62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
AS COOPERATIVAS DE CONFECÇÃO EM FORTALEZA E ACARAPE: UM ESTUDO COMPARATIVO
Myllene Ramalho de Oliveira 1
Maria Helena de Paula Frota 2, 1
Renata Gomes da Costa 1
Denise Furtado Alencar Lima 1
Thais Cristine de Queiroz Costa 1
Janaina de Sousa da Silva 1
1. CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE
2. Profª Drª/ orientadora
INTRODUÇÃO:

O processo de reestruturação produtiva no Brasil se intensificou a partir da abertura econômica, impulsionada pelo avanço neoliberal, introduzindo elementos considerados "novos" e mantendo relações "antigas", ocasionando uma série de mudanças nas empresas, no tocante a adoção de tecnologia, como na reorganização espacial, e utilização de novas formas de gestão da força de trabalho. Nesse contexto, velhos fenômenos vêm ganhando novas configurações, como é o caso da terceirização (antiga subcontratação), que passou a ser o principal instrumento utilizado pelas empresas para conseguir atingir os níveis de competitividade internacionais. Atendendo a essa exigência e impulsionada pela necessidade de atrair investimentos, alguns estados, principalmente no Nordeste do país, vêm trabalhando em parceria com grandes empresas, na criação de cooperativas de produção ou trabalho, que tem como objetivo a geração de emprego e renda. Dessa forma, esse estudo se constitui em uma abordagem deste fenômeno na Cooperativa dos Produtores de Confecção de Acarape Ltda, buscando resgatar sua origem, analisar os mecanismos de funcionamento e seus objetivos, as relações de gênero que entrecruzam o trabalho de homens e mulheres e uma análise comparativa com as cooperativas de Fortaleza.

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos foram: levantamento bibliográfico, documental e estatístico sobre as cooperativas em estudo; pesquisa exploratória; realização de entrevistas e/ou questionários; roteiros de observação da situação investigada que foram aplicados entre mulheres e homens envolvidos com o objeto de investigação. Foram elaborados dois questionários diferentes, um para a administração da cooperativa e outro para os trabalhadores da cooperativa. Este último foi confeccionado considerando o sexo de cada cooperado, havendo questões específicas para homens e mulheres. Após análise dos dados observados na cooperativa de Acarape, elencamos as cooperativas de Fortaleza para agendamento de visitas exploratórias. Para tal visitou-se a Cooperativa de Mulheres Arte e Costura, localizada no Bairro Castelo Encantado, a fim de coletar dados para análise comparativa entre o que se observou em Acarape.

RESULTADOS:

A Cooperativa dos Produtores de Confecção de Acarape originou-se em 1993 com a chegada da empresa Kao Lin principal produtora de confecção em larga escala no município. Em 1998 Kao Lin encerra suas atividades ocasionando expressivo número de desempregados que posteriormente passaram a trabalhar nas cooperativas. A cooperativa de Acarape produz diariamente sete mil peças (jeans e brim); o trabalho é especializado; a renda mensal das trabalhadoras é de um salário mínimo.As trabalhadoras não possuem direitos trabalhistas, fato evidenciado como uma das dificuldades. Outras dificuldades elencadas foram: infra-estrutura insuficiente; ausência de instituições parceiras; falta de investimento e linhas de crédito. Em Fortaleza a Cooperativa de Mulheres Arte e Costura foi fundada em 1999 por mulheres que estavam desempregadas. A cooperativa é composta por 25 mulheres e um homem; o trabalho é especializado; o homem encarrega-se da administração da cooperativa enquanto as mulheres costuram. As cooperadas destacaram: falta de direitos trabalhistas e o fato de viverem em uma comunidade pesqueira em que o homem pesca e a mulher responsabilizar-se pelo serviço doméstico, sendo difícil aceitação que as mulheres trabalhem fora do âmbito doméstico, por isso muitas desistiram da cooperativa.

CONCLUSÃO:

Historicamente é designação feminina o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos, mesmo quando as mulheres adentram ao mercado de trabalho. Fato ratificado no discurso das cooperadas entrevistadas, principalmente as de Fortaleza que residem numa comunidade pesqueira em que os homens são os provedores e as mulheres as responsáveis pelo o cuidado com os filhos e pelas tarefas domésticas. As cooperativas abalizam-se no principio da autogestão, entendida como gestão democrática, entretanto nos dois casos investigados, os homens responsabilizam-se pela administração da cooperativa e as mulheres pela a costura, reafirmando a idéia de atribuições masculinas e femininas. Nota-se que nas cooperativas além das formas precarizadas de trabalho, sem direitos trabalhistas e regulamentadas pela terceirização, existentes em outros ramos empregatícios, conclamam uma questão de gênero em que a mulher tida como força de trabalho barata precisa quebrar paradigmas da cultura machista para exercer alguma atividade laboral. A superação desses valores não perpassa apenas o âmbito estrutural, mas aspectos culturais e simbólicos que legitimam a sobreposição de um sexo a outro.

Instituição de Fomento: FUNDAÇÃO CEARENSE DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - FUNCAP
Palavras-chave: Gênero, Terceirização, Autogestão.