62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 6. Ciência Política
GÊNERO E POLÍTICA NA MÍDIA: UM ESTUDO DAS CARACTERIZAÇÕES DE POLÍTICOS E POLÍTICAS CITADOS NO NOTICIÁRIO POLÍTICO DA REVISTA CARTA CAPITAL, 2006-2008
Juliana Lima Maia 1
Flávia Millena Biroli Tokarski 2
1. Universidade de Brasília/ UnB - Instituto de Ciência Política
2. Profa. Orientadora-Universidade de Brasília/UnB-Instituto de Ciência Política
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho, parte de uma pesquisa mais ampla sobre a associação das questões de gênero com a mídia e a política, tem como temática principal as relações entre representação política e visibilidade midiática. Seu principal objetivo é analisar a sub-representação das ministras no noticiário político, em específico nas revistas semanais de grande circulação: Veja, Isto É, Carta Capital e Época. A partir do pressuposto de que as representações do mundo social e da política produzidas pelos meios de comunicação têm destaque na produção e reprodução de hierarquias, práticas e valores, investigam-se as posições ocupadas pelas mulheres no campo político no Brasil e sua visibilidade na mídia brasileira. Para compor tal análise, o estudo foi elaborado a partir de uma pesquisa mais ampla, que abrangeu todas as ministras que o Brasil já teve - retratando não só os momentos que elas atuaram como ministras - para então avaliar uma ministra em específico. Esta análise ocupou-se particularmente da análise de Benedita da Silva ao longo de toda sua trajetória na política, inclusive quando foi ministra.
METODOLOGIA:
A análise do noticiário parte de metodologia já testada em pesquisas anteriores. Foi feito um levantamento das matérias nas quais as ministras são citadas. Este foi realizado, primeiramente, por meio do sistema de clipagem da Câmara dos Deputados. Em seguida, a partir das datas de entrada e saída do cargo de cada ministra. Por fim, por amostras temáticas que permitiram a observação da presença das diferentes ministras nas revistas semanais. Para cada matéria foi preenchida uma ficha de análise, identificando os temas, os enquadramentos assumidos, a caracterização da ministra e sua "voz" nas matérias. Os dados foram inseridos em software apropriado, permitindo a observação de regularidades e diferenças na presença das ministras. Com os dados coletados, foi desenvolvida a qualificação da presença da ministra Benedita da Silva por meio da análise da correlação entre visibilidade e áreas temáticas e da análise discursiva das matérias, sempre em comparação com as outras ministras pesquisadas.
RESULTADOS:
Apesar de ter sido verificada a existência de padrões no tratamento dispensado às ministras nas revistas analisadas, permitindo análise das regularidades, foi possível observar uma diversidade de perspectivas no tratamento dado às diferentes ministras em um mesmo período/conjunto de matérias. No caso da análise da visibilidade da ministra Benedita da Silva, as principais temáticas relacionadas a ela estão ligadas à violência urbana no Rio de Janeiro no seu governo em 2002; à posse no ministério no governo Lula em 2003 e ao uso indevido de dinheiro público, ainda durante o seu ministério. Cabe destacar que há um enquadramento das mulheres como sendo mais cuidadosas e preocupadas com o bem-estar alheio do que o homem, isso as levaria a ocuparem cargos na política que permitissem o exercício dessas "habilidades". Desse modo, há indicações de que Benedita da Silva estivesse ligada a esse tipo de enquadramento, assumindo o Ministério da Assistência Social pelas razões já apontadas e por ter pertencido à classe pobre, portanto, estaria preocupada com o lado social.
CONCLUSÃO:
A pesquisa realizada indica certo grau de invisibilidade das mulheres nas revistas semanais. Esta invisibilidade se vincula à presença restrita em áreas de pouco prestígio político e midiático, associadas a estereótipos tradicionais de gênero, sobre o que se entende como feminino, caracterizando então uma presença marginal. A singularidade de sua atuação política estaria justamente em destacar um denominador comum feminino, que é acompanhado de análises valorativas e estabelecem as divisões entre comportamento apropriado e não apropriado. No caso da ministra estudada, Benedita da Silva, mesmo ocupando um ministério no governo Lula ligado diretamente a programas de assistência social (uma das prioridades em seu 1º mandato), ela na maioria das vezes é apenas mencionada nas matérias analisadas. Além disso, é caracterizada algumas vezes como indecisa e sem iniciativa e também como uma mulher que trabalharia "em favor dos seus", e isso se remete ao estereótipo de proteção e cuidado que caracteriza o feminino.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: mídia, gênero, representação.