62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 5. Farmacognosia
ATIVIDADE in vitro DE EXTRATOS DE Myrsine sp. (MYRSINACEAE) EM FUNGOS PATOGÊNICOS HUMANOS
Renata Garcia Dusi 1
Camila Miranda Moura 1
Phellipe Norato Estrela Terra Theodoro 1
Mariana Laundry de Mesquita 1
José Elias de Paula 2
Laila Salmen Espíndola 1, 3
1. Laboratório de Farmacognosia / UnB
2. Laboratório de Anatomia Vegetal / UnB
3. Orientadora
INTRODUÇÃO:
As infecções fúngicas ou micoses tem aumentado drasticamente, particularmente entre imunocomprometidos e gravemente enfermos com câncer, SIDA, transplantados e em tratamento com quimioterapia. As várias espécies de Candida estão entre os micróbios mais frequentemente isolados em culturas sangüíneas em todo o mundo. Atualmente, C. albicans esta presente em 42% das infecções. Associada à potencialidade dos fungos gerarem danos ao homem, temos o fenômeno mundial de resistência fúngica aos agentes terapêuticos, com comprometimento do tratamento e elevação da mortalidade. Além da resistência dos micro-organismos e da alta toxicidade dos medicamentos, o tratamento pode se prolongar por mais de um ano. Em busca de compostos líderes, extratos vegetais do Cerrado foram testados em cepas de diferentes espécies de leveduras e dermatófitos.
METODOLOGIA:
Myrsine sp. (Myrsinaceae) foi coletada no bioma Cerrado, Brasília/DF (16°16'23.3'' Sul - 47°52'25.7'' Oeste). Uma exsicata foi depositada no Herbário da Universidade de Brasília sob o número (UB) 3795. Os órgãos coletados (folha, casca e madeira do caule, madeira da raiz) foram dessecados, estabilizados e pulverizados. Os extratos foram preparados por maceração nos solventes hexano, acetato de etila e etanol. Para os testes foi adotada a técnica de microdiluição segundo os protocolos M38-A para fungos filamentosos e M27-A2 para leveduras do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). A concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada em triplicata para leveduras: Candida, Cryptococcus, e isolados clínicos de dermatófitos: Trichophyton e Microsporum. Em uma placa de 96 poços com fundo em U foi adicionado 100 µL de meio RPMI, e 100 µL Itraconazol e Fluconazol, usados como controles positivos, ou dos extratos diluídos em meio RPMI, seguido da diluição seriada. Por fim, foram adicionados 100 µL de inóculo preparado a partir de solução salina a 0,85% padronizada a 0,5 de McFarland em uma concentração de 1,0 x 106 a 5,0 x 106 UFC/mL. As placas foram incubadas a 35 ºC por até 2 dias para leveduras e até 5 dias para fungos filamentosos, sendo a leitura realizada visualmente.
RESULTADOS:
Dentre dez extratos de Myrsine sp. testados, oito obtiveram CIM < 4 µg/mL em Candida albicans ATCC 10231. Itraconazol apresentou CIM de 0,5 e o fluconazol CIM de 2 µg/mL nesta cepa, enquanto o extrato etanólico da madeira do caule CIM de 0,48 µg/mL, e o hexânico e acetato de etila da madeira da raiz ambos CIM de 0,97 µg/mL. Os extratos acetato de etila da folha e casca do caule e etanólico da madeira da raiz mostraram CIM de 3,91 µg/mL em C. parapsilosis ATCC 22019. Os extratos hexânico da folha, etanólico da casca do caule e acetato de etila da madeira da raiz CIM de 3,91 µg/mL em espécies do complexo Cryptococcus. Em T. mentagrophytes e T. rubrum, o extrato etanólico de madeira da raiz mostrou CIM de 125 e 62,5 µg/mL. O extrato acetato de etila da casca do caule mostrou CIM de 62,5 µg/mL em T. rubrum. O extrato acetato de etila da folha CIM < 31,25 em T. rubrum, < 31,25 em M. gypseum e 62,5 µg/mL em M. canis. Não existe consenso na literatura sobre valor de CIM satisfatório para qualificar um extrato como promissor para o fracionamento. Alguns autores consideram que esse valor deve ser inferior a 1000 µg/mL, outros consideram somente CIM < 500 µg/mL, ou CIM menor que 250 μg/mL. Nosso grupo, entretanto, considera como critério de seleção, extratos com CIM ≤ 125 µg/mL.
CONCLUSÃO:
Os extratos testados foram, em alguns casos, mais ativos que os controles positivos sendo considerados muito promissores, sobretudo quando compara-se a molécula medicamentosa com um extrato bruto. Possivelmente o fracionamento do extrato permitirá o isolamento da substância com maior atividade em menor concentração. Dentre os extratos avaliados, podemos destacar os extratos acetato de etila da folha e o etanólico da madeira da raiz de Myrsine sp., por demonstrarem forte atividade in vitro com grande espectro de ação em leveduras e fungos filamentosos. Está em andamento o estudo químico biomonitorado desses extratos, a fim de se isolar as substâncias com capacidade antifúngica.
Instituição de Fomento: UnB, CNPq, CAPES, FAPDF
Palavras-chave: Myrsine sp., Antifúngico, Bioma Cerrado.