62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 1. Biologia Molecular
INCIDÊNCIA DO VÍRUS DA INFECÇÃO HIPODERMAL E NECROSE HEMATOPOIÉTICA (IHHNV) EM FAZENDAS DE CAMARÃO DO LITORAL LESTE DO ESTADO DO CEARÁ, BRASIL.
Felipe Braga Pereira 1
Rodrigo Maggioni 2
Cândida Machado Vieira Maia Vila Nova 3
João Mafaldo de Oliveira Neto 4
Germano Fonseca Praxedes 5
Lidiane de Souza Romão 6
1. Universidade Estadual do Ceará (UECE)/ CEDECAM-LABOMAR
2. Prof. Dr. Orientador / Instituto de Ciências do Mar (Labomar) - UFC
3. Universidade Federal do Ceará - UFC/ CEDECAM - LABOMAR
4. Universidade Federal do Ceará - UFC/ CEDECAM - LABOMAR
5. Universidade Federal do Ceará - UFC/ CEDECAM - LABOMAR
6. Universidade Federal do Ceará - UFC/ CEDECAM - LABOMAR
INTRODUÇÃO:
A carcinicultura comercial é uma atividade de grande importância socioeconômica no nordeste brasileiro. Nesta região, está presente desde a década de 70, onde foi desenvolvida com espécies nativas e exóticas, com pouco ou nenhum retorno econômico. A partir da segunda metade da década de 90, a criação da espécie exótica Litopenaeus vannamei na região nordeste expandiu-se com base no conhecimento das necessidades físico-químicas e nutricionais deste peneídeo. Desde então, houve uma crescente preocupação com a incidência do vírus IHHNV nos cultivos. O vírus foi identificado pela primeira vez na fase juvenil do Litopenaeus stylirostris, cultivado no Hawai em 1981, onde causou a falência de 90% do cultivo de camarão. Desde então, o vírus foi detectado em outras fases da vida de peneídeos coletados nas Américas, Oceania e Ásia. O vírus da Infecção Hipodermal e Necrose Hematopoiética (IHHNV) é uma importante causa de doenças em cultivos de camarão, prejudicando a produção. Tem como principais sintomas a redução e irregularidade no crescimento, além de deformidades na epiderme, podendo causar a morte. O presente trabalho teve como objetivo analisar a incidência do vírus IHHNV na espécie Litopenaeus vannamei em duas fazendas de camarão do litoral leste do Estado do Ceará.
METODOLOGIA:
Amostras de 150 camarões, em duas classes de tamanho, 4g e 8g, foram coletadas em duas fazendas localizadas no estuário do Rio Jaguaribe, Ceará, nos períodos chuvoso e seco durante o ano de 2008. Para a extração de DNA, foram utilizados 40 a 50 mg dos pleópodos dos animais previamente macerados. A extração foi feita por meio da mistura comercial DNAzol (Invitrogen), seguindo as recomendações do fabricante. O diagnóstico foi realizado através de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) seguindo protocolo aceito pela Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE, 2003). Para amplificação do vírus IHHNV foram utilizados como oligonucleotídeos iniciadores (389F) 5'-CGGAACACAACCCGACTTTA-3' e (389R) 5'-GGCCAAGACCAAAATACGAA-3' que produzem um amplicon de 389 pb. As PCRs contiveram, em volume final de 25 µL, 200 mM dNTP's, 0,4 µM de cada primer, 2mM de MgCl2, 0,04U/µL Taq e 1 µL de amostra. Os parâmetros de termociclagem para detecção do IHHNV foram: desnaturação inicial a 95ºC/5 min, 35 ciclos de 95ºC/30s, 55ºC/30s e 72ºC/1min, extensão final a 72ºC/7min. A análise qualitativa da reação de PCR foi verificada por eletroforese em gel de agarose 2% corado com brometo de etídio. Ao final, o gel foi visualizado sob transiluminador UV e registrado por fotodocumentação digital.
RESULTADOS:
Análise de diagnóstico molecular por PCR evidenciou a presença de IHHNV em 44% das amostras coletadas nas fazendas do litoral Leste do Ceará. Em relação ao período chuvoso, observou-se que a Fazenda B, mais próxima do litoral, apresentou prevalências menores para ambas as classes de tamanho, 35,0% e 1,7%, respectivamente para 4g e 8g, em relação à Fazenda A, a qual apresentou 66,6% e 48,3% de incidência do vírus, respectivamente. A FAZ A apresentou a menor prevalência no período seco, para a classe de tamanho de 4g (31,7%), enquanto que a FAZ B apresentou a menor prevalência no período chuvoso para a classe de tamanho de 8g (1,7%). As diferenças na distribuição das prevalências por classe de tamanho e período podem estar ligadas a fatores ambientais (salinidade e temperatura) e de manejo (densidade de indivíduos por viveiro). O histórico de ambas as fazendas para o período indica uma diminuição da sobrevivência durante o período chuvoso, com uma queda contundente para a FAZ A. A maior prevalência de IHHNV foi efetivamente observada na FAZ A para o período chuvoso, na classe de 4g (66,6%). Por outro lado a FAZ B apresentou a maior prevalência durante o estio, na classe de 4g (65,0%), quando as densidades de estocagem atingiram os maiores valores ao longo deste estudo (38 cam/m2).
CONCLUSÃO:
Enfermidades virais emergem preferencialmente quando existe uma elevada carga viral no meio, em contato com uma população susceptível e que se encontra sob condições de estresse. O impacto na carcinicultura produzido pela presença da Infecção Hipodermal e Necrose Hematopoiética em camarões da espécie L. vannamei não é ocasionado primariamente pela mortalidade e sim pela fase crônica da enfermidade. Com a deformidade do animal, o valor do produto é depreciado, ocorrendo impacto cumulativo ao final do ciclo de cultivo da fazenda. Existe ampla ocorrência do IHHNV nas fazendas do litoral leste do Estado do Ceará, caracterizando-a como uma doença crônica na região. Dentre as duas fazendas analisadas, a fazenda A mostrou uma maior presença do vírus quando comparada com a fazenda B. A densidade de estocagem e a salinidade parecem ser fatores determinantes na distribuição do IHHNV entre as classes de tamanho e fazendas estudadas.
Instituição de Fomento: O projeto foi financiado pela FINEP-MCT, dentro da Rede RECARCINE; G. Praxedes é bolsista PET Engenharia de Pesca; L. Romão é bolsista IC-FUNCAP.
Palavras-chave: IHHNV, Litopenaeus vannamei , PCR.