O ecossistema de várzea esta localizado em áreas inundáveis da bacia amazônica cujos solos são constantemente renovados por causa da sedimentação natural que ocorre durante o período em que permanecem submersos. Nesse ambiente, desenvolvem-se plantas adaptadas fisiologicamente e morfologicamente aos efeitos do meio com característica marcante, como a madeira mais leve em relação as espécies de terra firme. Estudos de caracterização florestal são necessários para entender a composição florística e estrutural das florestas em ambientes de várzea em torno dos centros urbanos na Amazônia, como é o caso da cidade de Macapá-AP. Uma ferramenta capaz de realizar esta caracterização é a fitossociologia, esta que visa compreender e descrever as associações das espécies entre si, na comunidade vegetal e também as interações das espécies com o seu meio. A fitossociologia possibilita o conhecimento de biomas, proporcionando conhecer e a realizar uma avaliação momentânea das espécies que se encontram regenerando, permitindo a realização de estimativas sobre o comportamento e desenvolvimento futuro da floresta, pois fornece a relação e a quantidade de espécies que constituem o seu estoque, bem como suas dimensões e distribuição na área. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento florístico e fitossociológico de espécies arbóreas adultas e em fase de regeneração natural em uma floresta de várzea no município de Macapá-AP.

O trabalho foi desenvolvido numa área localizada na Zona Sul do município de Macapá-AP, denominada “Mata da Gruta do Zerão” (0°00’40,08”S e 51°06’15,07” O) no período de agosto de 2007 a julho de 2008. Para o levantamento fitossociológico foram locadas de forma sistemática 25 parcelas de 10x25 m (250m²), eqüidistantes em 25m entre si. No vértice das parcelas foram locadas as subparcelas de 5x5 m (25 m² ) para estudo de regeneração natural. Para o estudo de fitossociologia adotou-se como critério de inclusão, a circunferência à altura do peito (CAP) ≥ 15 cm e alturas correspondentes. A estrutura diamétrica foi realizada com a conversão de CAP para DAP (diâmetro à altura do peito), dividida em classes, a saber: DAP< 5m = classe 1; 5 ≤ h < 7m = classe 2; 7 ≤ h < 9m = classe 3; 9 ≤ h < 12 = classe 4; 12 ≤ h < 20 = classe 5; H > 20,0m = classe 6.. Para a regeneração natural, foram mensurados os indivíduos que apresentaram CAP < 15cm e alturas (H) ≥ 1m divididas em classes, em que a classe 1 contemplou indivíduos com 1,0 < (H) < 2,0m; a classe 2, com indivíduos 2,0 < (H) < 3m; e a classe 3, indivíduos com (H) > 3,0m. Além disso, os indivíduos mensurados foram distribuídos em 3 classes de diâmetro, sendo que cada fuste foi considerado um individuo , a saber: a classe 1 - indivíduos de DAP ≤ 1cm; classe 2 – indivíduos com 1 < DAP ≤ 2cm; e a classe 3 - indivíduos DAP > 2cm. As plantas dos estudos de fitossociologia e regeneração natural foram coletadas e etiquetadas, para identificação taxonômica no Herbário Amapaense do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), por meio de bibliografia técnica e comparação com exsicatas. As plantas não identificadas foram enviadas a especialistas. De posse dos dados dendrométricos e da identificação das espécies, foram calculados os seguintes parâmetros fitossociológicos, densidade relativa (DR), freqüência relativa (FR), dominância relativa (DoR), valor de importância (VI), valor de cobertura (VC) e índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’). Foi estimado ainda a regeneração natural para cada classe de altura (RNC) e posteriormente, a regeneração total (RNT) com a soma das classes de regeneração natural determinadas para cada espécie. As análises foram realizadas por meio do software Excel 2003 e MATA NATIVA Versão 2.0.

A composição florística da área de estudo foi representada por 536 indivíduos, pertencentes a 27 famílias, 62 gêneros, 78 espécies, sendo 7, não identificadas, obtendo um índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de 3,57 nats/ind. Já na regeneração natural, foram amostrados 626 indivíduos, distribuídos em 27 famílias botânicas, 57 gêneros e 86 espécies e 11 indeterminadas, o índice de diversidade de Shannon Wiener (H’) foi de 3,51 nats/ind. As espécies que mais se destacaram com maior valor de importância para área estudada no geral foram: Mora paraensis, Euterpe oleracea, Virola surinamensis, Guatteria amazonica e Rinorea racemosa. Já as que apresentaram os menores valores foram Inga capitata, Bombax munguba e as indeterminadas 10 e 2. As espécies arbóreas adultas com maior VI foram Euterpe oleracea, Pentaclethra macroloba, Mora paraensis, Guatteria amazonica e Virola surinamensis, já as espécies de maior VI na regeneração natural foram Mora paraensis, Virola surinamensis, Guatteria amazonica, Rinorea racemosa e Hevea brasiliensis. Entre as 86 espécies amostradas na regeneração natural, as três que obtiveram os maiores valores de (RNT) foram Mora paraensis, Guatteria amazonica, Virola surinamensis, a que apresentou maior percentual para RN na Classe 1 (RNC1) foi a Mora paraensis. Para RN na Classe 2 (RNC2) foi a Virola surinamensis e para RN na Classe 3 (RNC3) foi a Guatteria amazonica . Com relação à distribuição diamétrica Verificou-se uma forte presença de indivíduos nas primeiras classes, provavelmente devido a área ser bastante antropizada facilitando a entrada de luz solar, propiciando condições favoráveis para germinação das sementes que estão dispersas no solo, e, consequentemente o seu desenvolvimento. A grande quantidade de indivíduos na primeira classe gerou uma distribuição em forma de “j invertido”, demonstrando características de uma vegetação secundária ou em início de sucessão, a qual, possivelmente não apresentará problemas de regeneração.

Após a análise dos parâmetros fitossociologicos juntamente com os dados dendrométricos pode-se concluir que a floresta estudada denominada Mata da Gruta do Zerão é uma floresta secundária ou se encontra em estágios iniciais de sucessão. As espécies de maior potencial de regeneração natural também foram encontradas bem representadas na fase adulta o que leva a crer que possivelmente estas espécies estarão formando o futuro dossel da floresta e serão as principais responsáveis pela manutenção da estrutura e fisionomia da floresta. A espécie Euterpe oleracea conhecida como açaí pode vir a desaparecer do local, pois mesmo sendo a de maior valor de importância no estudo arbóreo adulto a espécie sofre uma constante pressão antrópica, devido o seu potencial econômico e de acordo com o estudo apresentou uma baixa capacidade de regeneração na área estudada.