A agricultura familiar é identificada como opção para o uso parcimonioso dos recursos naturais, de fixação do homem ao campo e da busca de elevação da produção agrícola saudável. Nesta adota-se a distribuição linear do plantio. A tecnologia de plantio circular é de origem diversificada, na Índia, no Paquistão, como estrutura de produção familiar. Sem essa denominação, os astecas já cultivavam em círculos, sob regime lunar e solar. O primeiro plantio circular brasileiro foi instalado na comunidade de Acauã, em 2001, como uma unidade demonstrativa e posteriormente 64 unidades produtivas. No Brasil atualmente o Projeto Mandalla, da Agência Mandalla, e o Projeto Pais, do Ministério de Desenvolvimento Agrícola, vem implementando projetos de agricultura circular, entretanto há poucas pesquisas sobre estas, monitorando indicadores socioeconômico e ambientais. O presente estudo de caso pretende fazer uma identificação inicial dos fatores que denotam sucesso ou fracasso dos projetos estudados, visando auxiliar na melhor implementação de futuros projetos de agricultura circular no semi-árido nordestino, a partir de observações na Comunidade de Acauã (Souza - PB), Frei Damião (Cajazeira - PB) e Umburanas (Ibimirim - PE).

Foi realizado estudo comparativo com dados coletados em setembro de 2005 e dezembro de 2008 em duas comunidades escolhidas levando em consideração os critérios de existência de agricultura familiar e circulares, estarem localizadas no semi-árido nordestino e terem perfil eminentemente voltado para a agricultura. Os dados secundários relativos ao perfil socioeconômico e tomando por base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo realizado fichamento. O levantamento de dados primários na pesquisa de campo por meio de entrevistas com roteiro e aplicação de 15 (quinze) questionários em cada uma das comunidades. A coleta de dados sobre a percepção ambiental se deu por meio de entrevistas com roteiro, fazendo-se a identificação de palavras-chaves, criando-se temas, sub-temas e categorias. A análise foi realizada no Statistical Package for Social Science - SPSS, com estatística descritiva e estatística inferencial, versão 4.0. Foram visitadas as estruturas circulares de produção agrícola e estudada a organização social, composição de forças presentes através da filosofia de centralização e inventário fotográfico. Este estudo foi realizado por docentes e discentes do Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe), da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Há diferenças quanto a estrutura dos sistemas observados. Todos adotam anéis circulares concêntricos, sendo 9, 8 ou 5, com princípios da agroecologia, agricultura orgânica e permacultura. Visto a baixa produtividade, há diversidade dos cultivares. Deve haver tempo de descanso da terra, adequação das técnicas de manejo evitando o revolvimento do solo, fazendo plantio direto. Os sistemas de irrigação e bombeamento são bastante artesanais e diferentes, sendo bomba rosário, micro-aspersores ou irrigação por gotejamento. Pode haver tanque central (para criação de peixes, patos ou marrecos), galinheiro, ou uma árvore. Há instalação de uma lâmpada sobre o tanque para atrair insetos à noite e alimentar os peixes, ao passo que em outro caso não se recomenda tal instalação, por atrair pragas para a plantação. Cada círculo é destinado a um conjunto de plantas, que são basicamente de hortaliças. Quanto a gestão, o estabelecimento de um modelo gerencial dialógico participativo se mostrou essencial para o sucesso da agricultura circular, buscando a democracia no processo de implementação e execução do programa, gerando um processo de empoderamento dos envolvidos. Onde este processo foi centralizado, houve decréscimo do comprometimento das famílias e posterior falência da própria Mandala.

Observou-se que há pontos essenciais para o sucesso do sistema circular na agricultura familiar, a saber: (i) respeito aos preceitos da agroecologia, (ii) observar a diversidade de cultivares, (iii) haver uma programação para a recuperação dos solos, (iv) observância as técnicas de manejo e conservação do solo, (v) efetiva assistência técnica, (vi) gestão dialógica do projeto e (vii) processos de empoderamento da comunidade. Uma atenção mais efetiva deveria ser dada a este sistema de produção visto a importância de se desenvolver boas práticas de produção no semi-árido brasileiro, assim como buscar formas de fixação do homem ao campo.