61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 6. Morfologia
IMUNOLOCALIZAÇÃO DOS RECEPTORES ANDROGÊNICO E DE IGF-1 NA GLÂNDULA DE COAGULAÇÃO DE RATOS (UChB) FRENTE AO ALCOOLISMO CRÔNICO EXPERIMENTAL
Fábio Montico 1
Eduardo Marcelo Cândido 1
Wagner José Fávaro 1
Francisco Eduardo Martinez 2
Valéria Helena Alves Cagnon Quitete 3
1. Depto. de Anatomia – Instituto de Biologia (IB) – UNICAMP
2. Prof. Dr. – Depto. de Anatomia – Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu
3. Profa. Dra. – Depto. de Anatomia – IB – UNICAMP – Orientadora
INTRODUÇÃO:

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas tem alcançado proporções mundiais alarmantes, sendo o alcoolismo apontado como o terceiro maior problema de saúde pública. O etanol e seus metabólitos têm ação tóxica sobre o sistema reprodutor masculino, atuando de forma direta sobre a síntese de testosterona testicular, e também indiretamente, com efeitos deletérios sobre o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. As principais alterações morfológicas verificadas sobre este sistema foram: diminuição dos diâmetros dos túbulos seminíferos, depressão no nível de testosterona sérica, redução do peso das glândulas sexuais acessórias e diminuição significativa na altura do epitélio secretor. Também foi demonstrada a ocorrência de neoplasia intraepitelial prostática e de hipertrofia estromal nas vesículas seminais e na próstata. Os hormônios androgênicos e polipeptídeos como o IGF-1 desempenham papéis fundamentais na morfogênese e na fisiologia das glândulas sexuais acessórias, regulando a sinalização parácrina entre epitélio secretor e estroma. Assim, os objetivos deste estudo foram analisar as alterações morfológicas e imunohistoquímicas na glândula de coagulação de ratos submetidos ao uso crônico de álcool, bem como as possíveis recuperações após a interrupção da ingestão alcoólica.

METODOLOGIA:

Trinta ratos (10 Wistar e 20 UChB) com três meses de idade foram divididos em três grupos experimentais: grupo controle (10 Wistar), recebeu água ad libitum; grupo alcoolista (10 UChB), recebeu etanol diluído a 10% Gay Lussac ad libitum; e grupo abstinente (10 UChB), recebeu etanol diluído a 10% Gay Lussac ad libitum durante 120 dias e, em seguida, dieta similar ao grupo controle por 30 dias. Diariamente, foram realizadas mensurações das ingestões de água e/ou água + etanol, enquanto que o consumo da dieta em grãos e o peso corpóreo dos animais foram medidos semanalmente. Após 150 dias de tratamento, os animais foram sacrificados e realizou-se a coleta e pesagem de amostras da glândula de coagulação. Para a análise sob microscopia de luz, os cortes histológicos foram submetidos às técnicas de coloração por hematoxilina-eosina, tricrômico de Masson, prata amoniacal e resorcina-fucsina de Weigert. Para as avaliações imunohistoquímicas, foram localizados os antígenos AR e IGF-1R através dos anticorpos policlonais rabbit N-20 (sc-816) e rabbit N-20 (sc-712) (Santa Cruz Biotechnollogy), respectivamente. A intensidade da imunomarcação foi graduada como intensa (+++), moderada (++) ou fraca (+). As análises estatísticas foram realizadas com nível de significância de 5%.

RESULTADOS:

Os animais dos três grupos experimentais apresentaram ganho de peso durante o período do experimento. Além disso, observou-se que o peso da glândula de coagulação dos animais tratados com etanol foi inferior ao dos animais controles, embora essa diferença não tenha se mostrado estatisticamente significativa. Tanto os animais alcoolistas como os abstinentes apresentaram diminuição do pregueamento da mucosa e atrofia do epitélio secretor, caracterizando as células epiteliais como cuboidais, com núcleo ocupando grande parte do citoplasma. Entretanto, foram observadas áreas de recuperação epitelial nos animais abstinentes. Além disso, ambos os grupos apresentaram hipertrofia estromal, com nítido espessamento de fibras colágenas, reticulares e elásticas. Mais ainda, nos animais alcoolistas foram encontrados focos de células inflamatórias no estroma glandular. Intensa marcação de AR foi verificada em células epiteliais luminais e basais no grupo controle, sendo esta menos proeminente na porção estromal. Já nos grupos alcoolista e abstinente este receptor foi detectado com intensidade fraca, predominantemente em células epiteliais basais e estromais. O IGF-1R demonstrou intensa marcação estromal nos animais alcoolistas e abstinentes, comparados aos animais controles.

CONCLUSÃO:

O álcool afetou a biologia estrutural e molecular tanto do epitélio quanto do estroma da glândula de coagulação de ratos UChB submetidos ao alcoolismo crônico experimental, o que provavelmente interferiu de forma negativa na função reprodutiva desses animais. No grupo abstinente, após interrupção da ingestão alcoólica, o comprometimento foi de menor intensidade, considerando-se a ocorrência de recuperação epitelial. Contudo, a manutenção da hipertrofia estromal nestes animais revelou que o equilíbrio do órgão ainda devia estar alterado. Conclui-se também que o álcool influenciou negativamente a ocorrência dos receptores androgênicos, ao mesmo tempo em que levou ao aumento da imunolocalização de IGF-1R. Sendo este um receptor diretamente relacionado à proliferação celular, sugere-se que o álcool esteja atuando como um fator deflagrador de processos proliferativos, podendo predispor a glândula prostática à patogênese. Além disso, a localização inversa dos receptores androgênico e de IGF-1 nos grupos alcoolista e abstinente em relação ao controle sinalizaram outro importante ponto a ser analisado em diferentes patologias das glândulas sexuais acessórias, considerando-se a dependência androgênica destes órgãos e a capacidade proliferativa desse fator de crescimento.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP
Palavras-chave: Morfologia, Glândula de coagulação, Alcoolismo.