61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 5. Protozoologia de Parasitos
Estudo da ação de Diamidinas aromáticas (e análogos) contra o Trypanosoma cruzi “in vitro”    
M. G. O. Pacheco 1
D. G. J. Batista 1
E. M. de Souza 1
M. N. C. Soeiro 1
1. Fundação Oswaldo Cruz
INTRODUÇÃO:

Um século após sua descrição, a doença de Chagas causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi continua sendo um sério problema de saúde pública na América Latina. Sua atual quimioterapia, baseada em dois nitroderivados (Nifurtimox e Benznidazol), é considerada insatisfatória pois além de ter eficácia limitada (sobretudo na fase crônica da doença), causa graves efeitos colaterais. Por estas razões, a identificação de novos compostos que apresentem boa atividade tripanocida e baixa  toxicidade se faz de suma importância. Diamidinas aromáticas, como a pentamidina, são ligantes de DNA, com excelente atividade anti-tumoral e anti-parasitária mas que apresentam considerável toxicidade. Assim, a síntese de análogos desta classe de compostos tem sido realizada visando a identificação de agentes que mantenham eficácia mas que exerçam reduzida toxicidade em relação a pentamidina e a furamidina, e que possam ser administrados oralmente (prodrogas).

METODOLOGIA:

Análise do efeito Tripanocida: Formas tripomastigotas sanguíneas do T. cruzi foram incubadas em placas de 96 poços a 37°C e a 4°C, Visando a possível utilização dos compostos em bancos de sangue, Após 2-24 horas de tratamento (De Souza e cols, 2004). A atividade de cada composto foi expressa pelo cálculo do valor de IC50, que representa a dose mínima de cada droga capaz de matar 50% dos parasitos.

Avaliação da toxicidade in vitro: Culturas primárias de células cardíacas foram incubadas por 72 horas com doses crescentes (0-96µM) dos compostos e avaliadas pelo método do MTT (Silva e cols., 2008) para determinação do percentual de células viáveis e cálculo do LC50 (dose capaz de induzir perda de viabilidade em 50% das células). A avaliação de toxicidade sobre células de linhagem VERO foi realizada através do método de exclusão por azul de tripan.

Infecção das culturas e avaliação do efeito dos fármacos sobre formas amastigotas intracelulares: As culturas foram infectadas com tripomastigotas sanguíneos do T. cruzi (na razão parasita:célula de 10:1), e incubadas com diferentes concentrações das drogas. Após 72 horas de tratamento o número de tripomastigotas presentes no sobrenadante foi quantificado ao microscópio óptico e os resultados expressos pelos valores de IC50.

Localização dos compostos nas formas tripomastigotas sanguíneas e amastigotas intracelulares: Os parasitas livres e as culturas infectadas foram tratados com 10μg/mL dos compostos por 1 hora, e analisados ao microscópio de epifluorescência.

 

RESULTADOS:

 

Localização dos compostos nas formas tripomastigotas sanguíneas e amastigotas intracelulares: A análise por microscopia de fluorescência permitiu identificar os compostos no núcleo e, com mais intensidade, no cinetoplasto dos parasitos (formas sanguíneas e amastigotas).

Análise do efeito Tripanocida à 37°C: A avaliação da atividade dos compostos sobre formas tripomastigotas sangüíneas do T. cruzi, em meio de cultura a 37°C e em sangue, revelaram um efeito dose e tempo dependente em todos os compostos estudados. Após 24 horas de tratamento observamos que as DB1645 e DB1195 foram as mais efetiva, alcançando IC50 de 0,15 e 0,26µM, respectivamente, em presença de sangue a 4°C após 24 horas de incubação, a maioria dos compostos teve perda de atividade em especial as DB 1195, DB1645 e DB1080.

Avaliação da toxicidade in vitro e cálculo do índice de seletividade: Neste ensaio a amidina reversa e as diamidinas revelaram baixa toxicidade, exibida pelo percentual de células que incorporaram o corante azul de tripan (confirmado pelo teste de MTT), alcançando níveis máximos de cerca de 20% na maior dose utilizada (96µM). Por outro lado a monoamidina e a guanilhidrazona induziram maior perda de viabilidade celular, alcançando 100% e 60%, respectivamente na dose máxima de 96 µM.

Infecção das culturas e avaliação do efeito dos fármacos sobre formas amastigotas: Entre todos os fármacos estudados, a amidina reversa DB 613a revelou-se a mais ativa sobre amastigotas com IC50 de 0.76µM após 72 horas de tratamento. 

 

CONCLUSÃO:

A análise deste conjunto resultados confirma estudos de nosso grupo, sobre a efetividade de diamidinas aromáticas e análogos contra o Trypanossoma cruzi in vitro,em especial de amidinas reversas como a DB613a que apresentou uma excelente atividade tripanocida sobre amastigotas,bem como uma baixa toxicidade, mostrando-se uma excelente candidata para futuros ensaios em modelos experimentais.

Instituição de Fomento: CNPQ, PAPES IV e FIOCRUZ
Palavras-chave: T. cruzi, diamidinas aromáticas , quimioterapia .