62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
CARACTERÍSTICAS DOS LAÇOS DAS REDES SOCIAIS: COMPARAÇÃO ENTRE ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS
Rayanne Kely Alves Ferreira 1
Cris Hellen Xavier Carvalho 1
1. Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:
As redes sociais são uma forma de conceituar a organização que se configura na captação do cruzamento de aspectos, estáticos e dinâmicos, e centra-se nas ligações entre os sujeitos ao longo do tempo. Estes estão vinculados por meio de um laço relacional que pode adquirir diversas formas. Mark Granovetter (1973) desenvolveu um modelo onde as características dos laços variam com o tipo de conteúdo a ser transacionado nas redes sociais, com o tipo de relações sociais, formais ou informais e com o tipo de atividade de trabalho em que as redes sociais são desenvolvidas. Foram analisados os laços sociais existentes, classificando-os como laços fracos e laços fortes. Para ele, os laços fracos são aqueles nos quais há um baixo investimento de todas as pessoas envolvidas. O autor ainda discorre sobre a importância de se manter laços fracos em uma organização, pois eles aumentam a possibilidade de uma pessoa ter maior mobilidade na organização e apresentam como resultado um maior compartilhamento das informações referentes à organização. O objetivo desse estudo é verificar se o modelo proposto por Granovetter é válido nas organizações do contexto nacional, principalmente comparando organizações públicas e privadas.
METODOLOGIA:
Amostra: Os dados foram coletados em duas empresas. Uma delas foi uma escola pública de ensino fundamental do Distrito Federal e a amostra total nela foi de 32 pessoas. A outra foi em uma empresa privada do ramo alimentício que faz parte de uma linha de alimentos refrigerados cuja amostra foi composta por 26 pessoas na rede de afetos e por 58 na rede de comunicações. Instrumento: O instrumento aplicado foi uma versão adaptada do questionário de Vieira (2008), composto de duas partes: 1) Questões sobre rede de amizade, 2) Questões sobre rede de informação/comunicação. Além do questionário, o participante recebeu uma lista código com os nomes dos colegas de trabalho e o objetivo desta foi manter o sigilo e o anonimato das respostas emitidas pelos participantes. Procedimeto: O questionário foi aplicado ao longo do horário de trabalho dos empregados nas empresas estudadas. As pessoas receberam os questionários e a lista com os nomes e os códigos dos funcionários. Após a coleta os dados foram analisados com o auxílio do programa Ucinet 6.232 for Windows.
RESULTADOS:
Os dados obtidos na empresa privada, no que se refere à rede de comunicação, demonstram que ela proporciona poucas possibilidades para a expansão da rede. Entre os possíveis 149.000 laços, houve apenas 0,4% de utilização. Dessa forma, pode ser vista como uma empresa sem expansão de fronteiras. A rede apresenta ainda pouca densidade (0,4) e não há a presença de subgrupos na rede. No que se refere à centralidade, 10 pessoas foram as que demonstraram os níveis mais elevados e dentre elas nove foram consideradas as mais poderosas da empresa. Ainda em relação a empresa privada a rede de amizade possui poucos laços fortes e foi encontrado nenhum subgrupo na rede. Esta não apresenta centralidade e o poder é distribuído quase que igualitariamente entre as pessoas que a compõe. Já na escola pública a rede de comunicação possui um subgrupo e os dados revelam quatro pessoas com altos índices de centralidade. E destas apenas uma detém mais poder e os outros participantes da rede possuem basicamente o mesmo índice de poder. No que se refere a redes de amizade essa apresenta quatro subgrupos e tem sua centralidade difusa por 18 pessoas. Porém o poder está centralizado em apenas uma. Essa rede é a que possui laços mais fortes dentre as analisadas.
CONCLUSÃO:
As instituições analisadas não corroboram o modelo proposto por Granovetter em que ele propõe que os laços fracos tendem a possibilitar uma maior interação entre os sujeitos e também um maior compartilhamento de informações. A rede de comunicação não possui bons índices de densidade e distâncias, apesar de possuir muitos laços fracos. Nenhuma das redes apresentou bons índices de compartilhamento nas organizações. Na empresa privada, em que os laços fracos são predominantes não há uma grande interação entre os funcionários em ambas as redes analisadas. Na empresa pública em ambas as redes há a presença de uma pessoa que controla o poder. Na rede de amizade estão presentes quatro subgrupos, o que não ocorreu em empresa privada. A escola apresenta redes com os laços mais fortes, embora alguns atores apresentem laços fracos. Estes podem ser explicados pelo fato de que alguns funcionários estão na escola por mais de 16 anos e alguns eram recém contratados. Esse estudo, entretanto possui algumas limitações. Entre elas a diferença do objetivo das duas empresas - alimentação e educação - e ainda uma amostra pequena. Em estudos futuros, deve-se buscar sanar essas limitações. Maiores estudos nessa área devem ocorrer, pois é importante ter conhecimento acerca das redes sociais para que seja possível realizar intervenções nas organizações.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Palavras-chave: Redes Sociais, Laços , Comparação entre organização pública e privada.