61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
PEDAGOGIA DAS ATIVIDADES CIRCENSES: JOGOS DE MALABARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Pedro Henrique Godoy Gandia Pinheiro 1
Marco Antônio Coelho Bortoleto 1, 2
1. Faculdade de Educação Física / FEF - Universidade Estadual de Campinas / UNICAMP
2. Prof. Dr. / Departamento de Educação Motora / DEM
INTRODUÇÃO:
A aproximação da Educação Física com o Circo tem se tornado cada vez mais evidente, não exclusivamente pelo caráter motor das atividades circenses, mas especialmente pelo legado patrimonial do circo enquanto parte da cultura corporal. Sendo a escola a principal instituição responsável pela transmissão destes saberes, entende-se que é na educação física escolar que tais atividades devem ser tratadas. Considerando as pesquisas realizadas no Brasil e no exterior, que analisam a inclusão das atividades circenses no ambiente escolar, a presente pesquisa reuniu e elaborou, em um primeiro momento, um conjunto de “jogos malabarísticos”, aplicando-os a um grupo de crianças entre 5 e 14 anos participantes do projeto de extensão universitária da FEF-UNICAMP a fim de analisar e adequar cada jogo as idades, nível dos participantes, bem como a formatação de uma seqüência pedagógica que pensamos ser a mais correta. Em um segundo momento os jogos foram aplicados a dois grupos de alunos de 4º e 5º anos do ensino fundamental do Colégio Educap de Campinas, com o intuito de se comparar qualitativamente uma pedagogia voltada aos jogos e a ludicidade e outra possibilidade pedagógica voltada para o gesto técnico. Esperamos que esta pesquisa contribua com a divulgação e ampliação das atividades circenses como saberes a serem tratados na educação física escolar, bem como criar novos questionamentos acerca da forma que este tema pode ser trabalhado, permitindo com isso que o aluno vivencie novas experiências, as quais contribuam com a sua formação, apontando sempre para uma educação física renovadora.
METODOLOGIA:
Na primeira etapa do projeto, foi elaborado um conjunto de 15 jogos malabarísticos, conforme modelo proposto por Bortoleto (2006), os quais foram aplicados à um grupo de 15 alunos, com idade entre 5 e 14 anos, do projeto de extensão de Atividades Circenses da FEF-UNICAMP. As aulas ocorreram uma vez por semana, com duração de uma hora ao longo de dois meses. Todas as aulas foram documentadas em vídeo, com ajuda de um auxiliar-bolsista, para futura análise. Foi solicitada a autorização dos pais para a gravação dos jogos. Posteriormente as imagens foram passadas para o formato DVD e separadas por jogo para facilitar a análise. Neste momento, os jogos foram realizados em ordem aleatória, para que com o decorrer das atividades pudessemos adequar os mesmos no que se refere a idade, número de participantes, possíveis variações e adaptações. Como resultado desta etapa foi criada uma seqüencia pedagógica para os jogos, isto é, uma ordem que acredita-se ser a mais adequada segundo a complexidade dos jogos e as respostas dos alunos durante a vivência prática. Na segunda etapa, foram realizadas 4 aulas de malabares com 2 grupos de alunos com idade entre 8 e 10 anos, do ensino fundamental do Colégio Educap de Campinas. Os grupos realizaram as aulas em horários distintos: o Grupo 1 utilizou uma pedagogia voltada apenas para a técnica dos movimentos malabarísticos; já o Grupo 2 trabalhou com uma pedagogia exploratória cujo foco estava na prática dos jogos (segundo a seqüencia determinada na primeira etapa do projeto). Todas as aulas foram documentadas em video para futura análise. No primeiro dia de aula foi realizado um teste inicial, que consistiu de 4 tentativas para cada aluno, de forma individual, de realizar o movimento “ Cascata” do malabares (tecnicamente denominado 333). No último dia, após as 4 sessões de aulas, repetimos o mesmo teste para buscar registrar se houve ou não aprendizado desta habilidade. Também foi solicitada a autorização dos pais e responsáveis e da direção da escola para o registro das aulas.
