62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
A AIDS APÓS OS 60: UM DESAFIO PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.
Juliana Ferreira Gomes de Morais 1
Gabriela Carla Silva de Andrade 1
Liz Monique da Fonsêca Medeiros 1
Luana Sousa Fiorentino 1
Vanessa Umbelino Souza de Carvalho 1
Richardson Augusto Rosendo da Silva 2
1. Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi-FACISA/UFRN.
2. Profº.Dr./Orientador - Fac. de Ciências da Saúde do Trairi-FACISA-UFRN.
INTRODUÇÃO:

Atualmente, o crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1900 milhões de pessoas. No Brasil, segundo o censo de 2000, a população de 60 anos ou mais de idade configurava um contingente de quase 15 milhões de pessoas, correspondendo a 8,6% da população total. Neste contexto emerge a Aids, cuja tendência sugere que o número de idosos contaminados pelo HIV será ampliado, principalmente devido a vulnerabilidade física e psicológica, pouco acesso a serviços de saúde, além da invisibilidade com que é tratada sua exposição ao risco, seja por via sexual ou uso de drogas ilícitas. Com o aumento do número de casos notificados de AIDS em pessoas com mais de 60 anos, as intervenções comunitárias, que são fundamentais nesse contexto, são poucas e raramente avaliadas. Assim, pretendeu-se investigar as percepções sobre a AIDS para o desenvolvimento de programas de prevenção das DST e da AIDS neste grupo etário.

METODOLOGIA:

Trata-se de estudo descritivo de cunho qualitativo. A pesquisa foi realizada no Hospital Giselda Trigueiro (HGT), referência para o tratamento da Aids no Rio Grande do Norte. Os sujeitos do estudo foram dezoito portadores do vírus da imunodeficiência humana que eram cadastrados e acompanhados no ambulatório do referido hospital. Os critérios de inclusão foram: terem o diagnóstico médico confirmado de portadoras de HIV; terem 60 anos ou mais e estarem em consulta no ambulatório do Hospital, no dia da entrevista. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para garantir o anonimato dos participantes, seus nomes foram substituídos por números. Os dados foram coletados entre setembro e dezembro de 2009, utilizando-se de uma entrevista semi-estruturada. A análise dos dados está ancorada nos autores que discutem a dinâmica das representações sócias.

 

RESULTADOS:

Entre os achados do estudo, destacam-se a falta de informação quanto às vias de transmissão do HIV e o baixo nível de conhecimento em relação às DST. O uso do preservativo não faz parte da realidade cotidiana desta faixa etária da população. A não-utilização deste é atribuída a: estética, alto custo, medo de perder a ereção, perda de sensibilidade. Outro ponto apresentado na pesquisa é o forte sentimento de culpa, vergonha e ressentimento que os portadores do HIV com mais de 60 anos têm comparativamente com os grupos etários mais jovens e em igualdade de situações. O fato de a sexualidade e uso de drogas nesta faixa etária serem tratados como tabus, tanto pelos idosos como pela sociedade em geral, contribui para que a Aids não se configure como ameaça, levando os profissionais de saúde a não solicitarem o teste HIV nos exames de rotina, também em decorrência da associação dos sintomas a outras doenças crônicas, ocasionando diagnóstico tardio, uma das principais razões de morte precoce. Entretanto é o apoio emocional ao paciente, ajudando-o a lidar com as questões de ordem afetiva, fundamentais para a adoção de práticas voltadas para o autocuidado, que ainda sofre conseqüências do despreparo que envolve o trato psicossocial da doença.

 

CONCLUSÃO:

A prevenção às DST/AIDS entre os maiores de 60 anos é algo muito complexo e representa um desafio para as atuais políticas de saúde pública que concentra sua atenção na população jovem (entre os 20 a 34 anos). Tornar a sexualidade um assunto do dia-a-dia, tanto de idosos soropositivos como nos soronegativos, é fundamental para se acabar com o mito de que o idoso é assexuado. Isso deve ser feito principalmente pelos profissionais de saúde que, começando a abordar assuntos desse tipo, irão estimularem os idosos a também discorrerem sobre eles, sendo importante ainda o encaminhamento desses pacientes a outros profissionais, a fim de se trabalhar questões que vão além do tratamento medicamentoso. Os programas de prevenção do HIV devem considerar também aspectos psicológicos, socioecómicos e culturais que interferem na vulnerabilidade deste grupo etário, antes e depois da infecção. Para haver maior alcance de suas ações, os programas devem desenvolver-se nos locais frequentados por estes e utilizar uma linguagem específica para este grupo.

Palavras-chave: AIDS, Prevenção, Terceira idade.