61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
PRATICA DISCURSIVA E DISCURSOS FUNDADORES: RENOVAÇÃO CARISMÁTICA EM FOCO.
João Antônio Alves Guimarães 1, 2
Edvania Gomes da Silva 1, 2, 3, 4
Maria da Conceição Fonseca-Silva 1, 2, 3, 4
1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários /Uesb
2. Laboratório de Análise de Discurso / LADis
3. PPG Memória: Linguagem e Sociedade
4. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa faz parte do subprojeto “A prática carismática e sua relação com os discursos fundadores”, vinculado ao projeto de pesquisa “O funcionamento da memória no discurso religioso: a Renovação Carismática Católica em foco”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Edvania Gomes da Silva, e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologia (CNPq). O objetivo do trabalho é analisar a relação entre discurso e memória com base no estudo de alguns aspectos discursivos do posicionamento carismático. Para tanto, verificar-se-á de que forma o campo religioso reatualiza os ditos “discursos fundadores”, tais como o jurídico e o político, nas formulações presentes em diferentes gêneros relacionados à prática discursiva da Renovação Carismática Católica. O fundamento teórico da pesquisa se baseia na arqueogenealogia foucaultiana, e nos conceitos desenvolvidos pela Análise de Discurso Francesa, principalmente na noção de discurso constituinte, presente nos trabalhos de Dominique Maingueneau.

METODOLOGIA:
O corpus do trabalho foi coletado, do mês de janeiro ao mês de fevereiro, na maior fonte de informação atual: a rede mundial de computadores (internet). Visitamos o site da Renovação Carismática Católica e verificamos as diversas formulações presentes nas reportagens, artigos, textos de opinião, matérias, propagandas e imagens que materializam a prática carismática. Concomitantemente à coleta dos dados, realizamos leituras, discussões, resenhas e fichamentos dos escritos de Michel Foucault (1969; 1971; 1973) assim como de textos de Maingueneau, entre outros vinculados à Escola Francesa de Análise de Discurso (AD). Por fim, procedemos à análise dos dados, com base no dispositivo teórico-analítico da AD. Vale salientar que este trabalho é parte integrante de um subprojeto que se encontra em sua fase inicial, por isso, as análises realizadas até o presente nos permitem apenas resultados parciais.
RESULTADOS:

As análises indicam uma unidade na dispersão, em meio a diferentes enunciados. Trata-se da discursivização de diferentes enunciados que se materializam na prática carismática. Tais enunciados são estruturados no interior de um sistema de formação que compreende tudo que já foi dito no âmbito da prática carismática. Assim, verificamos uma posição de sujeito que indica uma moralidade religiosa e eclesiástica materializada em diferentes formulações, tais como: “Ano novo chega, e muita gente começa a se preparar para o carnaval. Para nós, RCC, esta data é um momento propício para semearmos a Cultura de Pentecostes através da alegria, entusiasmo, santidade, carismas /.../. Festejar carnaval santamente revela que não somos um povo sem identidade, fraco, desanimado. Ao contrário, somos uma geração que não compactua com o mal, que põe sua força em Jesus Cristo, o Senhor.” No excerto transcrito, retirado de um artigo do site da RCC, nota-se a materialização de uma posição de sujeito que se identifica com uma imagem de “santidade”. Trata-se da linearização de uma suposta moralidade religiosa que se contrapõe àquilo que, no texto, é apresentado como falta de identidade, fraqueza ou desânimo. Nesse sentido, o enunciador carismático se opõe ao que considera como “uma geração que compactua com o mal”. Tal posicionamento relaciona-se, em certa medida, com a imagem de moralidade propagada no âmbito do discurso jurídico. É nessa perspectiva que se instaura entre o discurso presente na prática carismática e o discurso jurídico um processo de legitimação relacionado à emergência no interdiscurso de enunciados que servem de norma e como garantia da materialização de certas posições de sujeito. Dessa forma, verifica-se, no discurso materializado nos textos da RCC, a busca de uma autoridade normativa que legitime suas formulações.

CONCLUSÃO:

Os resultados permitem concluir que a prática carismática configura-se como uma unidade não tópica pela qual podemos assinalar um sistema geral de formação e de transformação dos seus enunciados. Trata-se, em certa medida, de uma “sociedade de discurso” com características que a relacionam a outros discursos fundadores, tais como o político e o jurídico. Dessa forma, constatamos a pretensão do movimento carismático em não reconhecer outra autoridade, além da sua, de não admitir quaisquer outros discursos acima deles. Entretanto, nota-se a existência de uma interação entre os discursos constituintes, apesar de eles negarem essa interação ou simplesmente pretenderem submetê-la a seus princípios. O discurso jurídico é uma retualização formalizada e institucionalizada dos discursos sociais cotidianos, constituído por dogmas e princípios. Nesse sentido, juntamente com o discurso religioso, o discurso jurídico caracteriza-se como evidentemente constituinte. Por outro lado, o discurso político opera sobre um plano diferente, situando-se na confluência dos discursos fundadores sobre os quais se apóia, e invocando o discurso religioso, filosófico, científico, jurídico, para se legitimar e dar sentido aos atos da coletividade.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologia (CNPq)
Palavras-chave: Análise do Discurso, Renovação Carismática, Discursos fundadores.