RESULTADOS:
Durante as aulas realizadas na primeira etapa, foram feitas observações sobre cada jogo específico, que contribuiram para o aperfeiçoamento dos mesmos, bem como um melhor entendimento do momento oportuno que cada jogo deveria ser tratado (uma ordem mais objetiva e lógica), considerando a idade dos participantes para cada jogo, o nível de complexidade e nível de habilidade motora exigido pela atividade, o número de alunos que participam, entre outros fatores. De acordo com estas observações e a análise destes dados, foi elaborada uma ordem ou sequência dos jogos, que acreditamos ser a mais adequada para aplicação na educação física escolar com esta faixa etária. Na segunda etapa, após serem realizadas as aulas com os dois grupos, utilizando procedimentos pedagógicos distintos (uma voltada para o gesto técnico e outra para atividades lúdicas – jogos), observou-se que a qualidade da execução do movimento de “cascata” não apresentava grandes diferenças entre os alunos de ambos os grupos. No entanto, o interesse na aula, bem como aspectos de motivação, participação e aplicação foram notoriamente mais evidente no grupo que foi abordado utilizando os jogos como recurso lúdico-pedagógico. Cabe ressaltar neste momento que o teste de execução do movimento cascata foi aplicado tendo em vista, somente, mensurar de alguma forma a evolução qualitativa do movimento cascata, não devendo este ser em nenhum momento o objetivo final do aprendizado nas aulas de educação física escolar, e sim possibilitar ao aluno vivenciar outras possibilidades e experiências que contribuam para sua formação através das atividades circenses.
CONCLUSÃO:
Nossas observações indicam que a ordem com que são trabalhados os jogos interfere na capacidade e no interesse dos alunos em participar das atividades propostas. Isso significa que os professores devem atentar-se para a ordem de complexidade dos jogos em relação aos conhecimentos dos alunos que irão realizá-los, sem deixar que as aulas de educação física sejam realizadas de forma aleatória e sem uma reflexão inicial acerca do conteúdo que será abordado. Entendemos que a aplicação dos jogos numa ordem que melhor atenda as possibilidades dos alunos poderá ampliar as possibilidade de sucesso, isto é, de que os alunos desfrutem e aprendam as atividades. Por outra parte, uma apresentação clara dos jogos, bem como de seus detalhes (espaço de jogo, materiais, número de crianças que podem participar etc.) permite aos professores um material de grande valor, amplo e diverso, com o qual ele poderá renovar suas aulas. Assim esperamos que os professores possam gradativamente oferecer as atividades circenses, em particular o malabares, como defendem Bortoleto (2004), Duprat e Bortoleto (2007) entre outros, como mais uma opção de atividade física lúdica nos espaços escolares e educativos. De forma qualitativa concluímos que a metodologia de trabalho baseada numa pedagogia lúdica, neste caso nos jogos malabarísticos, foi a opção que resultou numa maior participação e interesse. Acreditados que isso se deva a capacidade do jogo de atrair, desafiar e conquistar as crianças, e assim facilitando o desenvolvimento do conteúdo a ser vivenciado. Obviamente fica a cargo de cada profissional a escolha da maneira de como se trabalhar, porém a pesquisa pretende auxiliar e apontar na direção de uma educação física que contemple novas atividades e formas de vivenciá-las, cujo componente lúdico é fundamental. Finalmente, cabe destacar que esta pesquisa levantou uma nova questão, que certamente merece ser abordada futuramente: Quantas aulas são necessárias para que realmente exista uma assimilação do malabares, a fim de que o aluno possa vir a praticá-lo em espaço que não a aula de educação física?
Instituição de Fomento: PIBIC / CNPq
Palavras-chave: educação física escolar, atividades circenses, malabares.