62ª Reunião Anual da SBPC

A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física

INTERDISCIPLINARIDADE FÍSICA X MATEMÁTICA: AFINANDO OS DISCURSOS

Felipe Ferreira da Silva 1 Heloize da Cunha Charret 2

1. Escola SESC de Ensino Médio - Departamento de Matemática 2. Escola SESC de Ensino Médio - Departamento de Ciências da Natureza

INTRODUÇÃO:

A relação entre a Matemática e a Física têm sido alvo de vários estudos, tanto no campo do ensino de física, quanto no campo de ensino de matemática. Apesar das pesquisas atuais indicarem sem sombra de dúvida o papel estruturante desempenhado pela matemática no que diz respeito à formação do pensamento científico, a relação entre esses dois campos do conhecimento não tem se estabelecido em bases muito harmônicas. Neste trabalho analisaremos a construção de um curso eletivo de métodos matemáticos aplicados à física, elaborado conjuntamente por um professor de Física e um de matemática, o curso se propõe a abrir mão da visão intrínseca a cada uma destas disciplinas favorecendo uma visão que faça sentido para o estudante. O curso apresenta um currículo alternativo que foge da estrutura tradicionalmente apresentada tanto na física, quanto na matemática, abordando os processos matemáticos como ferramentas e as situações físicas de diversas áreas distintas como objeto de análise a ser explorado com a ferramenta desenvolvida. Nossas análises buscarão o gênero híbrido que se constrói no embate entre duas lógicas, tão próximas, mas com fronteiras tão sólidas. O que pode emergir quando nos dispomos a rachar tais fronteiras?

METODOLOGIA:

O presente trabalho se desenvolveu no âmbito dos estudos eletivos oferecidos na parte diversificada do currículo da Escola SESC de Ensino Médio, uma escola residência que atende a jovens de todo o Brasil. O curso de Métodos Matemáticos Aplicados à Física foi elaborado para atender aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio visando oferecer aos mesmos a possibilidade de entender processos matemáticos dentro de uma lógica operativa no contexto físico. Neste trabalho analisamos as escolhas feitas pelos professores ao construir o currículo do curso, buscando ressaltar a emergência de uma nova lógica não física, nem matemática, mas sim uma lógica funcional, centrada na compreensão do estudante. Através da comparação entre o currículo tradicional das disciplinas de Física e de Matemática no Ensino Médio problematizamos as motivações que norteiam a estruturação curricular das disciplinas envolvidas, indicando caminhos possíveis para a efetivação de uma parceria significativa entre essas áreas do conhecimento.

RESULTADOS:

O curso revela profundas diferenças curriculares em relação às estruturações tradicionalmente apresentadas no Ensino Médio. Temas de áreas distintas da Física, tais como, movimento uniforme, lei de Hooke e mudanças de escalas termométricas, são apresentados em uma mesma aula, já que são situações reais para a aplicação de uma determinada ferramenta matemática, neste caso, a função polinomial de primeiro grau. Em muitos pontos percebemos o quanto os professores abriram mão da lógica de funcionamento de suas próprias áreas de conhecimento em benefício dos alunos. O professor de matemática abre mão do rigor em diversos pontos do currículo, não lançando mão de muitas demonstrações formais e não se detendo a problemas vinculados exclusivamente à abstração matemática. A esmagadora maioria dos problemas e exercícios apresentados na aula é referente a situações físicas e estes são resolvidos pelos professores conjuntamente. Tais esforços acabam por apresentar um currículo totalmente interdisciplinar, favorecendo uma visão complexa da matemática totalmente conjugada com as representações de mundo trabalhadas nas diferentes Ciências da Natureza

CONCLUSÃO:

As escolhas feitas pelos professores na montagem deste currículo apontam um aprofundamento nas relações entre a física e a matemática, frequentemente uma parceria meramente operacional e neste caso, uma verdadeira fusão a serviço do desenvolvimento das habilidades dos estudantes. A análise da estrutura curricular do curso de métodos matemáticos aplicados à física aponta para uma forma integrada de pensar as demandas contemporâneas dos estudantes, materializada no trabalho de uma disciplina. Ao que nos parece, o olhar do especialista tende a ser muito restrito para pensar as necessidades dos jovens. Quando nos unimos na tarefa de planejar somos mais abrangentes e conseguimos ser mais realistas acerca da importância de determinados tópicos de nossos programas. Para além, do trabalho integrado desenvolvido no curso, a estrutura curricular do mesmo detém o mérito de transformar os conhecimentos matemáticos e físicos em ferramentas de análise do mundo.

Instituição de Fomento: Serviço Social do Comércio - Departamento Nacional

Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Ensino de Física, Ensino de Matemática.