61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
ESTUDO FITOQUÍMICO E DE ATIVIDADE BIOLÓGICA DE Endopleura uchi
Viviane Guedes de Oliveira 1, 2
Rita da Cássia Saraiva Nunomura 1, 2
Sergio Massayoshi Nunomura 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
2. Universidade Federal do Amazonas-UFAM
INTRODUÇÃO:

Na Amazônia, é muito comum o tratamento de doenças através da utilização de plantas medicinais. A rica biodiversidade que a Amazônia oferece aliado ao uso tradicional de plantas já conhecidas tem despertado cada vez mais o interesse pelo estudo de espécies vegetais da região. Visando validar o uso dessas plantas, a área de pesquisa em produtos naturais tem desenvolvido estudos de plantas com propriedades descritas pelas comunidades. Entre as espécies utilizadas popularmente está Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. (Humiriaceae), conhecida como uxi-amarelo ou uxi-liso. Popularmente duas partes do uxi-amarelo são utilizadas, as cascas e os frutos. Suas cascas, quando consumidas na forma de chá são conhecidas como potente antiinflamatório indicado para inflamações uterinas, miomas e cistos ovarianos. A identificação dos princípios ativos dessa espécie, bem como a confirmação da atividade biológica, empregando sistemas "in vitro" e "in vivo", possibilitarão o uso popular mais seguro dessas plantas e ainda o desenvolvimento futuro de produtos fitoterápicos, a partir dessas espécies vegetais.

METODOLOGIA:

O trabalho iniciou-se com a coleta de cascas, folhas e galhos de E. uchi na Reserva Adolpho Ducke do INPA. O material vegetal foi tratado e em seguida foram efetuadas extrações em aparelho de Sohxlet, utilizando metanol. Os extratos metanólicos, foram submetidos a um fracionamento por partição líquido-líquido utilizando hexano, clorofórmio e acetato de etila. Foram realizadas também extrações por maceração a frio, utilizando como solventes hexano e posteriormente metanol. Dos extratos de cascas e folhas de E. uchi foi isolada a bergenina, um derivado do ácido gálico conhecido por sua atividade antiinflamatória. Com o objetivo de determinar a concentração de bergenina presente no chá das cascas de E. uchi foi realizada a quantificação por CLAE (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) em fase reversa. A concentração de bergenina nas cascas de E. uchi foi de 3,18%, indicando uma alta concentração e confirmando a substância como sendo o principal constituinte presente nas cascas de E. uchi. A atividade antiinflamatória do extrato aquoso das cascas de E. uchi também foi investigada para confirmar o uso popular da planta como antiinflamatório. Foram avaliadas três importantes enzimas relacionadas aos processos inflamatórios: a fosfolipase (PLA2) e as ciclooxigenases COX-1 e COX-2.

RESULTADOS:

Os resultados expressaram uma concentração de 3,18% de bergenina no extrato aquoso indicando a substância como o principal constituinte das cascas de E. uchi, que é a parte utilizada segundo a medicina popular no combate a inflamações uterinas. Os ensaios de atividade antiinflamatória in vivo e in vitro confirmaram a potencialidade do chá das cascas da espécie. Ensaios de atividade antiinflamatória in vitro não haviam sido realizados até o presente estudo. A atividade inibitória seletiva de COX-2 confirma o potencial antiinflamtório da bergenina mostrando essa substância como um possível modelo promissor de drogas antiinflamatórias não-esteroidais. Esse resultado apresentou relação com a segunda fase do teste da formalina, sendo mais bem caracterizada como dor de origem inflamatória, sensível a analgésicos antiinflamatórios não-esteroidais. Esses resultados quando associados demonstram que a espécie E. uchi pode proporcionar o desenvolvimento de novos fármacos visto que os inibidores de COX-1 agem na redução da inflamação porem são nocivos a mucosa estomacal enquanto os inibidores seletivos de COX-2 não mediam feitos colaterais tão evidentes.

CONCLUSÃO:

Os resultados obtidos da quantificação da bergenina nos chás das cascas por CLAE e da atividade seletiva antiinflamatória explicam a eficiência do chá das cascas do uxi-amarelo usado pela população local para a redução de inflamações do aparelho reprodutor feminino. A atividade antioxidante de extratos e frações não pode ser atribuída somente à presença de bergenina na composição, visto que esta apresenta atividade inferior quando comparada aos valores obtidos para os extratos e frações. Logo, os componentes antioxidantes da espécie devem ainda ser investigados, pois é possível que outras substâncias antioxidantes possam ainda apresentar atividade biológica significativa visto que a atividade antioxidante está relacionada com a atividade antiinflamatória fornecendo assim objeto de estudo para futuros projetos.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas-FAPEAM
Palavras-chave: uxi-amarelo, antiinflamatório, bergenina.