, coordenado pela Profa. Dra. Edvania Gomes da Silva, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB. O Objetivo desta apresentação é verificar a relação entre ethos e interincompreensão no funcionamento da polêmica discursiva estabelecida entre dois posicionamentos, a saber: o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido dos Trabalhadores (PT). Para tanto, partiremos da análise do ethos e do anti-ethos de cada um desses posicionamentos, buscando verificar em que medida esse plano de análise relaciona-se com a noção de interincompreensão. Trata-se, portanto, de analisar a relação entre os dois posicionamentos supracitados, priorizando a imbricação entre a imagem de si e a construção de simulacros.
METODOLOGIA:
O corpus do trabalho é constituído por diferentes formulações que materializam os posicionamentos petista e tucano. Centrar-nos-emos, principalmente, nas campanhas eleitorais de 2008 das cidades de Contagem e Juiz de Fora, no Estado de Minas Gerais, e das cidades de Guarulhos e São Bernardo dos Campos, no Estado de São Paulo. A base teórica se constitui dos postulados da Escola Francesa de Análise de Discurso, notadamente dos trabalhos desenvolvidos por Dominique Maingueneau. O método que será aplicado na análise baseia-se no paradigma indiciário, modelo epistemológico atualmente utilizado em muitas pesquisas qualitativas, que emergiu no âmbito das ciências humanas no final do século XIX. Por fim, antes de iniciarmos as análises, é importante esclarecer que o interesse da pesquisa recai sobre os discursos materializados nos textos e não sobre os textos em si, nem tampouco sobre seus autores empíricos.
RESULTADOS:
As análises revelam que, no processo polêmico de interincompreensão estabelecido entre PT e PSDB, ambos os posicionamentos utilizam a criação do ethos e do anti-ethos, como forma de polemizar com o seu outro e de desacreditá-lo. O fiador petista busca na ratificação de sua natureza esquerdista e na imagem do administrador popular-competente, uma forma de convencer e provocar a adesão dos eleitores: “Esquerda contra direita, justiça contra desigualdades, inclusão contra exclusão, democracia social contra ditadura das elites, Marta contra Kassab /.../”. O jogo instalado com as oposições materializadas na fala do fiador tem a dúplice função de representar o que seria seu governo (construção do ethos), e, ao mesmo tempo, “mostrar” como, supostamente, seria a administração tucana, caso os eleitores optassem pelo PSDB (anti-ethos). Por outro lado, a atuação do fiador tucano na materialização da polêmica pode ser verificada no enunciado: “Muito obrigado pelo agradecimento e dizer que esse é nosso diferencial na vida pública: o que eu prometo eu cumpro!” O fiador do PSDB, ao afirmar que cumpre com suas promessas e usar tal afirmação para diferenciá-lo dos demais atores da vida pública (ethos), cria o pressuposto de que seus opositores não cumprem suas propostas políticas (anti-ethos).
CONCLUSÃO:
Os resultados permitem concluir que o posicionamento petista busca criar, por um lado, a imagem do administrador competente e do homem do povo, e, por outro, o anti-ethos do político incompetente e elitizado, para caracterizar seus opositores. Já os tucanos buscam, nas suas formações acadêmicas, a justificativa para serem eles os escolhidos pelos eleitores, por serem os mais instruídos e, por isso mesmo, os mais competentes para administrar (construção do ethos), e, na alegada falta de ética e de honestidade dos petistas (o anti-ethos criado pelo fiador tucano), a causa da má atuação e da incompetência administrativa do PT, aliada, é claro, a suposta falta de instrução de seus membros. Assim sendo, as análises indicam que é a partir da interincompreensão regrada, existente entre discursos opositores, pois esta funciona como um traço da semântica global de cada posicionamento, que os fiadores buscam os elementos capazes de individualizar o lugar de sujeito que habitam.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)
Palavras-chave: Discurso Político, Ethos, Polêmica.