61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 5. Zoologia Aplicada
AVALIAÇÃO DO USO DE COSTELAS PARA ESTIMATIVA DE IDADE EM PEIXES-BOIS.
Gisele de Castro Maciel 1
Vera Maria Ferreira da Silva 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia / INPA
INTRODUÇÃO:
O peixe-boi da Amazônia Trichechus inunguis (Naterrer, 1883) pertence à ordem Sirenia, é o menor entre as espécies de peixes-bois e o maior mamífero aquático da região. Pode medir até 3m e pesar 450kg (Husar, 1977; Best, 1984). Nos estudos de estimativa de idade em mamíferos aquáticos usam-se ossos longos, ossos do crânio e dentes, onde estão presentes as camadas de crescimento ou GLG’s, que são partes do tecido ósseo apropriadas a deposição de elementos químicos e íons. Cada camada de crescimento equivale a um ano de vida do animal estudado (Klevezal, 1996). No caso de peixes-bois que trocam de dente a vida toda, essa estrutura não é adequada, os ossos são muito densos, e as estimativa de idade são realizadas usando o osso do domo timpânico (Marmontel, 1993; Albuquerque, 2003). Quando se encontram peixes-bois mortos, estes nem sempre estão com o crânio completo e a bula timpânica disponível. As costelas, entretanto, estão em boas condições e são mais numerosas, daí o interesse em testá-las como indicadores de idade na ausência da bula timpânica. Este estudo tem como objetivo verificar se costelas de peixe-boi da Amazônia apresentam linhas de camadas de crescimento adequadas para estimativas de idade e determinar a melhor área da costela para a leitura das GLG´s.
METODOLOGIA:

Foram utilizadas duas costelas de peixe-boi da Amazônia sem identificação e sem a idade, provenientes da Coleção de Mamíferos Aquáticos do INPA. A metodologia adotada foi a mesma proposta por Marmontel (1993) em seu estudo sobre a estimativa de idade em peixes-bois marinhos usando o domo da bula timpânica. As costelas foram lavadas com água corrente, medidas com o auxílio de uma fita métrica e um paquímetro para a escolha das porções a serem utilizadas neste estudo. As costelas foram dividas em cinco partes, da cabeça a base da costela (a disposição do tecido ósseo (cortes I, II, III, IV e V), começando da base até o ápice. Cada uma dessas partes foi cortada no centro com o auxílio de uma serra circular de baixa rotação para a obtenção de fatias de 0,6cm. Essas fatias foram desmineralizadas em agente desmineralizante comercial RDO®, e seccionadas em micrótomo de congelamento à espessura de 40µm. Essas microsecções foram coradas em hematoxilina de Mayers por 20 minutos, lavadas em água corrente por 10 minutos, mergulhadas em amônia diluída em água destilada (1:100), desidratadas em glicerina 50% e 100% (10 minutos cada), montadas entre lâmina e lamínula embebidas em glicerina pura e então seladas com Entellan® para realização da leitura das camadas de crescimento.

RESULTADOS:
Nos cortes I (base da costela) das duas costelas, a organização do tecido ósseo é mais nítida, podendo ser observadas células da camada vascular primária e secundária e as linhas de camada de crescimento não são tão evidentes devido a forte presença de células ósseas em desenvolvimento. Nos demais cortes (cortes II, III, IV e V) foram visualizadas quatro linhas de camadas de crescimento (GLG´s) por lâmina examinada, sendo que no cortes II, III e IV, essas linhas foram melhor definidas devido o processo de compactação óssea nas costelas, ao longo do desenvolvimento do animal. Em peixes-bois marinhos, no entanto, essa mesma característica (paquiostose) foi considerada um impedimento na formação de camadas de crescimento nítidas (Marmontel, 1993).
CONCLUSÃO:
Este estudo mostrou que, na ausência da bula timpânica as costelas de peixe-boi da Amazônia podem ser usadas para estimativa de idade, pelo menos em indivíduos jovens nessa espécie. No entanto, outras análises com costelas de animais mais velhos e de idade conhecida devem ser desenvolvidos para comprovar a eficácia dessa estrutura.  A melhor área da costela para leitura de anéis de crescimento em peixes-bois da Amazônia jovens são as áreas posteriores à cabeça da costela (cortes II, III e IV) pois estas apresentam estrutura óssea mais organizada.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: Estimativa de idade, Peixe-boi, Mamíferos aquáticos.