62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 3. Enfermagem Médico-Cirúrgica
MORTE NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL (UTIN): A VIVÊNCIA DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
Fernanda Aparecida Soares Malveira 1
Luanna Daniella Oliveira 1
Gabriel Jefferson Noberto de Oliveira 1
Diana Paula de Souza Rêgo Pinto 1
Laureana Cartaxo Salgado Pereira Silva 2
Raimunda Medeiros Germano 1
1. Depto de enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Secretaria Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte - SESAP/RN
INTRODUÇÃO:
É sobre essa complexidade que envolve o tema da morte que pretendemos dialogar, relacionando-o ao contexto hospitalar, na assistência ao recém-nascido grave, no que se refere primordialmente aos sentimentos que vivenciam os profissionais de saúde diante da morte de crianças, em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN). Essa dificuldade acompanha o homem, as famílias, os profissionais da área biomédica, no âmbito hospitalar e também domiciliar. Assim, em nosso estudo, dirigimos a atenção para os profissionais de enfermagem que lidam diariamente com a morte de recém-nascidos (RN) em UTIN. Portanto, mediante essas questões polêmicas, que permeiam o nosso cotidiano hospitalar, e compreendendo a necessidade de melhorar a condição de quem cuida, bem como a assistência prestada a recém-nascidos e familiares frente à morte, indagamos acerca da vivência e dos sentimentos dos profissionais de enfermagem em unidades de terapia intensiva neonatal, diante da experiência com a morte de crianças. Portanto, são objetivos deste estudo: compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem de uma UTI neonatal, diante da morte de recém-nascido e descrever a vivência de profissionais de enfermagem em unidade de terapia intensiva neonatal diante da morte.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa e cunho fenomenológico, objetivando compreender a experiência vivenciada pelos profissionais de enfermagem de uma UTIN, no que se refere aos sentimentos diante da morte do recém-nascido. A investigação teve como cenário a UTIN de dois hospitais públicos do Estado do Rio Grande do Norte, na cidade de Natal, sendo um deles militar. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP / UFRN), conforme protocolo nº 202/06, em 24 de janeiro de 2007. Participaram do estudo doze profissionais de enfermagem que desempenham suas atividades profissionais nas UTINs selecionadas para a investigação. Dentre os participantes, seis são enfermeiros e seis técnicos de enfermagem. A coleta de dados foi feita através da técnica da entrevista de natureza fenomenológica. A partir da análise dos dados, vislumbramos os principais sentimentos que envolvem os profissionais diante da morte em UTIN, categorizados da seguinte maneira: culpa, fracasso e negação.
RESULTADOS:
Da essência de suas falas, foram identificadas as unidades de significados, as quais expressaram uma diversidade de sentimentos comumente acompanhados de dor e sofrimento. O esforço de compreensão desta realidade empírica foi alicerçado por autores que direta ou indiretamente abordam o tema, ou se preocupam com a condição humana, em suas várias dimensões. Tais sentimentos foram alinhados em três categorias temáticas, a seguir: Culpa, Fracasso e Negação. No espaço onde o profissional de enfermagem trabalha, dispensando uma enorme atenção no sentido de desenvolver técnicas para prolongar a vida, como no caso de uma UTI, outros sentimentos emergem, permeando a atmosfera de sua luta laboral, afetiva e emocional ligados a uma impotência desconcertante que nas falas identificamos como fracasso, frustração, fraqueza e incapacidade. Esse aspecto de sentir-se derrotado pela morte advém da cultura ocidental, influenciada pelo capitalismo que, fazendo apologia ao consumismo, torna a morte inimiga do homem. Todos esses sentimentos que emergem da subjetividade dos profissionais de enfermagem são inerentes ao ser humano, refletindo seu encontro com a sua humanidade.
CONCLUSÃO:
Considerando ser a morte parte da vida, faz-se necessário a realização de outras pesquisas que contribuam com essa área do conhecimento, no que diz respeito às condições dos profissionais de áreas especializadas que lidam diariamente com a finitude, como a UTI neonatal. Esse espaço por si só já é dotado de uma complexidade no manejo das condições clínicas, em geral bastante comprometidas, dos pacientes, exigindo do profissional de saúde um padrão de excelência no domínio de conhecimentos e habilidades específicos, por vezes, negando sua subjetividade. Identificamos que a vivência diária dos profissionais de enfermagem em UTI neonatal não era suficiente para prepará-los para a morte de um recém-nascido, visto que afloraram sentimentos como culpa, fracasso e negação da morte, representando dificuldade em lidar com a transição vida/morte. Assim sendo, o desgaste numa luta laboral e tecnológica incessante contra a morte nem sempre surtirá efeito no prolongamento da vida do recém-nascido, devendo a equipe de saúde estar preparada bem como preparar os familiares da criança para seu possível, inevitável e iminente falecimento. Essa postura é dotada de grande complexidade por demandar uma re-significação acerca da morte, do morrer e da existência.
Palavras-chave: Morte, Recém-nascido, Terapia intensiva.